quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Tratar bem o ano que é novo

Vou tratar bem o ano que me oferece o virar do calendário. 
Ofereço-lhe sementes para colher pés de margaridas.
Para dar aos que navegam no mar comum, em busca de terra firme,
nas marés do riso, das lágrimas, nos silêncios, nas distâncias e sempre sempre no bolsinho do meu coração vivem.
Para cada ano desejo que a dança da alegria se torne a norma.
Feliz sementeira e colheita em 2016. As de 2015 já comi.


domingo, 13 de dezembro de 2015

"Benditas sois vós"

Uma crónica para as minhas mulheres. Aos homens fará certamente bem usarem-se dela.
"Benditas sois vós"
Vamos partir a loiça!
Hoje as mulheres sauditas vestidas de burka, proibidas de conduzir(logo conduzidas pelos maridos), votaram pela primeira vez em eleições municipais e até elegeram uma candidata.
Na religião, sexo e pecado caminham juntos com a vergonha de sentir desejo e o desejo de o saciar e, mesmo tendo Jesus dito "quem não tiver pecados que atire a primeira pedra" a nossa sociedade patriarcal continua a defender orgulhosamente os homens e a obrigar mulheres à rebelião.
Mas elas andam a partir a loiça!
As mulheres que se arriscam a papéis de relevo e poder têm de "ter os tomates no lugar". Onde vou com esta reflexão? Não sei, mas é sobre a escolha de ter uma vagina que quero escrever. Vaginas que partem a loiça.
Ainda bem que nasci mulher num mundo dominado por homens. O português que falo,escrevo e penso é machista, logo esse foi como mulher, o meu primeiro código a desmontar...Hoje adoro o equilíbrio da língua masculina carregada de poesia feminina.
Como qualquer ser humano todos temos um certo grau de ansiedade e depressão pelo somatório de experiências que vamos acumulando.
Ontem podíamos ser bipolares, hoje hiperactivas e amanhã instáveis, inconstantes e irresponsáveis ou ao contrário.
Eu mulher, fui uma criança, fui uma adolescente e sou uma adulta que alterna entre todos estes rótulos. Tanto andei à tareia com colegas de escola porque me chamavam preta da Guiné (ansiedade de verdade manifestada em hiperactividade), como me isolei e ficava horas e dias a fio a ler e a estudar (depressão), como socializava despudoradamente com os tropas na Guiné- Bissau em tempos de guerra colonial e desaparecia de mão dada com algum tropa, fazendo a família andar desesperada à minha procura (bipolaridade,feminilidade, e rebeldia). Tinha cinco anos.
Se o fizer hoje ninguém anda à minha procura. Isso de desaparecer de mão dada com alguém. É normal, sou mulher, preta da Guiné, adulta, posso dar a mão a quem quiser, desaparecer e fazer sexo com quem me apetecer. Mas ainda posso ser mal vista, não é um cenário descartável.
Deitei um dos mitos da religião abaixo e esta é uma das razões de dizer : ainda bem que nasci mulher num mundo dominado por homens.
Porque tive de corajosamente construir o meu caminho. E levantar-me como pó em terras de ventania.E preconceito.
Tornei-me uma mulher que quer como referência outras mulheres e que as mulheres sejam referências para as mulheres.
A referência principal da minha vida foi o meu avô por isso nada tenho contra homens. Ele foi tudo para mim e educou-me para ser uma mulher independente e livre.
Ensinou-me a ser a expressão da minha essência. O feminino.
Eu tive a obrigação de ensinar o meu filho homem a ter respeito e valorizar a mulher, nunca se julgando como ser superior como o é a cultura dominante. A ser sensível e emocionalmente inteligente. A estar na vida com amor. pelos outros sobretudo se forem mulheres. Ele está.
Ar, Água, Alimento, Abrigo, Agasalho são os cinco "A"´s essenciais ao ser humano (que aprendi com um sem abrigo por escolha), eu junto-lhe o sexto como forma de curar todas as patologias do mundo: Amor.
Somos porque os outros existem e nos espelham, nos dão amor, nos validam, nos respeitam, nos apreciam, nos vêem. E as mulheres têm tido tão pouco de tudo isto que se torna ainda hoje assustador. Por isso mais amor é preciso.
E, sabemos intuitivamente que o mundo seria mais equilibrado se homens e mulheres se conduzissem mutuamente com respeito, amor e sem burkas que vedem o olhar sobre cada um.
Aliás o mundo já existiu debaixo do matriarcado (assunto para outra crónica).
Conheço muitas mulheres e por elas faço esta reflexão. Eu sou todas elas (como diz a canção) e eu como as que conheço e não conheço, as minhas antepassadas, as delas e as que virão, tive de lutar contra os homens que não me deram amor, não me viram, não me validaram, não me respeitaram, não me deram o devido valor, numa circunstância ou noutra.
Levei lutas para casa, trouxe lutas para fora de casa, como essas mulheres e como as que ainda vão ter de lutar.
A luta é por um reconhecimento no posto de trabalho, pelo trabalho árduo como mães, pelo esforço de não continuar numa relação tóxica ou violenta, pela desistência em situações de chantagem emocional ou sexual, quando sofremos na pele o desafecto da família, quando a família se desliga porque não correspondemos às suas expectativas, quando nos encolhemos e nada falamos, ao toque inapropriado de um tio, de um irmão, de um pai, ou qualquer agressão sexual, física e outros innuendos, de estranhos, colegas ou amigos.
Ser mulher ainda hoje é conviver com todas estas formas de violência em todos os cenários imagináveis, ou impensáveis, diariamente.
É verdade sim, com as mulheres pretas o cenário piora em todas as circunstâncias. Basta olhar e ver à nossa volta.
Não vale a pena fazer barulho sobre o assunto ? Talvez o erro da mulher tenha sido o de deixar passar a carroça sem fazer barulho. Castrada pela religião que a carrega de vergonha. Vergonha do pecado, do sexo ou de ser a sua essência.
Somos todos diferentes com pouco ou muito barulho. Esta é uma realidade. E até hoje continuamos a aceitar que nos digam que não devemos ser diferentes desses homens e mulheres que têm na religião e na intolerância o seu dogma. Que devemos ser submissas e obedientes.
A realidade da maioria das mulheres (posso dizer todas, porque todas já vivemos uma ou outra destas experiências), todas elas transpirando feminilidade, insubmissão e desobediência ainda é ter de bater o pé, dizer não mais do que uma vez, atirar um estalo, gritar com a mãe que não vai fazer algo que lhe "destinou" o seu papel de mulher, fazer uma queixa na polícia por violência e/ou violação, fechar os olhos ao apalpão do patrão ou do tio...e por aí fora. E sim, tudo isto é errado e não nos devia acontecer.
Nenhuma mulher vive confortavelmente nestes sapatos de luta constante. Felizmente muita coisa está a mudar. Lentamente,muito lentamente. As mulheres ainda têm muita estrada para calcorrear porque ainda têm nos homens as suas referências e, entraram no caminho da competição. Querem ser iguais a eles. E este não é nem nunca foi o meu caminho. Nem o é o das mulheres.
O poder da mulher é justamente o de ser diferente. Eduquemos, ensinemos, formemos as nossas filhas para não terem vergonha. Ensinemos,formemos, eduquemos os nossos filhos a integrar a beleza do feminino e a respeitarem-no.
Padeço de algumas patologias que não me foram diagnosticadas por médicos, por causa das minhas lutas como mulher:
-uns dias ansiedade e noutros depressão, uns dias bipolaridade, outros hiperactividade entre outras disfuncionalidades.
Não se tornaram graves porque sempre tive mulheres e homens que me ouviram, protegeram, elevaram a minha auto-estima e deram amor.
Tornei-me uma lutadora voluntária contra a vergonha sexual, a religião castradora e a falta de oportunidades sabotadas às mulheres.
Urjo as mulheres a ensinarem os filhos a amar as mulheres para além do seu papel tradicional oferecido em dois mil e quinze anos por homens que nada sabem de mulheres.
Jesus, que eu saiba nunca as tratou como os que assumiram o controlo do Cristianismo e ainda disse- " quem não tiver pecados que atire a primeira pedra".
Ainda bem que nasci mulher e preta, num mundo dominado por homens e brancos.
Ao passar por todas as experiências desta viagem, encontrei o caminho para a minha essência. Aprendi a ouvir a minha intuição. Tornei-me bambu. Oscilo mas os tomates femininos da vontade e a determinação fazem-me voltar à forma original.
Por isso, sem o espírito da época que nada me diz, praticante de Amor diário, lembrem-se todas as Marias da terra:
-Não precisamos que nos dêem nada, só precisamos que não nos tirem as oportunidades de manifestar a nossa essência.
Nós escolhemos ter os tomates femininos.
E partir a loiça!

sábado, 12 de dezembro de 2015

"Democracídio"

Hoje ouvindo a história (brilhante diga-se) de um sem abrigo por escolha, brasileiro, de nome Eduardo Marinho, cansado do que a sociedade lhe oferecia, decidiu ir viver para a rua e aprender com os "underdogs" (excluídos, explorados, insatisfeitos) e com os pobres que sustentam a vida dos ricos (a da sua própria familia).
Como ele diz, com eles aprendeu a observar, absorver e reflectir e criou o seu próprio blog. Lá faz a sua arte. Sem se vender ou competir, porque fazer isso não é vida.
Continuo a pensar, chegámos ao século vinte e um, era dos telefones espertos mas de gente broncae (os que se submetem e aceitam estas regras) e ainda temos de estar a discutir direitos do século dezanove que deveriam ser hoje o oxigénio de todos...impensável!
Inspirou-me a escrever este poema que se eu soubesse musicar seria uma canção. Obrigada por me lerem. smile emoticon
"Democracídio"
Humanidade digna desse nome não tem abandonados
miseráveis, sem tecto, explorados, refugiados
ou da vida sabotados
Os dinheiros públicos, são isso mesmo, públicos,
de todos vêm,
entregues nos impostos, nos descontos dos ordenados
dinheiro limpo e honesto
de gente limpa e honesta
imprescindível para satisfazer as necessidades
de todos os humanos
de Ar, Abrigo, Alimento, Agasalho, Água
porque todas as outras são supérfluas
Esse dinheiro limpo e público
deveria estar ao serviço de quem vive nas franjas
dos que não têm privilégios,
mas têm consciência
que são parte da humanidade e acordam a gritar:
-"vou passar por aqui e vou sair
sem ter vergonha da minha vida"
Enquanto um grupo de gente, esses sim miseráveis,
que vive em ilhas,
vencidas com medo dos excluídos
vendidas ao dinheiro
protegidas por privilégios
neste "democracídio" que usa o poder, para roubar e matar
e usa o roubo e a morte, para continuar impunemente no poder
grita ordens para que a forma vença o conteúdo
e no mundo do poder continuarem a adentrar
Ah infelizes democracídas
eu sou como eles,
os desalinhados,
como o creme de maionese que talha
estou com os fora da caixa, que pintam fora dos riscos
eu sou como eles,
os que estão fodidos e enganados
eu faço a minha revolução
não vendendo a minha consciência
não largando a minha docilidade
não me deixando submeter
nem me calar
usando a arte não para ganhar
ou competir,
mas para vos foder
para pensar na evolução
porque a vida, essa,
vai entrar, passar por mim e sair
e eu dela nunca me vou aborrecer,
nem dela nunca me vou envergonhar.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Rendimento Básico Incondicional ?!

Imagine-se Portugal ( e mais ou menos 200 países) sem caridade, sem assistência social (subsídios, abonos), sem Misericórdias ou IPSS´s, sem Banco Alimentar contra a Fome, sem RSI, sem Cáritas? Independentemente de ser pobre ou rico ? Onde toda a Segurança Social usa um simplex para a satisfação de necessidades básicas?
Resumindo, todos terem as necessidades básicas satisfeitas e poderem escolher o que fazer com a vida desde que nascem, em vez de herdarem dívidas impagáveis, trabalho mal pago, precário e situações que levam ao desespero, à insatisfação e infelicidade?!
Já pensaram que a liberdade é a essência do ser humano? Afinal a massa de que somos feitos.
O modelo de trabalho introduzido com a Revolução Industrial está obsoleto. Por várias razões e uma delas prende-se com a evolução da tecnologia.
Por razões de sobrevivência no planeta, o consumo ilimitado dos recursos e a obsolescência programada, o espalhar a miséria e a austeridade são sistemas de vida obsoletos.
Já vi, já senti, já vivi, já entendi. Já sei que não serve.
Então, não será tempo de pensar como os finlandeses e holandeses estão a pensar fazer?
É que continuar a cooperar com esta Europa, nos moldes em que se encontra, é uma forma obsoleta de prosseguir. Desta actual má equação não sai resultado matematicamente correcto. É uma experiência com garantias de resultados desastrosos.
E as direitas espreitam quais raposas esfomeadas...
Interessa-lhes ter as galinhas com fome, desesperadas, estúpidas, fáceis de apanhar e sem buracos para saírem do galinheiro...
Trabalhar 8/9/10/12 horas para ganhar pouco ou muito? Para quê? Em quê? O mundo não continua a girar se trabalharmos menos e dedicarmos mais vida à vida? Ou será a produção e a exploração a única solução? 
Ou as escolhas de cada um não têm direito a ser considerados? E dar a cada ser humano a possibilidade de apenas ter de pensar em ter uma vida digna? Isso pode ser uma equação onde inclui o Rendimento Básico Incondicional.
Eu não tenho pretensões a fazer mais do que ler poesia e apreciar o mundo, não a mudar o mundo... os deuses que me livrem dessa tarefa, dá uma imensa trabalheira mas que gostaria de ver mais estrelas no lugar de poeira e lama, isso gostaria.
Diria a criada malcriada: - Então e agora a minha senhora o que vai fazer?
-fazer? vou beber um gin e descansar desta maçada toda. Pensar dá uma trabalheira imensa, sei lá...

sábado, 5 de dezembro de 2015

5 de Dezembro- Dia Internacional do Voluntário

Voluntário :Aquele que exerce uma actividade voluntária e não remunerada em qualquer entidade pública ou instituição sem fins lucrativos que tenha objectivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social.
Quando a vida pede mais alma, ou quando a alma quer viver uma vida autêntica.
Hoje celebra-se o dia Internacional do Voluntário. Quase precisamos de mais um calendário para celebrar dias especiais.
Mas este é para mim muito especial. Vou escrever sobre uma das minhas experiências.
Em 2001 fui a escolhida num concurso internacional para ser a Promotora/Coordenadora do Ano Internacional do Voluntário (escolhido pelas Nações Unidas) em Moçambique.
Ser Voluntária das Nações Unidas, o "braço forte no terreno" como nos chamou Koffi Annan, o nosso representante à data de 2001, foi das experiências mais inspiradoras que tive. Que me levou a ser melhor, a dar o que sou de melhor, a implicar a alma no trabalho. Tornei-me um ser humano mais próximo dos outros, importante para a vida dos outros e tudo o que fiz e partilhei foi com o objectivo de ter impacto real na vida das pessoas.
Ao bombardearmos a vida das pessoas que precisam, com oportunidades reais para o seu desenvolvimento e sustentabilidade abrimos novos caminhos para o seu verdadeiro crescimento.
Esta é para mim a definição de voluntário.
São muitas as histórias, pessoas e experiências que partilhei e guardo eternamente. Porque vão viver para sempre em mim e no ser em quem me transformei depois de ter sido voluntária. Agradeço a todos e à vida por me ter dado a oportunidade de dar largas à minha alma.
Das muitas actividades e pessoas com quem trabalhei não me posso esquecer do projecto- lei que uma larga equipa elaborou e pessoalmente entreguei na Assembleia da República de Moçambique para protecção do trabalho Voluntário inexistente até à data.
Viria a ser aprovado em 2008 o que me encheu de orgulho e vaidade.
Das acções de formação de activistas para o HIV-Sida, às inúmeras feiras de angariação de fundos, aos leilões de quadros generosamente doados (Naguib por exemplo) por artistas Moçambicanos para atribuição de bolsas de estudos a jovens voluntários.
Nessa noite eu ia ficando muito pobre já que o meu filho que me acompanhava em todas as acções dos voluntários, licitou em €1,500 USD um dos quadros do Naguib, simplesmente porque o adorou. Felizmente a Visabeira licitou mais alto e ganhou o quadro, ou eu teria deixado de comer por um ano.
A construção de uma escola e um centro de saúde numa aldeia remota do centro do país onde se chegava apenas de tractor, com o trabalho incansável por duas semanas de várias organizações de Voluntários foi dos maiores marcos do ano.
A imensa tela pincelada por todos os participantes na Meia-Maratona contra a Pobreza patrocinada pelo PNUD e pintada voluntariamente pelo mestre Malangatana foi mais um degrau do AIV 2001.
A tela, de valor incalculável, oferecida à Cruz Vermelha de Moçambique(a maior organização de Voluntários comandada pela enorme e querida amiga Drª Fernanda Teixeira), com cinco metros de comprimento por dois de altura, transportei-a debaixo do braço até Genebra para a conferência dos UNV´s onde iria representar o país.
Expus a tela e o nosso Patrono (do Ano Internacional do Voluntário) ao vê-la, convidou-me para ser recebida por ele e falar sobre as actividades do ano em curso em Moçambique. Não era um convite, era uma ordem que vinha de sua Alteza Real o Príncipe Filipe das Astúrias, hoje Rei de Espanha. Por ele fui recebida, ouvida e Moçambique e os seus voluntários ficaram assim orgulhosamente conhecidos.
A grande celebração aconteceu no dia 5 de Dezembro de 2001, com um espectáculo de várias horas com todos os artistas moçambicanos que voluntariamente cantaram e tocaram na celebração do Ano comigo na apresentação qual Julio Isidro no "Natal dos hospitais". Sem doentes porque até ministros dançaram (o que não é difícil conseguir em África).
Ser voluntário é dar largura, comprimento e estender uma tela de estrelas que são os voluntários quase sempre pouco reconhecidos, e às suas almas, que nela se comprometem em fazer o que deve ser feito. Estar próxima de quem precisa e ter impacto na vida das pessoas.
Por isso somos "o braço forte no terreno". E necessário.
Obrigada voluntários.
Vivam os voluntários.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Espírito de Dezembro...

E este espírito que consome Dezembro enquanto a guerra que avança e transforma a Humanidade em neve de Janeiro...?
De que me serve saber fechar os olhos a beijar se não os souber fechar para sonhar? De que me serve viver sem ter a mesma altura dos sonhos que me visitaram o sono?
De que me serve meditar se não souber estar na minha companhia, em silêncio para me ouvir? De que me serve reciclar se não souber parar de consumir? De que me serve ter cultura e saber falar se não souber ouvir o outro e não me sentar nos seus sapatos para o entender? De que me serve ser inteligente se me rodear de violência e manipulação? De que me serve pedir paz, se ofereço e partilho raiva, sangue e preconceitos? De que me serve pedir transparência se for apenas opacidade e me esconder atrás de truques de ilusionista? De que me serve pensar em coerência, se as minhas acções não reflectirem o que sinto e como penso?
De que me serve o espírito de natal se não tiver um livro com estrelas, que me receba num refúgio, num coração, longe da falsidade e da falta de empatia?
De que me servem os olhos se não sei ver para além de mim próprio? De que me serve a capacidade de ouvir se nunca paro para escutar?
Experimentemos este momento- de frio e guerras no hemisfério Norte, de fome e escravatura no hemisfério sul, porque somos um com o mundo- e vestirmos todas as saias do mundo, calçarmos todos os sapatos do mundo e conhecermos quem é cada um, vestindo e calçando as suas vestes e sapatos, sem exclusões nem que seja dos que estão ao nosso lado?
Dancemos juntos uma coreografia de roupas e sapatos autênticos. Nem que seja enquanto um boneco de neve se derrete numa brincadeira de Dezembro no hemisfério Norte, ou um pilão faz farinha de milho para o jantar de uma família em Janeiro no hemisfério Sul.
A OMS informa que faz mal à saúde massacrar com a tradição do Natal dos bonzinhos vestidos de seda em Dezembro e palha d´aço em Janeiro (serve para a política e qualquer outro relacionamento entre humanos).

Se eu fosse miss diria que gostaria de ter a paz no mundo mas como já não acredito no Pai Natal nem em misses, o melhor presente pode ser mesmo mais tolerância. Caso falhe, ofereçam outra vez meias de lã...


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Rosa Parks

Dedicado a Rosa Parks. A todas as Rosas que se sentam no lugar certo. E lutam pelo lugar delas! O seu legado ficou para mim e todas as mulheres sem distinção de cor, que hoje têm direitos e oportunidades quase iguais. Obrigada.
Deitou-se faz hoje uma vida,vestindo um pijama de estrelas derramadas,cobriu-se de sonhos. Neles se celebrou. Nas cinzas da lama das vaidades superficiais a alma lavou. A voz deixou de ecoar no vazio dos tempos. Esperou a lua, cor de sal para se vestir igual à sua beleza.
Espreitou-a e pintou-a com a constelação da liberdade no colo e murmurou-lhe: és em cada dia de todos os tempos mais e mais quem podes ser e és. Vives do coração e é na solidão que encontras emoção. Segue em paz.
Pudesse ela escrever com sabedoria e a ela escreveria versos sábios. Soubesse ela cantar e cantaria hinos à sua alegria. Conhecesse ela música e comporia sonatas. Soubesse ela tornar-se poesia e escreveria cantando beijos para os seus lábios. Pudessem os seus pés subir ao céu, subiria sem arnês nem protecção. Mas sabe sonhar e vai continuar a fazê-lo.
Quem és tu? Uma cigana que lê folhas de Outono caídas nos jardins onde lhe encanta voar, e descobres os segredos do seu coração?
Acordou ao fim de um sono de uma vida.
Quem és tu feiticeira que assim me descobres,quis saber ainda estremunhada e aquecida?
Descalça dançou até à janela.
O sol cumprimentou-a com uma piscadela doce. Sabia que vinha de um encontro com o seu amor infinito. Com cuidado despiu-lhe o pijama de estrelas, banhou-lhe de sorrisos, vestiu-lhe de raios simples, calçou-a de ternura e sorrisos, colocou-lhe um lenço perfumado na cabeça para a proteger da condição terrena e cantou-lhe: vai, leva uma brisa de infinito para no teu pomar semeares mais sonhos em poesia.
Nesse dia lutou.
Abriu as asas e viveu.

sábado, 28 de novembro de 2015

Sai, sai da minha vida

Lendo as noticias que chegam da Ocidental praia Lusitana, eu, vitima do estado terrorista da coligação, nesta hora de largarem o poder, deixo um grito esganiçado à ex-pàf e ex ministros, que de longe escreveram uma página devastadora de História- da qual me envergonho- na necrologia de um país que venderam, que ficou sem lugar para os que saíram e vazio para os que ficam: 
-vá, não sejam piegas, nem tenham medo de sair da vossa zona de conforto, emigrem (já que não existe a figura da criminalização dos danos de lesa Pátria e outros crimes já prescreveram), aguentem ( a queda ) já que viveram acima das vossas possibilidades. 
E levem o vosso pastor de vacas. Amante da quadra que se aproxima ele e a maria são a fava e o brinde do bolo que ele tanto cospe.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Quem se lixa é a moule

"Foi por milagre que nasci profana", Fausto musico/compositor português
Quarto
 dia de alerta máximo em Bruxelas. Tudo 
​mais
 ou 
​menos 
fechado e o caos começa a moldar-se à pele, medo, insegurança e as questões que se impõe: o que é isto? o que nos ameaça? que fazer? onde e quando vai acontecer? a querer-se instalar na vida das pessoas nesta bela cidade gris. Mas...
Saio à rua e observo os sinais de normalidade por todo o lado e a tranquilidade que nos devolvem alguma cor à imaginação, a nós humanidade.
Porque o ser humano antes de ser um autómato guiado pelo medo é uma alma livre e viva. E inteligente. E isso os psicopatas não entendem. (pertençam eles a governos, grupos fanáticos, braços armados ou outros)
Mas é preciso entender o que nos faz aproximar cada dia do cenário de 1984 de George Orwell. Nem toda gente pode ser enganada ao mesmo tempo e a informação está aí para ser estudada.
Não nos aquietemos com a desinquietação que nos querem fazer engolir. Desinquiete-mo-nos com a manipulação a que nos submetem.
E a Europa tem sido um alvo de venda da sua alma.
Mesmo com sustos que me cortam a respiração e me deixam de pernas trémulas, ainda tenho muita vida para aproveitar. Mas, se me cruzar numa esquina da vida com um desgraçado, também ele manipulado, seduzido e enganado, esquecido pelos Estados, abandonado à sua sorte, onde o tributo que lhe pedem ao crime contra a vida sagrada é a sua própria morte, fazendo-se explodir, então fique a saber que apenas lamento a vossa escolha. Vocês jovens estúpidos, perderam a alma e são também vítimas do caos.
A minha escolha é de ver cair neve hoje e amanhã ver nascer o sol. Se vos der jeito claro. 
Frente a frente as religiões: terrorismo religioso (...) a religião da ignorância e o capitalismo, a religião da ganância. Juntam-se à religião da banalização do mal (teoria de Hanna Arendt) e o resultado é uma vida de pesadelo.
Para ver nascer um novo dia, desculpem lá qualquer coisinha, como andar por aí, mas não deixarei de o fazer. Algum anjo há-de tomar conta. Ou não.
Agradeço a todos os que me inundam de preocupação, beijos, abraços e carinhos. Como diz uma amiga "eu tinha de escolher um sítio para viver com adrenalina". Podia viver sem ela? Poder podia, mas não era a mesma coisa.
Para vos descansar, sabem o que vou continuar a fazer?
Cuidar da vida ou viver com o cuidado possível enquanto me for permitido existir neste mundo bonito com algumas gentes muito feias possuídas pela ideia fantasiosa de que o mundo lhes pertence. Dá dó!
Eu profana, penso apenas numa nova religião/paradigma. Da paz, da inclusão. 
É obrigatório! É o meu dogma​.
Vamos lá rir por favor. E beber umas cervejas acompanhadas de mexilhões enquanto vivemos a aguardar qualquer coisa parecida com a normalidade em guerra. Ou um ataque.


domingo, 15 de novembro de 2015

Guerras deles, mortes nossas

Santas, Ó guerras que de santas nada têm, são como água lançada em óleo fervente onde nenhum ataque é pior que outro 
porque todos são demoníacos e sem santos.
Fazem parte da infeliz e deplorável realidade da Humanidade. 
Como em qualquer bom livro policial siga-se o rasto do dinheiro. Quem quer a guerra, quem as financia, quais os objectivos? Quem beneficia?
Grupos de terroristas profissionais, treinados nas melhores Universidades das guerras, com os recrutas escolhidos a preceito...Quem são os seus mestres?
Não, nada do que parece é! Nada é aleatório, sem origem nem objectivo claro e definido.
No caldo do mundo de multi-religiões
mas sem paz; no caldo do mundo nascido sem fronteiras
mas com infindáveis guerras por territórios; no caldo do mundo com recursos naturais quase infinitos para todos
mas com guerras pela sua posse; no caldo de um mundo diverso e multicolorido mas racista e separatista, qual é o lugar da Humanidade?
Onde aparentemente uma morte num país, num continente vale mais que num outro; no caldo de um mundo que bem vive sem a presença humana, mas onde esta impõe rituais, tradições e superstições, onde cabe a liberdade de escolha?
Há agendas agendas secretas nestas mortes por atacado? Nestas guerras sem contemplações que tiram no presente o futuro de milhares de pessoas?
Desconfio que as há.
E, vêm embrulhadas em papel pardo. Em papel estratégico de desestabilização, mentiras, acordos secretos para controlar pessoas, recursos, territórios, liberdades.
Não sou apenas com uma nacionalidade, sou uma com todos os inocentes que perdem a vida em ataques inqualificáveis.
E sou contra todos os senhores terroristas que defendem valores nos antípodas ao direito à inocência. À vida.
Os inocentes mortos nestas guerras pouco santas, são um pedaço da morte de cada um de nós e um pedaço da morte da inocência em cada um de nós.
A Humanidade, muito pouco civilizada, está sob ataque em todos os ataques em todos os lugares em todas as guerras.
Apenas Amor, Paz, e Bondade a poderão resgatar.
Da minha parte, além de me questionar para lá do que é aparente, sobretudo agradeço a todos os que usando estas armas neste momento, em diversas partes do globo, dão lições desta natureza à Humanidade.

sábado, 14 de novembro de 2015

O coração da humanidade ferido de morte (de novo)

Escolhido o dia mundial da Bondade para espalhar terror e caos 13.11.2015 por gente doente que nada teme, nada tem a perder, nada respeita.

Os europeus, os sírios, os árabes, os sem cor ou credo, de uma só raça, somos todos refugiados e reféns em fuga da mesma guerra: a que é feita por homens doentes, que impõe o medo como forma de fazer ouvir a sua voz. 
Uns procuram encontrar-se com a vida, outros procuram destruí-la. 
A uns ela aguarda, a uns ela sacrifica e a outras ela demencia.
Cubro-me com o único véu que sei vestir. Chama-se paz. Calço-me com os únicos sapatos que me sustentam. Chamam-se bondade.
Como a natureza, sem pressa, cumpre as tarefas que assumiu. E cumpre-as. 
Nós temos uma tarefa a cumprir e África ensina-nos o conceito Ubuntu: só seremos felizes se os outros também o forem, porque somos um.
Não cederei ao medo de entregar o resto da minha liberdade em nome da segurança.
Paz pelas vidas de todos os inocentes que já a perderam e pelos que vivos continuam a usar os dias todos para espalhar bondade.


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"Esperança, do verbo esperançar"

Estou longe, porque também fui obrigada, pela purga a que nos forçaram, desde a imposta austera "crise" de 2008, altura em que os bancos passaram a ser os humanos a salvar, e, os humanos passaram a ser coisas a descartar e fazer falir, mas nunca me desligo da raiz que me coube em destino. a minha Ítaca, Portugal. Acompanho-lhe sempre o caminho como um artista desapegado e bem, acompanha uma obra sua: -quer-lhe saber para onde vai, por onde se aventura ir e quem a quer bem.
Alguns pensam que sou louca por não colocar um padrão de descobrimento e vida em lugar nenhum...
Em todos os que piso, semeio uma árvore, uma planta e celebro um descobrimento: mais um pouco de mim. Comigo carrego os que me tocam. 
Porém, tenho um padrão e esse nunca me abandona: por ser mulher e ainda para mais, portuguesa, ninguém pode abusar, ninguém se atreve a passar o limite da decência quando comigo se confronta. Esses, como-os com prazer aos pequenos-almoços.
A minha bisavó escrava habita em mim. Pisaram-na mas não a dobraram. Eu, mantenho a tradição. De quebrar tradições e nunca me dobrar. Nem que isso me custe o preço de oferecer as costas às vergastadas amarrada a um poste.
Esperanço o dia que o sol vai brilhar, e eu me vou desamarrar e mais uma tradição quebrar.
A tradição foi feita para manter, se tiver na sua essência a bondade, a dignidade, se que respeitar a humanidade.
Todas as restantes são para quebrar em caso de incêndio. Por um lado qualquer se começa qualquer coisa. 
Os homens e mulheres envolvidos na luta actual por um rumo diferente no país, por quebrar tradições, são os extintores.
São os homens que escrevem as suas histórias, que acrescentam tradições, sistemas políticos, económicos e sociais (escravatura foi tradição, apartheid foi tradição, racismo é tradição, o dinheiro é tradição, entre alguns exemplos).
São tempos, e, estamos sempre a tempo, de ter esperança, do verbo esperançar. 
Dos navegadores portugueses, das sufragistas, dos escravos, dos colonizados, dos aventureiros que buscavam vida ao partirem na Companhia das Índias, dos refugiados de todas as guerras que fogem da morte ao encontro da vida, dos novos emigrantes (no caso concreto dos portugueses) todos se encontram com os Adamastores de serviço. Ou com os cínicos, os perversos, os oportunistas que Camões também escreveu. Os que quebraram tradições e dobraram Cabos violentos, foram nossos antepassados. Com muito medo fizeram-se à dobra e chegaram a novos oceanos. Desconheciam o que estava do outro lado, no entanto, nomearam a Esperança do verbo esperançar, como o vela orientadora.
Não sei o que estes homens e mulheres conseguirão fazer. Mas já começaram a mudar algo subtil. Se estão por bem, os ventos conduzi-los -ão a portos fecundos.
Quando temos medo da mudança, fugimos de nos confrontar com ela. Estes homens e mulheres, a partir do medo do desconhecido, abrem caminho à esperança. Abriram as velas e o vento dos tempos que estão a mudar empurram-nos.
A esperança do verbo esperançar começou a mostrar-se uma força, na acampada do Rossio há uns anos atrás. Jovens e jovens mais velhos que não se revêm neste sistema capitalista sem freio. Nem na política corrompida. Nem no sistema de representação obsoleto. Nem numa dívida que não se sabe se onde vem, como veio, porque existe, de quanto, e a quem. 
Ali gritava-se: já não conseguem enganar todos. 
Esta foi a semente da mudança. Eu estava lá e senti um orgulho profundo do meu país e da gente que me deu alma.
Hoje ao ter noticias da minha Ítaca volto a esse estado de espírito. Tenho esperança do verbo esperançar.

A esperança do verbo esperançar vem de Mário Sérgio Cortella um professor que me inspira há muitos anos. Deixo aqui o vídeo que recebi da minha professora de História também ela uma fonte de inspiração ao longo da minha vida.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Algumas considerações sobre activismo político, direitos humanos, prisões arbitrárias, ditaduras e falta de liberdade de expressão.


É preciso não temer a liberdade para se oferecer a vida por ela.
Cada um deve fazer o que se sente inspirado a fazer e essa é a beleza da liberdade.
Foi assim com os resistentes à ditadura de Salazar e com todos os ditadores mundo fora. Com gente desta fibra nasceu a Resistência durante a Segunda Guerra Mundial. A série Alô alô conta como foi para quem se quiser lembrar.
Gente de todas as idades fez ao longo da História, parte de movimentos clandestinos de luta contra opressores. Resume-se aqui a história da Humanidade. Opressores e oprimidos em lutas fratricidas.

Todos os seres humanos procuram ver as suas necessidades satisfeitas sejam elas de que natureza for. E com vista a esse fim, melhor ou pior, individual e colectivamente desenvolvemos estratégias.
Com os recursos que a terra nos oferece de mão beijada algo inscrito no ADN da natureza humana sobressai: a ganância. E a estratégia passa a ser, uns terem mais do que outros e sujeitar os seus pares a situações extremas de sobrevivência.
A pobreza é o dinossauro nunca extinto para bem reinar (mesmo que declarem que a extinguem em 2030 e eu assino a declaração). A vaidade humana usa desde tempos sem memória a rede social da ostentação porque não lhe chega apenas o desejo de ter mais do que o outro. Precisa de mostrar.
O mundo vive num estado de profunda e patente hipocrisia, de guerra permanente e, medo constantemente latente. 
Resume-se aqui a história dos símios pouco sapiens que somos. Apenas variam as vestes. Ou seja, a moda evoluiu bastante. Libertou-nos das quatro patas e pêlos, para pesadas armaduras até chegarmos aos leves drones e ao fio-dental.
Só a nossa estratégia não evoluiu. Oprimirmos alguém menos forte, mais ignorante, mais ingénuo, mais submisso, mais medroso mantendo-o pobre. Vá lá, comecem a desenvolver outras...ou talvez não, estas dão bons resultados!
Homens de elevada estatura, de Ghandi a Mandela passando por Steve Biko e Amílcar Cabral, trazendo no bolso Henry Thoureau, inspiraram e continuam a inspirar gerações. Gene Sharp, o autor que algumas más línguas dizem que é pago com dinheiros americanos, escreveu um livro de resistência pacífica. Livro esse, estudado e inspirador de movimentos de revolução, de movimentos de contra-poder à opressão. De Resistência. As chamadas primaveras árabes. Primavera essa que o regime angolano tem medo. O Inverno é uma estação mais propícia à manutenção do status quo de Angola. Mas é o descontentamento de muitos que já não se deixam enganar. São as sementes que tentaram enterrar e que hoje brotam pujantes. Não precisam que uma qualquer nação lhes pague para resistirem. E se pagarem? Não foi assim que movimentos como o PAIGC, o MPLA, a FRELIMO, ANC lutaram e formaram quadros de resistência ao colonialismo. A história que se seguiu dentro dos movimentos é outra história. Mas tem nome.
Chama-se ganância e ostentação.
Esta é a resistência criada por estes jovens, que vêem o seu povo martirizado, com fome, e, roubado em nome da eterna ganância e ostentação.
Relembrando factos da História, Mandela passou 27 anos na prisão, fez greve de fome, num período que todo o mundo aceitava o apartheid como normal numa sociedade desenvolvida... Ghandi fez greve de fome e resistiu num período no qual o colonialismo (actualmente globalização) era aceite e “tradição” entre nações…
Hoje são inspirações. Talvez encontrem nos computadores e debaixo dos colchões destes jovens, livros com relatos reais da resistência pacífica destes homens. De que serão acusados? De tentativa de golpe de Estado? Pagos por quem?
Outros pensadores inspiraram os homens e mulheres que se propuseram libertar outros homens e mulheres como eles, de domínios absolutos sobre as suas liberdades.
Nunca fomos tão evoluídos tecnologicamente e as redes sociais hoje servem de meio de comunicação alargada entre o mundo inteiro. E isso é fundamentalmente bom. Porque podemos criar grupos de solidariedade do mundo para a Síria, do mundo para Angola, do mundo para o Médio-Oriente, do mundo para as crianças raptadas por grupos extremistas, do mundo para mulheres agricultoras em luta contra a Monsanto na Índia, do mundo para a Guiné-Bissau e seus algozes, do mundo para o Brasil e os Índios que protegem as suas terras e são mortos, e, de um sem número de causas justas que mostram a involução do símio que somos.
As redes sociais que fazem a ponte e ligam os grupos que fazem resistência e contra poder são essenciais para uma sociedade ética. Os livros e os vídeos de pensadores que nos trazem tudo o que já foi inventado desde Sófocles traduzido em pensamento contemporâneo são vitais para a formação e para a educação. Essenciais para desconstruir e desmontar os robôts sem alma em que nos querem transformar. Temos corpo e alma e ambos servem o propósito do nosso percurso na terra.
Uma sociedade sem gente empenhada em salvar um seu par é uma sociedade sem alma.
Não é desperdício dar a vida por causas desta importância. Estes jovens activistas em Angola e Luaty (há trinta dias) em particular, e BingoBingo, estão a dar a sua vida a outros.
Quem sou eu para julgar a sua decisão por mais que me custe e por mais que saiba quem o seu opositor é? Tem sido esse o lema em Angola, vinda de quem um dia por ironia e esta sim uma enorme piada cósmica, quis ver o seu povo ser liberto do opressor colonialista. Ou talvez não. Apenas lhe quis o lugar.
Parece uma piada de mau gosto vinda do cosmos. Mas só nos podemos opor e resistir ao que nos é contrário e naturalmente neste caso, o que vincula a vida à violência.
Foi assim que vimos o mundo avançar, apesar dos pesares. Com resistência e luta. O povo angolano está já a perceber os efeitos desta acção e nunca mais será o mesmo.
Luaty e demais jovens repito-me, encontrar-nos-emos no futuro onde espero que tenhamos uma sociedade mais...humana. É esta a luta.
Hoje no Rossio!
Amanhã 22 Outubro, em frente ao Consulado de Angola em Lisboa.
Os factos:
4 meses após a prisão dos jovens activistas sob a acusação humorística de tentativa de golpe de Estado para derrubar o Zécutivo, ao serem apanhados a ler o livro sobre resistência pacífica...
Mais de 90 dias de prisão sem acusação e sem liberdade como manda a lei.
Vivem em condições que desconhecemos. 
Por todos os angolanos que já morreram à fome governados por um regime que tem comido como se não houvesse amanhã e os mantém na ignorância e na pobreza, estão presos activistas políticos que resistem ao regime e em greve de fome.
Exigem a liberdade imediata de todos como prevê a lei, para que aconteça um julgamento que todos imaginamos será livre e justo...

Há quem peça que parem a greve. Há quem peça cartas de amor. 
Todos os gestos são de amor. Amor pela vida. Ninguém quer ver ninguém nos dias de hoje ser sacrificado como na Idade Média. Evoluímos. A ética e os direitos humanos não são, mas deveriam ser os pilares de qualquer sociedade moderna. Que Angola não é, nem Portugal.
Os gestos de amor dos activistas e os gestos de quem os ouve cá fora, sofrem com esta escolha e, pressionam tudo e todos para que termine este horror. Não deveria ser assim.
Neste braço de prepotência do regime , os jovens estão a ser usados como elemento dissuasor. 
Eles são como Rafael Marques, os elementos de fuga da panela de pressão, que não é mais possível tapar.

Conclusão:
Tudo tem princípio meio e fim como a vida. 
Como as todas imposições do homem sobre o homem-opressor versus oprimido (apartheid, colonialismo, ocupações, e regime ditatoriais).
E este regime tem os dias contados queira ou não.

Estes jovens têm de fazer greve de fome pelos milhões que têm fome e a ela são forçados pelos seus governantes. Felizmente são a consciência do povo e nós com as barrigas confortadas, temos de ser parte da boca que tem fome e que não cala a fome de liberdade.
Hamlet o príncipe de Shakespeare disse que lhe bastava-se a ele próprio com a sua casca noz para ser feliz. A casca de noz é a sua consciência.
Quando se pergunta olhando para a caveira “ser ou não ser?” pergunta-se implicitamente: perante a inevitabilidade da morte quem quero eu ser? Feliz com o ser que é a minha consciência ou ser uma qualquer figura falsa?
Antes ser feliz com a minha consciência pensou Hamlet. Certamente que estes activistas assim o pensam, são verdadeiros consigo próprios, despidos de personagens falsas, por isso se torna mais difícil se relacionar com o mundo que se desenrola no palco das suas vidas.

Agradeço a compreensão de quem me lê, em relação à minha consciência e às minhas expectativas, quem sabe perversas como ser humano, em querer que a ética e a bondade vinguem. O extraordinário é que cada vez mais gente se vira nesta direcção de mudança. Quero acreditar que esta é a boa notícia da evolução.

sábado, 17 de outubro de 2015

Liberdade já!

Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito. (Manoel de Barros)
José Eduardo Agualusa um dos meus escritores favoritos, num artigo sobre Luaty Beirão.
Dizem por aí que podemos ser manipulados com informação que vem de Angola sobre este assunto. Por isso ainda mais vale a pena ler.
E lutar pela vida de Luaty e pela sua (e de todos os activistas presos) liberdade imediata. 
E de caminho lutar pelos direitos humanos e a democracia em Angola (aquela prostituta que o regime demente e doente do zedu usa quando lhe convém e em simultâneo coloca um adesivo na boca quando a usa à bruta para a calar).
Por onde andas tu Ministro dos Negócios Estrangeiros Português? Em corridas diplomáticas sem delas fazeres alarde, para protegeres os teus cidadãos? Assim estou mais descansada...tic tac tic tac faz o tempo

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Somos todos Luaty porque Luaty é cada um de nós


26 dias em greve de fome. Luaty Beirão piora a sua situação e foi hoje transferido para uma clínica onde está em observação.
Só volta a comer se for em liberdade segundo o seu advogado.
É imperiosa a liberdade imediata de Luaty este perigoso revolucionário, que tanto medo está a provocar a um regime que se diz Estado de direito.
Detido sem culpa formada para lá do tempo permitido por lei à prisão preventiva (90 dias- inicio a 20 de Junho).
Este é o facto comum aos activistas.
O perigoso revolucionário Luaty oferece a vida em nome da sua liberdade e dos restantes activistas.
Em nome do seu país que um dia não muito distante viu jovens morrerem porque clamavam a liberdade para a sua pátria Angola.
Esta Nação viu também jovens prepararem golpes para chegarem ao poder.
Alguns desses jovens são hoje velhos, ainda hoje se mantêm no poder e dele nem admitem sair. Nem que concidadãos seus morram.
Ora essa! Era o que faltava!
Estes perigosos jovens são suspeitos mas sem culpa formada, de conspirar um golpe de Estado com o apoio de forças externas...
(e Luaty dá a sua vida a troco de quê? ser herói para a eternidade? Ou virá a receber um poço de petróleo numa off shore?).
Insultem-nos a inteligência que eu gosto.
Fica a minha questão:
Há ainda alguém de bom senso nalguma parte do planeta que pense que um estado deve deixar morrer um seu cidadão que pede a liberdade que tem legalmente direito, e, aguardar do que quer que venha a ser acusado e julgado?
Luaty envolve-se há muito na política como cidadão atento e empenhado em ver o seu país melhor. Tal como muitos de nós. Felizmente.
Deve pagar estas consequências?

domingo, 11 de outubro de 2015

Sobre Luaty Beirão o activista em greve de fome, a ignorância, a liberdade, os direitos humanos em Angola e a malária.

Sei que o governo de Angola e o seu Presidente sem vergonha nem consciência não me ouvem. Ou iria presa como Luaty Beirão e os restantes jovens.Teriam de prender todos e são muitos os que estão imunes ao parasita da grave doença que é o silêncio e se chama ignorância.
A ignorância é um parasita como o da malária. Espalha-se no sangue. Uma pequena picada do mosquito portador que larga o parasita,e, este instala-se no sangue que fica contaminado.
Mata gente. Muita gente.
Ao longo de século XX o parasita foi sendo erradicado de muitos países pelos homens livres e criativos que sonham sonhos altos.
O parasita pode até ficar dormente no corpo humano como o herpes, durante anos e ir acometendo a vítima de relapsos da doença.
Um dia ressurge e mata, se o corpo não tiver criado resistências.
É necessário e urgente erradicar o parasita, apesar de muitos amarem, cuidarem e irem para a cama com o seu transmissor/portador, o mosquito.
Em Angola os que mantêm os jovens presos, os que têm medo dos jovens resistentes, são o mosquito portador do mortífero parasita...
Os jovens activistas felizmente não foram picados pelo mosquito ou, criaram resistências e sonham.
Sonham, como eu, ver chegar o dia da erradicação do parasita. De entre vários parasitas.
Luaty Beirão e tantos outros sofrem do mesmo mal, sonham sonhos que parecem mas não são impossíveis, como o da erradicação de uma doença.
Em Portugal, lamento constatar, o parasita infecta também o sangue de muitos milhares, em particular dos que poderiam fazer algo.
É obrigação dos não contaminados pelo parasita, os que não estão presos na mente, de cuidar de o erradicar.
Não se pode parar este movimento pela liberdade, de quem tem como luta a liberdade, dando a vida ao serviço dela.
Tudo o que se exige é a liberdade imediata para os presos políticos em Angola. 
Tudo o que se exige aos parasitas do governo angolano e seu presidente é um gesto de misericórdia por Luaty, o jovem que está a morrer. 
Porque é inadmissível que num mundo saudável os parasitas se julgem com mais direitos de vida do que a de uma qualquer vida em liberdade.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Um é mau, dois é demais, fizeram vudu

Imaginem um boneco de fazer vudu: o boneco somos nós. Espetaram-nos alfinetes em todos os órgãos vitais. Mataram-nos e eu sei quem é o assassino. Sigam o rasto do dinheiro e de quem beneficiou com a minha morte.

Novo boneco de vudu morto que representa os artistas coligadores...

Eu, fui riscada da lista dos suspeitos. Não gosto de nenhum nem beneficio em nada com a morte política dos coligadores. 
Não preciso de os matar porque eles espetam-se alfinetes e tiros todos os dias. 

Ao tratarem as vítimas (nós) como crianças tontas incapazes de discernir, dispararam o primeiro auto-tiro, tiro este que acertou na omoplata. 
Com a auto-lobotomização levando-os para o campo da hipocrisia e mentira à desgarrada, mas bem agarrada pelos vídeos no youtube, dispararam a seguir nos próprios pés. O boneco está ferido de morte. 
Os seguintes tiros seguem-se na campanha doentiamente triste e ridícula, de carrapatos agarrados à pele,daqui não saio daqui ninguém me tira...

Beneficiam das circunstâncias históricas, tradicionais,culturais e do medo congénito dos portugueses. Somos uns doces queridos habituados a ser tramados, a nunca pedir contas, imputar responsabilidades, obter condenações e nunca mas nunca ressarcidos. 
Por isso temos estes últimos quatro anos (ou será quarenta?) de venda do país a retalho, entre propriedade do Estado, cérebros nacionais em fuga, destruição da saúde, da Educação, da Justiça, da Economia. 
Sem estas base a casa poderá ter paz e pão? Evidentemente que não!

Todos aqueles que nunca mais vão voltar porque deixaram de ser os doces queridos habituados a ser tramados sem ser ressarcidos, espero que vinguem a morte, nas urnas, dando mais um tiro no boneco. 
Estes puderam fugir desta guerra. E os que não podem? E os que não querem? E os que diariamente se viram do avesso para dar o pouco da vida que lhes resta para mudar e romper com o vudu? 

Vemo-nos governados à cintada grey (violentamente amarrados) através dos mercados, que neste jogo capitalista sem fronteiras para o dinheiro, mas com muros e arame para cidadãos, e, com os cérebros lobotomizados ao comando, beneficiam, e, são sempre ressarcidos pelos cidadãos, como o provam todos os casos dos negócios bancários nacionais. 

O curso deste capitalismo brutal que nos comanda à bruta, inevitavelmente está a virar de rumo, porque já são muitos os que vislumbram alternativas, mesmo que ainda não as verdadeiramente desejáveis para romper de vez com o status quo e privilégios adquiridos dos interesses instalados. Sabemos que existem caminhos. Toda a Europa está a pedir novo rumo: 
-Dívidas investigadas, negociadas, perdoadas, trabalho e salários dignos, rendimento que assegure a dignidade da vida, saúde e educação para todos, uma justiça cega, restituição de soberania e das jóias da coroa e, o regresso à nossa língua sem acordos pornográficos entre outros assuntos. 

Plafonamentos a jusante e outras figuras de estilo do desenvolvimentês a montante, são mais tiros nas coxas perto de zonas sensíveis e irrigadas. Quem diz estas coisas sujeita-se a esvair-se. 
Nada dizem e em nada aproximam as pessoas das áreas vitais.

Onde se vai buscar o dinheiro? Tenho a certeza que ele está aí algures guardado a apanhar sol tropical ou a lambuzar-se em chocolates...
Não me venham dizer que não há ou que será uma desgraça sair do Euro uma opção que deveríamos considerar seriamente.
Maior desgraça que a que vivemos hoje por cá? E num mundo cheio de conflitos mas cheio de dinheiro para pagar munições e bancos?

Todos foram os pais e as mães do filho agora renegado. 
Depois do PEC IV a era da pré bancarrota socrática, de quatro anos de "faroeste" e que nos conduz à canção "quem será o pai da criança" tripartida, Portugal devastado, pode escolher de novo entre algozes e artistas de variedades com a canção do bandido.
A carta agora revelada de PPC na oposição mostra bem o carácter da marioneta e a sua subjugação ao pai "mercados". 
Mercados que mandam, manipulam, beneficiam e são sempre ressarcidos pelos cidadãos e jamais perdem. Não se esqueçam.

A Troika e o governo (pai que doou parte do esperma), chamados a fazer experimentos de lobotomização num campo europeu chamado Portugal, esfregaram as mãos e conseguiram realizar legalmente, o maior truque de ilusionismo de sempre: roubar a carteira, a casa, o país, a família, os bens todos, os anéis e os dedos quase sem protesto, num período dos mais negros da nossa História. E deixar o boneco de vudu moribundo.

Se os artistas pais, ganham de novo, seremos um desenvolvido Burkina Faso com estações de metro bonitas. Quem sabe exportaremos as estátuas de algumas para plafonar a conta da cantina da sopa dos pobres?

A arte de um artista da canção do bandido é mentir de forma convincente. É um mago. Distrai da realidade para fazer o truque sem que alguém se aperceba: cometer o crime.

Imaginem o boneco de vudu: o boneco somos nós e espetaram-nos alfinetes em todos os órgãos. Mataram-nos e eu sei quem é o assassino. Sigam o rasto do dinheiro e de quem beneficiou com a nossa morte. 

Vão dar mais um alfinete ao vosso próprio assassino para vos matar? 
Ou, não será mais inteligente, ao perceber o truque, deixar que ele se golpeie a si próprio acabando por se falecer?!