quinta-feira, 9 de junho de 2016

Juntos nos elevamos, sozinhos desaparecemos


Quando nascemos a primeira coisa que fazemos é inspirar oxigénio profundamente e gritar com o susto que nos impõe. Rapidamente perdemos a memória desse primeiro momento avassalador de uma vida fora do útero. Tiraram-nos do único lugar seguro, escuro, onde a vida é apenas paz e decorre sem sobressaltos. Queremos para esse lugar voltar de cada vez que a morte de alguém que amamos nos toca, quando a rejeição nos persegue, quando a solidão nos deixa desarmados, quando a força nos foge, quando a segurança está ameaçada. Depois...
Vou dizer um cliché das lições que tenho aprendido, o homem nasceu para viver em tribo. Em nome de segurança, força, e sobrevivência. Sozinho, atirado aos elementos da natureza e aos elementos contra natura sobreviverá pouco, ou morrerá por dentro, ou tornar-se-à um louco criativo desligado do grupo e funcionará apenas para a sua própria sobrevivência numa morte lenta e dolorosa.
Observando a vida de uma cidade frenética abano a cabeça parabenizando os génios da criação da vida pós-útero.
Foi de génio a ideia de desligar as pessoas umas das outras desligando-as também dos elementos naturais, desligando-as e separando-as das famílias por razões de trabalho (em altíssima intensidade), estudos -alguns sem finalidades construtivas ou reais-, dinheiro, dívidas, tudo isto em nome da veneração à máquina de consumo, propaganda e poder. Muitos ficam loucos, perdem a criatividade, não têm a força do outro nem encontram segurança, ambas necessárias para a sobrevivência. Perecem simplesmente. Quando o ser humano finalmente consegue parar para descansar e aproveitar, está exausto. E morre. Enquanto tudo isto ocorre uns poucos vão destruindo o único lugar conhecido com o oxigénio que inspiramos para existir. Tal ideia é de génio.
Foi genial impôr sistemas educativos formatados, obrigatórios, iguais para todos. Todos entramos diferentes e acabamos a pensar num modelo igual e se sairmos do esquema-a caixa-somos obliterados pela máquina montada e, completamente ostracizados. Este modelo da solidão não é suportável para o ser humano por isso acatamos serenamente. Sabemos intuitivamente que nascemos para viver em tribo.
Tornamo-nos passivos, agressivos e apáticos. Fáceis de manobrar. Ideia genial.
Foi genial criar hierarquias e grupos de poder. Os privilegiados e os outros. As elites e os outros. Morte sem viver e viver para ver chegar a morte é o único destino no caminho dos outros pensaram os génios.
Os génios por esta hora riem-se felizes e deixam os outros atarefados com as suas provas olímpicas de sobrevivência, entre algum entretenimento e veneração nos lugares de culto e adoração criados por outros génios. Absolutamente genial.
Como me lembrou um filósofo, cada vez tenho mais "bícepes e mais pancêpes" e graças à lei da gravidade tudo o que posso fazer é desabafar trivialidades sobre esta experiência, para o papel. Tudo começa a apontar para baixo.
Lamento que não se concretize a ideia genial de Woody Allen para a vida, que não nos deixa ser felizes começando velhos, evoluindo para jovens e acabando num orgasmo.
Admiro a vida. Essa corajosa malandra que diz que no final destes jogos de poder vou ganhar uma medalha por ter tentado ser enquanto vejo. Ver o caminho que faço entre nascer e morrer e nele ser.
Na hora de nos despedirmos é nisso que todos vamos pensar. Quem somos, quem fomos em relação às tribos que pertencemos. O que elas significam para nós e como nos conseguimos elevar por causa deles. O que significamos para eles.
E essa é a única genialidade que me ocorre para combater os tais outros génios que inventaram a separação entre os seres humanos.
Só quero sair de cá sem nunca cortar o cordão umbilical com as minhas tribos, para ser uma com elas e me elevar no momento de expirar.
Ubuntu!

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