quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Standing Rock rocks!

Porque me é cara esta causa vou contar a história.

Resistir pacificamente não é uma acção fútil nem vã!

A terra está a ser violentada. Tem as riquezas à mostra por baixo da mini-saia que veste para nos abrigar. Mostra-as para que nos sirvamos e, com as suas riquezas, seremos capazes de dar sentido à existência humana. Solo fértil, água, oxigénio, comida, abrigo.
Mas nunca pediu para dela abusarmos...isso é coisa inventada por seres fétidos sem ética nem moral.
Standing Rock é terra Índia que está a ser trespassada, violada, roubada.
Eles defendem-na e protegem-na como eu e tu faríamos se fosse a nossa casa.
Temos a obrigação de ajudar a defender e de a proteger, porque também é a nossa casa.

O Sonho,
Portas que se abriam…os seus ancestrais fixavam-na com olhos carregados de tristeza. Cada porta que abria, mais ancestrais apareciam e fixavam-na tristes.
Viu a sua avó, deitada numa mesa embrulhada num cobertor branco. Ouviu a sua voz “Venham todos. Olhem para o tratado”.

Faith Spotted Eagle acordou, abriu os olhos e ficou a pensar no sonho que tinha acabado de ter. Não o entendeu.
Faith Spotted Eagle é uma mulher índia de idade, veste-se como a sua avó que viu no sonho, com saias coloridas compridas a roçar os tornozelos e, coletes de franjas.
Mas quando coloca os modernos óculos escuros transforma-se na vilã vingadora de Dakota.
Pensava no sonho.

As Profecias,

Búfalo branco sentado contava: virá uma criatura- black snake- que se erguerá das profundezas do chão sagrado, trazendo com ela destruição e muita tristeza, se não for destruída através da união de todas as tribos.
Por muitos e muitos anos os Índios não souberam explicar a profecia da Cobra negra, nem quando esta se manifestaria,
A Profecia da sétima geração contada de geração em geração, prediz o tempo em que jovens se irão levantar e juntar com outras gentes à frente de um movimento de protecção e defesa da terra para que esta possa continuar a ser habitada. Na sétima…

Faith Spotted Eagle viu diante de si o “pipeline” da Keystone XL levando e vertendo o veneno negro a correr nas veias das suas terras…por onde passasse destruiria a água fonte da vida. Por onde passasse destruiria a vida…
Era essa a cobra que tinha de ser destruída. Rapidamente agiu. Corria calmo o mês de Janeiro de 2013.
Era urgente fazer respeitar os tratados que foram sendo persistentemente quebrados ao longo dos anos e, de novo desrespeitados pela Keystone XL uma gigante corporação de exploração de petróleo, entre outras.
Buscar o apoio não apenas das tribos, mas de todos os homens, mulheres, comunidades, associações, organizações, cowboys, veteranos, gente de paz. Em nome da terra o movimento Rejeitar e Proteger lançava profundamente as suas sementes.
Urgente parar a construção da veia que espalharia veneno pelas veias da terra…
A sétima geração, de imediato, sentiu ter chegado o momento de agir em defesa do seu futuro. Guiados, protegidos e em nome dos seus ancestrais. Mobilizaram-se. Pediram ajuda, organizaram-se. Sem precedentes a mobilização e o apoio vinha de todos os cantos individuais e organizados, de nativos e não nativos. Cruzou fronteiras. Na linha da frente os jovens opunham-se e defendiam a sua casa e dos seus ancestrais.

O Búfalo
Em Standing Rock, após uma longa noite de frio, de cânticos e orações, o amanhecer trouxe detenções em massa, espancamentos, balas de borracha, feridos e ataques com cães - como noutros amanheceres em que durava esta acção de resistência pacífica - por parte de uma polícia paga com os impostos de todos que a todos deveria proteger, mas trouxe também, para espanto dos milhares de olhos, vinda de nenhuma parte, a perder de vista, uma manada a de búfalos selvagens.
Os índios têm uma tradição espiritual com estes animais que oferecem alimento e protecção - acreditam ser uma oferenda do Grande Espírito - desde que sejam livres e abundantes, a soberania dos índios permanecerá forte e assegurada.
Este foi um sinal espiritual de vitória e da presença ancestral de todas as famílias que Faith Spotted Eagle viu no seu sonho. As portas que se abriam…

Dia 4 de Dezembro de 2016, dia histórico, os protectores viram o pequeno feixe de luz que a brecha deixou entrar com a ordem de imediata paragem de construção da cobra negra vinda da administração Obama por um decreto presidencial.
Seres humanos há que não silenciam o mal nem o negligenciam.
Agem sobre ele resistindo-lhe com boas acções mesmo tendo que morrer.
Tenho sorte por estar a assistir à História que se está a escrever.
Para viver em paz de pouco precisamos. Os Índios são os genuínos defensores de valores simples, de uma vida integrada com a natureza da qual todos somos parte e que todos queremos ver restaurados.
A força desta união mostra o bem de que somos capazes em confronto com o mal que corre nas veias humanas.
Os Índios foram mortos aos milhares e ainda hoje resistem pacificamente. Sem acções terroristas sem espalhar medo nem terror. Talvez sejam eles o povo eleito. Dão-nos lições de paz. Por isso a sua história me é tão cara.
Talvez numa vida qualquer tenha sido um índio. Ou uma águia. Ou um búfalo.
Depois de Standing Rock os índios nativos já não estão sozinhos. Nunca mais estarão.
A natureza vive sem nós mas nós criaturas humanas não vivemos sem ela.
Os acordados juntaram-se e nunca mais vão deixar de sonhar.

A luta vai continuar. Standing Rock representa-nos a todos.
I stand like a rock with Standing Rock. And it rocks!

domingo, 13 de novembro de 2016

Carta ao optimismo

Escrevi uma carta, entreguei-a às crianças em mim que a colocaram no marco do correio.

Caro amigo, amigo poético optimismo, ser angélico, frágil, sem ossos, envolto nas penas dos meus pesares.

Um dia matei-te. Agradeci-te a coragem de teres vivido entre os meus altos e baixos e cansei-me de ti. Foi recíproco que eu bem senti isso de ti como também da tua amante a sempre esperançada esperança. Passei a viver nuns dias sim, noutros dias não, outros ainda, nem por isso. Vou para onde o vento me quer. Mas até ele sabe que só vou se eu quiser.

Sentada neste banco gelado pela neve da manhã, solto ar e vejo que no fumo branco que sai um sinal de que havemos sempre de ter esperança. E optimismo.
Nota que hoje falo assim, amanhã não sei.

Escrevo-te para me distrair no morno domingo entre livros, histórias, conversas e portas fechadas aos tremores do mundo.

Numa malga em banho-maria de pensamentos sem forma, no vazio me deixo vadiar. Acolho as primeiras visitas, feitas pensamentos, ofereço o braço, uma cadeira, e, lentamente a vaguear ficamos entre as folhas caídas de pequenos nadas. Falamos de ti e como a tua lembrança ocupa os espaços convidando "poema a manhã", eu em transbordância de poesia, transporto-me antes que a demência do mundo me consiga mudar.

Pergunto-me se o mundo existe para que os homens o envolvam em abraços de poesia, mas perante a sua esquálida feíura, o medo que o invade, de medo mortificado, desconfio de ti amigo optimismo que sempre me insuflaste de cores.

Angustia-me o odor a morte que o vento traz, de outros lados do mundo. Ofendem-me os acontecimentos que levaram as vidas das pessoas à loucura, aos suicídios, causados pelos delírios nauseabundos da ganância de uns quantos atraídos pelo cheiro a sangue que vem da morte. Essas tristes hienas que causam horror.

E tu aí sentado desse outro lado do banco, olhando trocista com o sonho delirante de querer rasgar por uma qualquer fissura e fazer entrar uma luz redentora…o amor é fácil diz o teu olhar…destapa...rasga o véu...

Mas...não fomos sempre assim maníacos da guerra, delirantes pelo sangue dos outros? Repetimos padrões do mal, esquecemos pequenos momentos do bem, e matamos a esperança de viver em amor.
Auden escreveu <precisamos amar o outro e morrer>. A segunda condenação - certeza imposta ao nascer- com frequência esquecemos, enquanto a primeira esquecemos que tem a urgência de apenas ser sentida.

Somos Eros e pó. Paixão e pó – das estrelas – e a elas voltamos. Nunca o tempo de vida é suficiente para sabermos das suas razões. Mas vou acreditar que seja por paixões.

Tenho vontade de deixar a gravidade me arrebatar e me puxar para os teus braços. Às palavras me abraçar. Nos meus pequenos nadas me deixo ficar a vaguear.
Na bipolaridade de ser morte e esperança, não extingo a chama que em mim escapa com vida, consumindo oxigénio, e, na poesia chamada esperança, de um renascido optimismo, que nunca de migalhas de sonhos aceitará viver, apenas de esperanças inteiras se terá de fazer. Fujo para lá de ti.

Porque amanhã, meu caro amigo optimismo, o sol estará vivo e a brilhar e eu viva vou ainda acordar num mar de abraços teus para me confortar.

Tudo o que queremos, está do lado de lá do medo. Vou despir a minha alma, atirá-la para a corda de secar, deixando-a ficar a arejar. Até que de sonhos eufóricos, por ti emprestados, cheirando a fresco e a lavado eu me possa vestir. E talvez te possa fazer renascer.

Sem mais, traz-me um novo sonho eufórico sob a forma de esperança. Despida de medo. Esse é o teu trabalho nas nossas vidas.
Recebe muito carinho meu, que vem do calor que sinto sempre que te abraço.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Crónica de uma conferência

"Quando se tenta arrancar a língua de um ser humano não estamos a provar que este mente, antes dizemos ao mundo que tememos o que este possa dizer" George RR Martin, A Clash of Kings
A Medusa - A bela e aterrorizadora União Europeia
"Imaginem-se vestidos com um fato espacial a passearem na Lua. Já lá estão? Então agora tentem tirar o capacete para procurar encher os pulmões de oxigénio. O que é que acontece? Claro, não vão retirar o capacete porque sabem que na Lua não existe oxigénio."
Com esta alegoria, com mais ou menos estas palavras, Yanis Varoufakis começou a conferência para a Democracia e Transparência ao se assinalar o dia internacional do Refugiado (dia de hoje, verdadeiramente dramático) e os 4 anos completos de vida de Julian Assange num exílio forçado (refugiado) na Embaixada do Equador em Londres.
Tentarei fazer um resumo de uma longa e inspiradora conferência que decorreu em Bruxelas, no Centro das Belas Artes, em simultâneo com várias cidades do mundo.
A alegoria de Varoufakis serviu para mostrar o que é hoje a União Europeia. E o mundo em geral.
Há quem diga que hoje a UE está deficitária em democracia...pois de facto é como a lua sem oxigénio. Simplesmente a democracia não existe.
Palavras pronunciadas por um Homem que não quis ser um insider (tendo recebido o convite) e se tornou um outsider para a denunciar e mudar o curso da História. Uma bela União de países que não sendo irmãos (mas família certamente) se construíram por guerras, anexações, profundas divisões, contracções e expansões, de circuitos migratórios intensos e dolorosos (como nas famílias). No final de duas Guerras mundiais desesperavam os povos europeus. Precisavam de um sério interregno de Paz e crescimento. Na base da fundação estaria a democracia e a transparência. Hoje, a medonha Medusa mostra a sua fealdade. A União está prestes a desintegrar-se. Ou...Juntos evoluímos. Separados perecemos.
Abro um parêntesis para uma pequena explicação: de há uns anos a esta data, o mundo tomou um caminho dominado por elites que através de uma "doutrina de choque" ,teoria capitaneada por Friedman da escola de Chicago e executada do Chile ao Iraque passando pela Líbia, até à Russia, China e União Europeia foi vingando e vingando-se nos seus povos. Neste campeonato ganha claramente a ditadura do choque. Aconselho a leitura do livro de Naomi Klein (Doutrina de Choque) para entender o percurso, mas certamente ele tem estado a ser vivido por todos nós que sentimos na pele os efeitos subversivos do choque de invasões brutais, guerras, austeridade e implementação de um capitalismo medusiano, que nada mais tem feito que política de terra queimada, deixando-nos prostrados, em choque, sem força anímica para ripostar.
E aqui regresso à conferência, porque aqui entramos na "Resistance" vestida na figura de Assange, Snowden, Manning e tantos outros que se viram perseguidos, mortos, presos, vigiados, refugiados, com a vida presa por frágeis fios, à mercê de quem tem medo do que estes possam revelar. E se têm revelado!
Assange (como os demais), vivem um processo Kafkiano.
Foi de lágrimas nos olhos, emocionado, que Assange entra em directo connosco e nos deixa um testemunho anti super- herói, cujos super poderes residem na esperança, na continuidade e nos laços de amizade de quem não deixa que a sua vida se quebre. Ou o seu espírito. Que continua a trabalhar para desvendar segredos de quem fala e decide políticas em nosso nome, tudo fazendo ao seu alcance e além, para que nós, o povo, nunca chegue a ter conhecimento.
Varoufakis relembrou o recente "leak" do Wikileaks de Assange sobre a conversa tida entre a representante grega e o FMI sobre as medidas adicionais de austeridade. Se não fossem estes super-heróis da Resistência contemporânea como poderíamos ter acesso a todas as tramas?
Não existe transparência nas Instituições que nos representam e que falam e assinam acordos em nosso nome. Os homens e as mulheres, insiders, guardam os segredos e estão proibidos de os revelar. Isto é um facto e não uma mera suposição. O acordo do TTIP é o exemplo mais recente.
Mas é graças a estes homens e mulheres super heróis e anti heróis, que dão a vida em nosso nome, que vivem presos e/ou exilados e/ou que limpam um pouco da opacidade do espelho, que hoje eu posso assistir a uma conferência onde se fala abertamente e se exige o regresso à transparência e à democracia na Europa. Eles correram os riscos e continuam a corrê-los. Nós somos apenas culpados, se conhecendo a verdade, não optarmos por tomar a pílula vermelha, aquela que representa a liberdade. Como mencionaram Yanis Varoufakis e o filósofo Zizek este último numa intervenção emocionada e emocionante.
Falemos de Assange, falemos de todos estes heróis contemporâneos que é a forma de manter a sua resistência presente.
Vivemos na escuridão da caverna de Platão e eles ofereceram-nos a visão da saída da caverna.
O jovem filósofo da ex -Jugoslávia Srecko fez diversas intervenções importantes, entusiasmantes e carregadas de emoção lembrando numa delas a mensagem de Ghandi e como ela é representada por Assange: "Seja a mudança que quer ver no mundo".
E ele é-o. Os resistentes são-no.
Cada um de nós pode e deve ser também. Srecko lembrou-nos o poema de Niemoller "primeiro vieram pelos comunistas e eu fiquei em silêncio porque não era comunista...". Martin Niemoller, pastor luterano alemão e apoiante nazi, acabou por ser levado para o campo de concentração de Dachau onde escreveu este poema.
Se calamos, um dia, quando nos vierem buscar, poderá não haver ninguém para nos defender.
Por Srecko, que enfatizou diversas vezes que a nova política tem de ser de esperança, continuidade com base nos laços de amizade, ficámos a saber a diferença entre cães e gatos:
- "porque um gato não trabalha para a polícia"!
Por esta razão Assange agora tem um gato por companhia no seu pequeno apartamento na Embaixada altamente vigiada pelo MI6, FBI,CIA, NSA, MOSSAD e quejandos, do pequeno valente país que lhe ofereceu refúgio, o Equador.
Assange expõe os segredos de uma elite perante o mundo. Esse é o seu "crime". Se não fosse por medo do que pode e tem revelado os donos do mundo não lhe queriam cortar a língua. Nem teriam necessidade de esconder as tramas que urdem.
Sobre a sua prisão as Nações Unidas já deliberaram e pronunciaram sendo a conclusão a de uma prisão arbitrária. Para explicar detalhes da opacidade de todo o processo Kafkiano, um dos advogados da sua equipa de defesa esteve presente a explicar alguns dos contornos maquiavélicos onde a Suécia é desnudada sem romantismo.
Arundhati Roy, a premiada escritora indiana escreveu uma carta, lida por Srecko, onde pedia a libertação imediata de Assange vinculando-a à declaração das Nações Unidas. De todos vem a mensagem de esperança e de não silenciar estes nossos heróis.
"Poli" do latim significa "many"(muitos) em Inglês. "Tics" traduzido do inglês significa criaturas que sugam sangue. "Politics" são estas criaturas que nos sugam globalmente o sangue, com tratamentos de choque. Metafóricos e literais. A eles se contrapõem estes heróis contemporâneos que desvendam a opacidade dos conluios, acordos e esquemas através das suas corporações, bancos, medidas de austeridade e guerras impostas e desta união europeia, sem terem mandato para os segredos que escondem.
Varoufakis, o homem que se recusou a tornar um "insider" dentro da opaca UE, criou um movimento DIEM25, o movimento que quer de forma horizontal na área geográfica da Europa,deitar-lhe o conteúdo de voltar a deixar entrar a democracia e a transparência dentro da sua própria casa,de onde foram expulsas.
Yanis Varoufakis terminou falando do acrónimo que criou contrapondo-o ao acrónimo TINA da UE (There Is No Alternative - que tanto ouvimos dos nossos políticos ).
TATIANA (Tough Astonishingly There Is An Alternative).
Há um provérbio africano que reza simplesmente : quando todas as teias se juntam podem amarrar um leão.
As aranhas da Europa, berço da democracia, de Medusa- se quisermos- podemos renascer Tatiana´s.
Da conferência, com o mundo virado ao contrário, fora do eixo, com a Europa a desintegrar-se, saí inspirada para ver o parto de uma Europa utópica e não distópica como a que vivemos. As parteiras estão a juntar-se.
A conferência demorou duas horas e meia e a minha capacidade de síntese tornou-se opaca. As minhas desculpas pela extensão do artigo.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Juntos nos elevamos, sozinhos desaparecemos


Quando nascemos a primeira coisa que fazemos é inspirar oxigénio profundamente e gritar com o susto que nos impõe. Rapidamente perdemos a memória desse primeiro momento avassalador de uma vida fora do útero. Tiraram-nos do único lugar seguro, escuro, onde a vida é apenas paz e decorre sem sobressaltos. Queremos para esse lugar voltar de cada vez que a morte de alguém que amamos nos toca, quando a rejeição nos persegue, quando a solidão nos deixa desarmados, quando a força nos foge, quando a segurança está ameaçada. Depois...
Vou dizer um cliché das lições que tenho aprendido, o homem nasceu para viver em tribo. Em nome de segurança, força, e sobrevivência. Sozinho, atirado aos elementos da natureza e aos elementos contra natura sobreviverá pouco, ou morrerá por dentro, ou tornar-se-à um louco criativo desligado do grupo e funcionará apenas para a sua própria sobrevivência numa morte lenta e dolorosa.
Observando a vida de uma cidade frenética abano a cabeça parabenizando os génios da criação da vida pós-útero.
Foi de génio a ideia de desligar as pessoas umas das outras desligando-as também dos elementos naturais, desligando-as e separando-as das famílias por razões de trabalho (em altíssima intensidade), estudos -alguns sem finalidades construtivas ou reais-, dinheiro, dívidas, tudo isto em nome da veneração à máquina de consumo, propaganda e poder. Muitos ficam loucos, perdem a criatividade, não têm a força do outro nem encontram segurança, ambas necessárias para a sobrevivência. Perecem simplesmente. Quando o ser humano finalmente consegue parar para descansar e aproveitar, está exausto. E morre. Enquanto tudo isto ocorre uns poucos vão destruindo o único lugar conhecido com o oxigénio que inspiramos para existir. Tal ideia é de génio.
Foi genial impôr sistemas educativos formatados, obrigatórios, iguais para todos. Todos entramos diferentes e acabamos a pensar num modelo igual e se sairmos do esquema-a caixa-somos obliterados pela máquina montada e, completamente ostracizados. Este modelo da solidão não é suportável para o ser humano por isso acatamos serenamente. Sabemos intuitivamente que nascemos para viver em tribo.
Tornamo-nos passivos, agressivos e apáticos. Fáceis de manobrar. Ideia genial.
Foi genial criar hierarquias e grupos de poder. Os privilegiados e os outros. As elites e os outros. Morte sem viver e viver para ver chegar a morte é o único destino no caminho dos outros pensaram os génios.
Os génios por esta hora riem-se felizes e deixam os outros atarefados com as suas provas olímpicas de sobrevivência, entre algum entretenimento e veneração nos lugares de culto e adoração criados por outros génios. Absolutamente genial.
Como me lembrou um filósofo, cada vez tenho mais "bícepes e mais pancêpes" e graças à lei da gravidade tudo o que posso fazer é desabafar trivialidades sobre esta experiência, para o papel. Tudo começa a apontar para baixo.
Lamento que não se concretize a ideia genial de Woody Allen para a vida, que não nos deixa ser felizes começando velhos, evoluindo para jovens e acabando num orgasmo.
Admiro a vida. Essa corajosa malandra que diz que no final destes jogos de poder vou ganhar uma medalha por ter tentado ser enquanto vejo. Ver o caminho que faço entre nascer e morrer e nele ser.
Na hora de nos despedirmos é nisso que todos vamos pensar. Quem somos, quem fomos em relação às tribos que pertencemos. O que elas significam para nós e como nos conseguimos elevar por causa deles. O que significamos para eles.
E essa é a única genialidade que me ocorre para combater os tais outros génios que inventaram a separação entre os seres humanos.
Só quero sair de cá sem nunca cortar o cordão umbilical com as minhas tribos, para ser uma com elas e me elevar no momento de expirar.
Ubuntu!

domingo, 5 de junho de 2016

Entre circo e crimes ninguém escapa


O editor do site para onde escrevo Noticias On Line, Jacinto Furtado, pediu-me para escrever sobre o acontecido com uma taróloga da SIC, Carla Duarte, que faz leituras com chamadas de valor acrescentado (a negociata das negociatas), e que aconselhou uma vitima de maus tratos a dar mimo e amor ao marido. Os Deuses devem estar loucos pensei. E escrevi. Fica aqui o meu testemunho com o link ao site onde podem acompanhar o que vou escrevendo. Obrigada

terça-feira, 24 de maio de 2016

Alerta amarelo vindo da escola pública vs escola privada

Juro que me é penoso assistir a esta morte anunciada da mama sem leite para os colégios ligados à máquina do Estado. E ver gente nos últimos estertores da morte a marchar contra os canhões assiste-me de imediato a vergonha alheia. Razão tinha alguém que dizia que somos subsídio- dependentes. Acaba-se a heroína e ficam à toa. 
Milhares, milhares de gente que teve de se exilar emigrando comendo o pão amassado pelo diabo por falta de trabalho no país, vivendo longe do que mais lhes é precioso, gente que não tem como concluir estudos na Universidade pública por falta de dinheiro para as propinas, gente que não consegue dar uma refeição digna aos seus filhos por conta de um neo-liberalismo que nos torna cada dia mais vulneráveis, dependentes e pobres(sobretudo em espírito) gente que paga impostos brutais vendo-lhes cortados os serviços públicos e vêem estes c@r@lhos vestidos de cor de caca de pinto pedir dinheiro a todos os cidadãos (o Estado) para pagar a escola privada dos filhos? 
Já chega!
Eu paguei a educação privada do meu quando tinha guito sem pedir apoios. E paguei as minhas propinas na minha Universidade Pública. Até deixar de ter dinheiro. Quando se acabou desisti dela. Até nova oportunidade. 
No entanto com os impostos que pago nunca deixei de pagar os colégios privados.
Onde anda a justiça disto? Chega!
Esta gente não levanta o cu para lutar por uma escola pública universal e gratuita a pensar no colectivo. 
Mas vestem-se de amarelo e marcham para exigir que eu lhes continue a pagar as mordomias que eles escolhem mas não podem pagar do seu próprio bolso? a sério? 
E querem que os filhos sigam estes exemplos de trogloditismo!
Ó evolução que voltaste para trás...
Esta santa aliança amarela-encardida (cheira a Igreja com a direita) que querem tudo privatizado mas fino a un certo punto (se lhes tocam os interesses ai ai ai) lembrou-me Saramago. 
No geral é o que penso sobre o neo-liberalismo que nos engole trucidando.

A conselheira desta gente é a falta de vergonha e a estupidez.
Que por sorte ainda não são um direito humano nem se aprende na escola pública ou nós que a frequentámos estávamos todos fodidos.


Gosto
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terça-feira, 10 de maio de 2016

Entender "o neoliberalismo para além dos clichés"

Do fogo à roda, às pinturas rupestres, à escrita, à electricidade, ao Homem no Espaço até ao dinheiro, homens e mulheres usaram a sua capacidade criativa, intuitiva e de pensamento colocando-as ao serviço da Humanidade e da sua evolução. 
Buscando soluções que trouxessem bem-estar incluindo a filosofia até às ciências sociais. Homens pensaram o comunismo, o fascismo, o socialismo até chegarmos ao capitalismo e ao neoliberalismo. 
Duas Guerras mundiais por interesses económicos e de poder, muitas guerras permanentes ao longo de séculos e a História vai-se escrevendo connosco. 
Precisamos entender como chegámos ao presente para pensar no que fazer de novo para vivermos com dignidade amanhã. 
O Rendimento Básico Incondicional a ser testado nalgumas cidades e a querer estender-se aos países pode ser o novo fogo, a nova roda, a nova Economia. 
Proponho a leitura do artigo que vos deixo. Este artigo é uma verdadeira lição Histórica sobre o neoliberalismo. 
Para quem é a favor e para quem como eu se situa nos antípodas deste teatro anti democrático, como o são os que pensam e discutem o RBI.
Assombrem-se.