sábado, 28 de fevereiro de 2015

Salvar a cultura- Conservatório Nacional

Uma verdadeira Instituição no País. Onde sempre se semeou, cultivou e colheu gente grande, que transforma o mundo. Gente que nos dá vida com sentido. A única que vale a pena ser vivida. Com música, letras,teatro. 
A vida é uma doença crónica e só tem uma cura possível, através da cultura.Quem a mata, mata a sobrevivência da gente.
E anti-ética é o anátema que nos lançaram: ter medo. 
Que não coexiste com liberdade. Onde há um não há o outro. 
Tão simples a escolha...
Há quem peça a maioria nas próximas eleições...Espero que a maioria fale e veementemente, como os Gregos. Que salvem a liberdade. Que salvem o que nos faz sobreviver. A dignidade.
Comecemos pela cultura, a grande arma do mundo, por isso tão assustadora. Que a arma da cultura seja o medo dos que a matam, e a mesma se vire contra eles, os que nos roubam a liberdade.
A luta pelo Conservatório Nacional e pelos seus alunos e professores é de todos.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

À minha Alice

Acorda num dia qualquer. Um dia que tenha começado, e, como tu, seja um ser inacabado.
Não importa se o frio magoa, se o sol marca, se a chuva te lava. 
Veste o fato sem máscara. Descalça-te. Prepara a tua mochila. Nela guardas um tesouro. O que sabes. O que aprendeste mesmo sem saber. O que queres desaprender.
Desenha um mapa. Colorido de branco. Para pintares a arco-íris de cores.
Uns dias pálidas, outros dias vibrantes. De cores acentuadas, de cores distantes.
Enche-o de estradas, caminhos, trilhos, lagos, rios, ribeiros. Onde queiras desaguar.
Vales de lonjuras, colinas, montes, montanhas com Himalaias de alturas.
Veste-te com um longo manto de sorrisos. Um casaco de amor. Para abrigares quem escolheres. Cobre-te com um chapéu de doçura. Guarda um lenço para enxugares as lágrimas. 
Usa diariamente luvas de entusiasmo porque das mãos vais precisar para te afagares. Serão as tuas asas. 
Pinta-te de alegria para te descobrires. 
Quando os pés estiverem lamacentos de cansaço, cobre-os de ternura. Serão as tuas raízes.
O teu propósito é indefinido. Um mistério. Sem bússola. 
Definida é a escolha de viajares. 
És tu o mistério a descobrir.
O mapa será escrito,desenhado, traçado, encontrado, perdido e marcado, pelos teus passos. Intensos para marcarem o chão que percorres.
Descobre os amores e as paixões a que pertences. Ocupa-te de os construíres,percorrendo-os.
Por ti. Com o poder de ser, quem vieste ser. 
Para completares a poesia, que vieste para ti escrever.

O encantador de almas

O encantador de almas:
-Sinto! Por isso existo como pensamento.
A alma é. Com ela sentimos. Por causa dela pensamos.
Ela dá luz ao corpo.
Entrega luz ao intelecto e às emoções.
Nesse lugar de refúgio,
sento-me e encontro-me.
Até ao momento de dar à luz quem serei.
Onde me poderei a(l)mar sem fim.

O pensador, de Rodin, nesta obra de Bansky é o retrato da humanidade que perdeu a sua alma. Nos seus escombros, o pensamento precisa de se sentar, recolher-se ao lugar silencioso onde tudo existe com a luz da alma.
E voltar a sentir. Engravidar-se de luz e renascer. A partir da alma, o onde tudo é. Onde nos podemos voltar a encantar.

Sinto-me cansada de violência diz-me a alma. Quero sair deste ciclo.
Pensemos pois os nossos escombros. Sintamos a alma. E renasçamos com ela.
Respondo-lhe: como Phoenix.
Dos escombros da Grécia, Phoenix ergue a sua alma. Chegará certamente o nosso dia.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

De armas apontadas à cabeça!


Mais mortes em Portugal. Mais suicídios na Grécia. Mais, mais, mais…desespero.
De gente como nós. Com fome. Aqui à porta de casa.
Aqui da janela onde observo e ouço, dói-me. Não somos vistos como inocentes. Somos apontados como culpados. Vivemos à custa de quem de facto trabalha muito, produz, desconta e constrói. Nós, no sul, somos como bactérias que se alimentam do sangue dos outros. E do seu suor.
Transformaram-nos em parasitas. E a quem pedimos nós contas do que nos transformaram? A quem processamos por crimes contra a Humanidade?
À troika agora desaparecida transformada elegantemente em “instituições”? Aos governos de cada país? À Alemanha? A quem salva bancos e não gente?
Gente da Europa:
Por baixo de almofadas de polyester
comidas pelo tempo,
gastas por tantas lavagens sem amaciador,
esconde-se a vergonha e a miséria,
as lágrimas de sofrimento
uma côdea bolorenta
à espera de ser devorada
em pratos descoloridos, por tantas lavagens sem sabão
escondem a vontade de um pouco de qualquer outro sabor
mostram a fome,
o orgulho de quem deixou de ser gente
a vergonha de ser gente,
e nós, por não falarmos, deixamos de ver?
Deixamos de saber? Deixamos de ouvir falar de tanta desta gente,
Que deixou de ser gente?
mas que é tão gente quanto os senhores de gravata
que se reúnem em salões aquecidos
com intervalos de repastos longos,
onde a vida desta gente, gente como eles,
se decide como se não fossem vidas,
como se não fossem gente?
por ser eu e tu, é urgente,
dar voz a essa gente
e dizer à outra gente, que da matéria de parasitas
não somos feitos.
Há sim parasitas bem oportunistas
Sem qualquer remorso ou consciência
Que esconde, que rouba e que mente
Sanguessugando o sangue da gente
Como arma,
palavras jorrar-me-ão do dedo médio

enquanto eu for gente…

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Armagedão...

Ó Deuses! Venham-me reabrir as portas da esperança!
Depois de ler declarações de vários abutres, absolutamente criminosas nos seus conteúdos sobre o mundo, e alguns néscios lusos, e, alguns declarantes que deveriam seguir directamente para a prisão Património da Humanidade que seria finalmente e de facto a de Évora, por crimes contra a Humanidade, eis que leio que a RTP vai manter o festival da Canção...a minha capacidade para reagir limita-se a...

Ninguém quer saber o que penso mas este hospício está a transbordar de loucura. Cuidem-se e abafem-se. 
Afinal as senhoras das testemunhas de jeová sempre tinham razão! O armagedão anda mesmo a rondar esta bolinha . 
Sobretudo desde que o sol começou a girar à sua volta (a nova teoria de um dos internados no hospício).

Apeteceu-me voar para fora deste ninho de cucos!

Alemanha versus Grécia

Somos na terra o hospício da galáxia.

Hoje Alemanha versus Grécia. Hoje a História versus História. Hoje a pré-História versus nova História

Continuar a deixar a política do país (ou da EU) nas mãos de néscios é como deixar a literatura nas mãos de analfabetos, cultura nas mãos de imbecis, educação na mão da religião, cocaína nas mãos de toxicodependentes, ou crianças nas mãos de pedófilos. Será sempre abusado, manipulado, chicoteado, drogado, arrastado para o subsolo da miséria. A política precisa urgentemente de um rumo novo, diferente histórico com gente que faça história. 

A alma que os meus olhos vêem



Naquele preciso instante do sopro do vento 
quis ir com ele
para que me ensinasse sobre o seu ser 
como ser livre redemoinhando sem pensar
para afagar cabelos distantes
soprar em lábios queridos
abraçar com beijos
voar lonjuras num instante
torná-las pequenas num momento.
Tentei agarrá-lo, confesso
com força para não mais andar contra ele. 
Ah insanidade…
no instante a seguir,
voou-me por entre os dedos.
Mas ao meu sussurro desesperado 
-leva-me…
voltou sem hesitação
pegando-me nesse instante,
com uma caricia de enorme leveza
e eu deixei para trás o peso do mundo.
Se a caricia num segundo de tempo
sentiste num qualquer momento,
era eu, fui-te beijar 
enquanto aprendia a dançar com o vento.




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Mesmo soFRIDA jamais me KAHLO

Parabéns Frida Kahlo.
Mulher, pintora,
dos traços da vida e das suas dores
com cores abençoadas
És sobrevivente de elevadas doses de quebras:
nos ossos, no coração, na saúde, nas escolhas sexuais, nas escolhas políticas
jogaste o jogo da vida vivendo intensamente
como se o oxigénio que precisavas
devesse ser usado apenas para quem vieste ser.
Cheia de medos que transformaste, inseguranças, sombras e luz
E muita coragem. Como tantas mulheres extraordinárias.
Foste quem quiseste ser na vanguarda e para além do teu tempo,
como tantas mulheres de excepção
Mesmo com todas as quebras, quando chegou o final da vida
foste mulher inteira.
A minha homenagem a uma mulher que admiro ainda hoje.

Gostava de ter nascido poeta

Gostava de ter nascido poeta
Para explicar a alegria e a dor,
o que me demencia, o que me maravilha.
Os poetas sabem por dentro da pele
que são feitos de amor,
conhecem-no por senti-lo na perfeição da solidão.
Respiram o oxigénio das palavras,
correm-lhes palavras nas veias
transformadas em sangue
por tanto sentir.

Eu, que tanto queria ter nascido poeta
Também nasci do amor,
e sinto
quando me corto,
quando me expando,
que no lugar da dor,
no lugar da exaltação,
jorram palavras vermelhas
de oxigénio,
escritas para sobreviver.

Quem sabe,
por ser amor,
quando um suspiro me sai do coração
uma pequena célula tenha rasgado a corrente
e eu
afinal,
tenha nascido poeta.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Fim desta UE sado masoquista

Há uma aldeia grega que resiste e é a Khatarsis desta tragédia, 
Tsipras e Varoufakis descobrem o ponto G nas 50 sombras da relação de bondage na EU: a G deixou de ser passiva e submissa. 
Não ao uso do chicote deste capitalismo!


Ó Deuses do Olimpo!! 
diz a moribunda UE - vulgo Casino mortal para os cidadãos normais que não pediram para ir a jogo nem querem continuar neste jogo de puro dinheiro de usuários para salvar ricos e querem sim políticas de dignidade - : agora faço-te um ultimato e manobro à minha vontade...
que desplante!! mas os moribundos têm direito a fazer ultimatos? E manipulações? 
E nós (os gregos) devemos ficar loucos para lhe fazer as vontades? 
Alemanha e França a manipularem em nome de quem? Dos seus eleitores?
Continuo Grega!
Se cair, caímos todos e é do chão do Olimpo que nos levantaremos. Como desobedientes e corajosos que deveremos ser.
Não deveremos deixar abrir mais nenhum portão para um comboio terminal.


A entrevista a Varoufakis no final da reunião. Afinal havia um documento que foi trocado...

http://www.snappytv.com/tc/481046

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Light

I know for certain
the moon is tidally locked with earth
always facing us
all sides receiving the sun light
not ever having a dark side
such the love of those
who know for certain
beyond the skin and flesh
beyond what lays under the masks
tidally entrenched between
both sides of the heart
looped in the soul
bathed at all times
with the light of the sun
darkness cannot exist
I know for certain
earth love and the moon
will shine in the bright side
the only one there is
beyond my heart´s uncertainties


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Despedida

Querido governo,

Deixo-te a minha oração ao levantar o pé quando subi para a manga de um avião na minha Portela, hoje porta de um país devastado, sem alegria, sem carnaval, onde não quero estar, onde me vejo grega para ser quem quero, onde até o amor é uma obrigação para pagar dívidas, onde não quero pagar nem mais um tostão de juros ou dívida que não fiz ou pedi, nem vos cobrir o bluff, na jogada de poker com que me têm usado:

-“Vou partir, naquela estrada onde um dia cheguei a sorrir”: podes ficar com as auto-estradas, as scuts, os bancos falidos, os submarinos, os centros comerciais, os empreendedores com punho, os carros de alta cilindrada das facturas sem sorte, as motas do soares dos pobrezinhos, os bifes da jonet, os corruptos, os partidos políticos, os deputados, o espírito santo e o homem que em lugar das células tem um cavaco que são embirrentos e parecidos contigo.

Quiçá com os lusos que já partiram, podemos fundar um novo país, talvez nas Selvagens, com um acordo Selvagen com interdição à vossa entrada.

Levo o fado, o cante, o queijo da serra, os vinhos, o sol, a serra algarvia e o Alentejo!


Retrato de António Barbosa,

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Desconhecido

Anda comigo diz-me o desconhecido batendo-me ao de leve no ombro. Segue-me, puxando-me o braço. Eu sigo-o sem hesitar, cumprimentando-o: olá. Aqui estou! É dentro dele que me perco e me acho.Damos o braço e continuamos a andar. Encolho os ombros,para quê saber para onde me leva? Se tropeço, ampara-me, se caio...senta-se ao meu lado e espera que eu recupere as forças, que a respiração volte a ser serena.Diz-me enquanto caminha: tens todos os trunfos.O jogo pertence-te. Eu ouço-o atentamente,sorrindo séria pensando no que me diz. Sim, não deixarei que a vida jogue por mim. Estou cá para participar.Dói sussurro! Claro que dói, alguém nasce sem dor? Para a mãe e para o bébé? quer saber suavemente. Concebes uma planta a rasgar sem dor para a sua raíz e para a terra que é esventrada? Voltar ao teu centro, rasgando, rompendo, agarrando-o. Mesmo que doa, eleva-te no caminho de te revelares. Como um pássaro. De ser quem vieste ser. Agarro com força o braço do desconhecido e sigo com ele. Elevando-me.

“I was introverted as a child. But when we were in dance class, where you had to project and express yourself, it was a release. Somewhere along the way, I realized I loved being able to step out of my shell.” --Jacqueline Green

Copyright Richard Calmes

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Corpo de mulher

Well done CC. Mille grazie! 
Contra os estereótipos, aqui vai prosa. Para as mulheres que se amam e que não se amam nas suas peles. Para os homens que amam as mulheres com os corpos que elas vestem.
Na escravatura da imagem, de quem temos que parecer, a perfeição das linhas, eu sou todas as mulheres. De corpo vivido. Usado para me carregar a alma. Onde habito. Invadido por desgastes, rugas, tristezas, dores, marcas, manchas, nódoas, larguras e encolhimentos. Com os sinais do tempo alojado na vida, mostrada através dele. O lugar que descubro para descansar a minha alma. Ou para a desencaminhar. Sempre, sempre para a cumprir. Quantas vezes não me sinto bem na minha pele, despida, na imagem que o espelho reflecte. Quantas vezes me envergonho por não corresponder ao ideal da mulher que me vendem, mas este é o meu corpo, digo com pena, sem orgulho. Ah não, acabei de te esculpir mais uma marca, prometo não mais o fazer, tu que tens sido o meu companheiro. Devo-te esta homenagem. Por amor e devoção. Evoluíste de pequeno, largo, com pregas, vestiste-me de vários tamanhos, os feitios foram mudando, ensinando-me que a isso se chama crescer. Mudaste a roupagem a teu belo prazer, nas várias idades, querendo ensinar-me a respeitar-te. Nem sempre estive à tua altura. No entanto estás aqui, vestes-me as mãos e o coração. Coberto de rugas, esculpidas pelo passar dos anos. Porque és tu que me deixas viver essas mesmas rugas. Umas profanas, outras sagradas.
Como tu meu templo. Fonte de pecado, fonte do sagrado.
Minha pele que cobre quem sou, com a dignidade própria de existir mas não me definindo o ser.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Anatomia de grey ou o Síndrome de grey

Anatomia de grey ou o Síndrome de grey (como disse a minha amiga Rita Jordeen).
Quanto cinzentismo vai por esse mundo! Sinto-me enfadada ao olhar tanta gente subnutrida de inteligência e bom senso. E eu cheia de arrogância.
Basta de ouvir falar de 50 cenas à grey. Mas antes, preciso de desabafar. É uma sensação sádica que tenho para os masoquistas que me lêem.
Gostamos de muita porrada, chibatadas, olhos vendados e comportamentos esquisitos?!
Ou somos todos voyeurs grey e não sobra mais nada?
A situação económica, social e política e sobretudo familiar (onde se mata) do povo (no geral, a entidade a que pertencemos todos) ficou insana e entrou numa espiral de merdoso cano de esgoto deixando-nos assim?
É a anatomia em forma de espelho da obsessão, pós lobotomização, que vejo no amor ao livro/filme.
Ou é o síndrome da falta de erecções e orgasmos?!

Da história de violência:
Prometo amar-te…
Até que a morte nos separe!
Dito pelo marido à mulher, ou o político, ou a troika, os credores, os bancos, as corporações a essa massa que é o povo, antes de a (nos) violar, maltratar e…matar. E neste caminho seguimos?

Dirão os sensatos: cada um deve naturalmente fazer o que gosta. E ler e assistir aos filmes/livros que gosta. E pelo sucesso do “traila”, das vendas de bilhetes e do conteúdo do livro, as nossas vidas devem ser de facto muito enfadonhas e chatas. Invento eu.
Vamos então encher a conta bancária de mais uns que dizem que fazem “arte”. Pálida e cinzenta. Que me rouba tesão. Mas isso sou eu, invejosa que não entendo a loucura instalada mundo fora..
Sem mais desabafos vou calçar as socas e teletransportar-me para outro planeta até que este tenha mais cores para escolher.
Ou desapareço-me no meio das tulippeenn. Essas não dizem: vou foder-te com violência. Rompem a terra com poesia, simplicidade, entusiasmo e 50 cores sem sombras de grey.
Vou florir-me para esquecer. Sempre é mais suave.

Estou curiosa por ler o RAP ou o resumo do Senhor Américo pelo mesmo autor, sobre esta obra que se tornará clássica em fama, para poder ter finalmente uma epifania: ele ata-a, dá-lhe porrada, espeta-lhe os saltos no esófago, salta a rótula, ela gosta. Ambos têm um orgasmo…fim!
Hum...demorei cerca de sete segundos a escrever e a imaginar. Imagino agora a quantidade de erecções e orgasmos numa trilogia de 500 páginas cada.

É muito sexo! Sempre dá para esquecer a troika e a austeridade e a violência dos nossos dias. Pelo menos em 50 cores diferentes.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A maldição do oráculo de Delfos


Sou Antígona, a grega.

Estou a tentar aprender com os gregos. Desde que descobri as suas tragédias. Aliás todos deveríamos ser obrigados a aprender com elas. Falam de todos nós. São um exercício enviado por Zeus, para nos ensinar sobre a natureza humana. Que nos distrai e desvia (a natureza) com o que de mais impiedoso, caótico e mau, e o seu oposto: a essência do amor, que é por inerência, o bem.
Ó se deles, dos gregos e das tragédias aprendêssemos… teríamos conquistado a medalha olímpica do conhecimento sobre a existência individual e a existência colectiva.
Mais uma vez é para eles que devemos olhar e com eles aprender.
Antígona - aquela que se opõe - nasceu da tragédia entre seus pais, irmãos entre si: Édipo e Jocasta.
Opôs-se ao ódio. Viveu para e por amor. Quem sabe a metáfora para a União Europeia. Abençoada por Zeus como Antígona, com o propósito de partilha, protecção, união, solidariedade e espaço de crescimento em liberdade. Para um novo renascimento após duas bárbaras guerras.
Para alguns o Santo Graal conseguido com esta santa aliança de cavaleiros numa távola redonda (já estou a misturar as tragédias) para enriquecimento ilícito, palco de manobras, de conflitos, vinganças e arrogância.
Recuperando a tragédia…Creonte, irmão de Jocasta, toma o poder com a morte de Édipo e fez-se rei de Tebas, pela violência e arrogância.
Antígona opõe-se a Creonte nas suas decisões, acções e proibições onde a maldade, a ambição e a frieza se mostram cruamente. Sem brincadeiras de crianças.
Presa e condenada por Creonte a ser enterrada viva, como a pena a que a Europa foi condenada, Hémon seu noivo, relembra implorando a seu pai Creonte, que sábio é quem muda de ideias e opiniões. Creonte (a poderosa Alemanha) não o escuta, nem aos sábios velhos de Tebas.
Um cego, Tirésias, adivinhador, alerta o rei para a tragédia que se abaterá se não souber mudar.
Creonte depara-se com Antígona enforcada e a seu lado chorando de raiva, o seu noivo Hémon. Pede para que o pai o mate (antes a morte que a agonia de ver morrer a dignidade que resta). Creonte foge. Hémon suicida-se. Eurídice sua mãe suicida-se também não aguentando a angústia, a dor da perda, o medo. Creonte chora devastado clamando:
-«ao redor de mim tudo é ruína, tudo oscila! Abateu-se sobre mim um destino implacável».
O destino de Édipo, de Antígona, de Hémon pode ser o nosso, se Creonte não for sábio e mudar. Sabemos que ele não ouve nem cegos sábios, nem sábios velhos.
Mudar não como mudam uns, por conveniência, quais crianças a brincar aos países a liderar exércitos de imbecis. Mas já não somos assim tão imbecis. Ninguém é inocente. No entanto já sabemos quem desviou riqueza, quem tem ambição desmedida, quem mata e queremos mudar. Resta-nos ser Antígona e esperar um final menos trágico. Se aprendermos.
Antígona ousou desafiar quem se julga Creonte, e, esta deve ser a simbologia da Europa. Opor-se firmemente a ser conduzida por Creonte. Antes que a maldição de Delfos nos afunde numa maior tragédia.
Por não querer viver mais tragédias, sou a grega Antígona.