segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Diversidade - UBUNTU



“Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos”. Mia Couto

UBUNTU: “Eu sou humano porque eu pertenço, eu participo e compartilho”.

Esta é mais uma viagem de esperança que empreendo. Pensado não apenas para a Academia, mas para chegar a quem faz uma qualquer viagem e deixa de si nalgum lugar ou pessoa, e, absorve em si o outro que lhe toca. Para quem Ubuntu é o todo. Um todo diverso. Único que o somos todos e comuns como todos o são.

Somos porque somos o outro, porque nos contemos no outro. Ubuntu é mais do que uma palavra, ou filosofia. A solidariedade e a força de um grupo é maior do que a do indivíduo. As necessidades da comunidade são maiores que os direitos individuais ou as suas necessidades. E a responsabilidade de cada um é maior para com a comunidade. Não apenas aquela a que pertence. Mas ao todo. 

Estamos ainda longe de conseguir o equilíbrio, que virá com a aceitação, reflexão, inclusão e entrosamento das várias diversidades, apesar do discurso oficial na EU ou nas Nações Unidas. 

A minha primeira identidade é africana. Descendente de escravos que venderam em primeiro lugar aos Árabes e posteriormente aos europeus os das suas próprias etnias ou de grupos étnicos diferentes perdedores de batalhas travadas, para trocas comerciais. Também sou descendente de europeus e árabes que compravam escravos, os vendiam e exploravam. Luso-africana, ou afro lusitana. Europeia por educação. 
Descendente de judeus fugidos a perseguições e de árabes que ocuparam o território Luso durante largos séculos. De pretos e de brancos. De emigrantes e imigrantes. De europeus que ocuparam terras africanas, aculturaram-se e lá deixaram filhos. Desta variedade nasceram muitos cidadãos como eu. Fizeram muitas viagens sem fronteiras, tornando-se parte do todo diverso. Como eu faço há meio século.

Portugal miscigenou-se em África e no pós revolução de 1974 aculturou-se, inclui (se), excluiu (se), foi aculturado, estigmatizou e foi estigmatizado, diversificou-se em solo nacional e além-fronteiras. Presentemente observamos e/ou sentimos na pele, qualquer destes conceitos. Na Europa pós queda do muro de Berlim e com a livre circulação de pessoas com vários acordos e tratados, junto com a globalização que quebrou as fronteiras, os cidadãos passaram a ter várias Pátrias. Ainda que não haja ainda hoje, verdadeira cidadania Europeia, ou Mundial. Mas a diversidade espalhou-se globalmente. Ainda que ela não seja reconhecida, valorizada, falada e eleve consciências no global. Hoje escrevo, como cidadã para através da escrita dar resposta às minhas inquietações e nelas levantar outras a quem me lê. É o meu papel no acto de cuidar de mim e dos outros. É isto que representa o trabalho que apresento no meu projecto final desta UC.

Para lidarmos com a diversidade nos dias de hoje, vejo na mensagem do conceito Ubuntu, um dos que me é mais caro, ainda hoje vivenciado em algumas tribos africanas, como o único sentido da vida em comunidade. Os efeitos da globalização, da sociedade viciada pelo consumo, pela individualização e pela megalomania dos homens gananciosos, têm estado naturalmente a derrubar este conceito, por isso deixo no meu trabalho orientações que me servem de exemplo, através de pedagogos como Satish Kumar e Krishnamurti. Não querer ver a diversidade, conhecê-la, ter medo de falar dela, não a reflectir, não a assumir, levam à exclusão, à solidão, à descriminação, ao sofrimento. Não ver e não falar sobre deficiências físicas, cor de pele, opções sexuais, etnias e modos de vida diferentes em diferentes culturas entre outras, é fechar os olhos e calar a essência da vida humana: a partilha. 

A diversidade é a nossa génese e nas suas várias formas está imbuída e envenenada com apenas um caminho, o da paz entre gente diversa, no mesmo mundo. Ou será o nosso fim como raça. Através da Educação, na universalidade da Universidade, neste mundo decadente, devemos fazer nascer novas visões e deixarmos de lado discursos e estudos, alguns deles, vazios. Falar de diversidade é falar de educação por inerência. Uma das razões do insucesso na nossa evolução vem certamente do sistema Educativo, que nos tem reduzido todos a meros robots, “one size fits all”, tratados num sistema onde somos todos vistos como meras máquinas iguais, que devem obedecer ao e no mercado de trabalho da era industrial e que agora nos descarta indiscriminadamente. 

Termino com uma aprendizagem sobre o Ubuntu citada pelo reverendo sul africano Desmond Tutu:

“Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Como tinha muito tempo ainda até o embarque, ele então propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, colocou tudo num cesto bem bonito com laço e fita e colocou debaixo de uma árvore. Chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam correr até ao cesto e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças posicionaram-se na linha que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente, todas as crianças deram as mãos e correram em direção à árvore. Ao chegarem, começaram a distribuir os doces entre si e comeram-nos felizes. O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que razão elas tinham ido todas juntas, se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: 

"Ubuntu, tio. Como é que uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?" 

sábado, 28 de dezembro de 2013

O crime compensa (?) Previsões para 2014



Na espuma dos nossos dias,

Parabéns criminosos que des-governam este rectângulo e este globo mal frequentado.
Estão a ter sucesso na perpetuação do crime. Como diria Poirot, basta usar as células cinzentas para perceber o grau de sucesso. Mas também com muitas pedras na engrenagem.

Disseram que estamos no bom caminho, que a recuperação está aí para todos vermos, e, só não vê quem é cego. Ou marado dos cornos, como eu.

Aparentemente acreditamos e vamos todos para os centros comerciais celebrar o pai natal da coca-cola e carregar as putas das renas de i.podes e i.pades e playstations com valores mínimos de €200.
Entrei em estado catatónico com o que vi. Lojas cheias de gente a comprar. Afinal vivo num país em franco desenvolvimento e nem sabia.

Mas temos cada vez mais gente a suicidar-se por falta de dinheiro para as responsabilidades básicas, cada vez mais pobres, sem abrigo, fome, sem trabalho, sem dignidade, pedidos de solidariedade para os mais carenciados…
Confesso aqui, não entendo nada de nada deste paradoxo.

Eu e 120 mil marados emigrámos uns porque são jovens e não encontram trabalho, nem podem ser empreendedores porque depois não há compradores com poder para comprar, outros são velhos para trabalhar, mas novos demais para se reformarem.
Devemos ser muito estúpidos ao não percebermos que o país está cheio de oportunidades e aqueles que andam a pagar acima das possibilidades, ou sem trabalho nem recursos, são apenas pessimistas e claro, uns chatos.

Todos sabemos o drama que é ser emigrante, para quem parte e para quem fica. Sobretudo quando até se gosta de cá estar e se quer cá ficar, mas não pode. Sabemos o drama que é ser português. Vivemo-lo na pele.

Todos sabemos para onde devemos olhar quando falamos das razões do drama que vivemos, da crise, da austeridade forçada. Nem precisamos do Poirot para ajudar a ver.
Um grupo de mafiosos que pratica a usura comanda a operação criminosa. Gente não é certamente.
Há milhões a mais, que não produzem nem são necessários. Excedentes sem a menor utilidade. Logo só servem para ser sugados e aniquilados. Em favor dos gananciosos.

Um crime foi planeado e está em execução com sucesso. A alienação é quase completa e comprova-o o bendito Natal e o consumo desenfreado.
Será medo de morrerem na manhã seguinte ao Natal de gases vindos da fartura? Ou das fatias douradas e dos sonhos amachucados? Ou de explosão da abóbora que se fartou de esperar a meia-noite do dia da recuperação económica?

O ano de 2013 tem sido macabro. Perdemos a liberdade, a paz e a prosperidade e a luz que se vê é a do Estado forte com a censura, o controlo, a intrusão e a violência em diversos níveis.

Mas, aqui reside perversidade do meu espírito. Acreditar nas pessoas que não têm nada de loucas nem de inconscientes.
Quanto mais apertam, mais razões tenho para prever que a tendência tem de ser para ter optimismo.

Felizmente há núcleos de denunciantes que se levantam e pensam como colectivo.
Como sociedade que tem recursos para ser livre, inter-dependente e viver em paz. Que massivamente destroem a informação controlada e disseminam informação independente. Sobre como combater o holocausto.

Uns poucos insanos e psicologicamente destruturados quem controlar muitos e não conseguem, essa é a realidade que também vejo.
Prevejo que mesmo neste país com muitos bimbos amorfos à procura de bimbys, também há razões para prever o derrube da insanidade já em 2014.

Quanto mais conhecermos e pressionarmos, mesmo sendo poucos, menos oportunidades os loucos têm de nos controlar.
Sabemos quem são os nossos inimigos, quão predadores eles são e como actuam na esfera económica, social, da saúde, da alimentação, da política, da justiça, da educação. Isso dá-nos uma arma. O do conhecimento.

Que ninguém acredite que não tem poder para afectar as mudanças e as transformações boas e más.
Com as más podemos ficar enrolados no medo, na apatia, no sentido de derrota.
Com as boas tecemos o futuro. Com paciência, como diz José Mujica, um homem que admiro e está ao serviço da humanidade a fazer mudanças com muita sabedoria.

Que ninguém duvide dos pequenos sinais de victórias que vêm dos pequenos grandes núcleos de “subversivos” incansáveis na defesa dos direitos da Humanidade.
Em Portugal e por todo o mundo.

Temos os recursos nas nossas mãos para alcançar grandes mudanças.
Não importa que sejam pequenos sinais mas são as bases da casa que quero habitar ou deixar como semente.

Como fui picada por muitos mosquitos, estes afectaram-me os circuitos e daí a acreditar nas tendências de mudanças positivas, não sob a forma de “wishful thinking”,mas antes com os sinais evidentes que a vida me mostra, é apenas um pequeno passo.
É obrigatório sermos melhores e mais conscientes. Para confirmar a minha previsão.
Saúde e liberdade para 2014.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os meus desejos para 2014



Deixo aqui para os meus companheiros de estrada e de vida na tribo para 2014.

Que nunca se sintam derrotados, mesmo que percam
Que nunca sintam que nada têm, mesmo que tudo percam
Que nunca tenham medo de mudar de pele ou mesmo que tenham que vestir outras
Que nunca tenham medo de mudar de casa, de lugar, de país, de trabalho, de amor,
Ou de vida, para começar de novo
Com um zero a mais ou a menos que zero
Que nunca deixem de querer fazer uma festa até de manhã, porque tiveram uma grande alegria, mesmo que se sintam muito cansados no corpo
Que nunca deixem de querer chorar e lavar a alma, mesmo que precisem de esconder as lágrimas,
Que nunca deixem de acordar cedo para ajudar um amigo, mesmo que tenham tido uma noite difícil,
Que nunca deixem de procurar ser quem são, mesmo que isso implique sacrifícios dolorosos,
Que nunca deixem de escolher a integridade, mesmo que isso implique deixar partir algo, alguém ou uma situação que não vos faz mais sentido
Que nunca deixem de gostar de fazer sorrir alguém que vos ama
Que nunca deixem que uma adversidade vos roube o bom humor, mesmo que aconteça de manhã cedo antes de tomarem café,
Que nunca deixem de dar beijos e abraços a estranhos e aos que vos acompanham
Que nunca deixem de ir trabalhar sorrindo e com vontade de fazer rir, ou fazer partidas ao chefe e aos colegas
Que nunca deixem de querer mudar profundamente o que não gostam em vocês
Que nunca deixem de dizer e defender a vossa verdade, sem pedir desculpa, mas que ela seja dita com amor e carinho
Que a TV e os telefones sejam menos companhia e os encontros reais e os livros passem a fazer parte de uma nova rotina
Que os sorrisos e a vitamina e de entusiasmo sejam companheiros diários
Que a sabedoria dos velhos do jardim venha acompanhada pela alegria contagiante do que é ser-se criança até ao fim dos dias
Que cada dia seja a busca entusiasmada do novo ser que nos habita e quer despontar
Que o encontro com o conhecimento venha de livros, de conversas entre amigos ou desconhecidos e não da wikipédia
Que cada um dos 365 dias no novo ano seja uma oportunidade para sermos mulheres e homens melhores.
Que o auto-perdão pelo que não fizeram bem se transforme em oportunidade para fazer melhor
Que a saúde não vos falte. Nem o sexo, nem o amor. Nem uma pele fresca. Nem musica. Nem namoros. Nem churrascos ao fim de semana com as tribos respectivas. Nem comidinha saborosa, nem vitórias do vosso clube.
Que nem a perigosa entidade chocolate kinder descubra os vossos segredos.
Que nunca deixem de sonhar. Acordados.
Que nunca deixem de respirar fundo sempre que precisem de descomprimir
Que nunca deixem de enfrentar situações ou problemas por mais medo que façam. Resistir é fazer persistir
Que nunca deixem de dormir sempre que vos apeteça, até na cadeira do dentista
Que nunca deixem de ter tempo para ouvir os outros e com isso criar laços e empatia
Que a nossa amizade dure.
Que não vos faltem causas nobres para o exercício da solidariedade.
Precisamos de um mundo melhor, mais humanista e é hoje que preparamos o amanhã
Boas 365 oportunidades em 2014.
Aproveitem-nas