quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A maldição do oráculo de Delfos


Sou Antígona, a grega.

Estou a tentar aprender com os gregos. Desde que descobri as suas tragédias. Aliás todos deveríamos ser obrigados a aprender com elas. Falam de todos nós. São um exercício enviado por Zeus, para nos ensinar sobre a natureza humana. Que nos distrai e desvia (a natureza) com o que de mais impiedoso, caótico e mau, e o seu oposto: a essência do amor, que é por inerência, o bem.
Ó se deles, dos gregos e das tragédias aprendêssemos… teríamos conquistado a medalha olímpica do conhecimento sobre a existência individual e a existência colectiva.
Mais uma vez é para eles que devemos olhar e com eles aprender.
Antígona - aquela que se opõe - nasceu da tragédia entre seus pais, irmãos entre si: Édipo e Jocasta.
Opôs-se ao ódio. Viveu para e por amor. Quem sabe a metáfora para a União Europeia. Abençoada por Zeus como Antígona, com o propósito de partilha, protecção, união, solidariedade e espaço de crescimento em liberdade. Para um novo renascimento após duas bárbaras guerras.
Para alguns o Santo Graal conseguido com esta santa aliança de cavaleiros numa távola redonda (já estou a misturar as tragédias) para enriquecimento ilícito, palco de manobras, de conflitos, vinganças e arrogância.
Recuperando a tragédia…Creonte, irmão de Jocasta, toma o poder com a morte de Édipo e fez-se rei de Tebas, pela violência e arrogância.
Antígona opõe-se a Creonte nas suas decisões, acções e proibições onde a maldade, a ambição e a frieza se mostram cruamente. Sem brincadeiras de crianças.
Presa e condenada por Creonte a ser enterrada viva, como a pena a que a Europa foi condenada, Hémon seu noivo, relembra implorando a seu pai Creonte, que sábio é quem muda de ideias e opiniões. Creonte (a poderosa Alemanha) não o escuta, nem aos sábios velhos de Tebas.
Um cego, Tirésias, adivinhador, alerta o rei para a tragédia que se abaterá se não souber mudar.
Creonte depara-se com Antígona enforcada e a seu lado chorando de raiva, o seu noivo Hémon. Pede para que o pai o mate (antes a morte que a agonia de ver morrer a dignidade que resta). Creonte foge. Hémon suicida-se. Eurídice sua mãe suicida-se também não aguentando a angústia, a dor da perda, o medo. Creonte chora devastado clamando:
-«ao redor de mim tudo é ruína, tudo oscila! Abateu-se sobre mim um destino implacável».
O destino de Édipo, de Antígona, de Hémon pode ser o nosso, se Creonte não for sábio e mudar. Sabemos que ele não ouve nem cegos sábios, nem sábios velhos.
Mudar não como mudam uns, por conveniência, quais crianças a brincar aos países a liderar exércitos de imbecis. Mas já não somos assim tão imbecis. Ninguém é inocente. No entanto já sabemos quem desviou riqueza, quem tem ambição desmedida, quem mata e queremos mudar. Resta-nos ser Antígona e esperar um final menos trágico. Se aprendermos.
Antígona ousou desafiar quem se julga Creonte, e, esta deve ser a simbologia da Europa. Opor-se firmemente a ser conduzida por Creonte. Antes que a maldição de Delfos nos afunde numa maior tragédia.
Por não querer viver mais tragédias, sou a grega Antígona.

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