domingo, 30 de agosto de 2015

Um mundo radical

Escrevi agora e dedico à minha amiga Ana Malafaia que me inspirou e me ofereceu palavras. Inspirou-me com as nossas conversas sobre o mundo.
Ela que se sente e é uma nano bactéria no combate aos radicalismos neste mundo que também não é o dela, mas como eu, respira-o. 
É dedicado a todas as nano bactérias que combatem com esperança os radicalismos e se recusam a usar o código de Hamurábi para os combater.


No meu mundo radical
tudo está inventado
tudo está pensado
tudo praticado
radicalismos e intolerâncias
soluções e bem-aventuranças
neste mundo que não é o meu
mas é o mundo onde sou esmagado
onde o medo foi o programa instalado

medo de perder a casa, o trabalho
a estabilidade financeira
medo de perder a família
medo de perder a vida inteira

a história do mundo é feita de guerras
de estados terroristas pestilentos
células malignas
de intolerância
xenofobia e morte
e nós que queremos apenas existir
vivemos mergulhados 
nos seus excrementos
e pouco conseguir

os estados radicais
estão de novo a conseguir
dominar
metade do mundo tem medo
da outra metade
ninguém diz a verdade
já só o medo faz pensar

querem-me radical
xenófoba, racista, intolerante
contra judeus, católicos
palestinos, muçulmanos
ou demente,
a combater a luta 
olho por olho dente por dente

não vejo solução
para este mundo mortal
que me quer parcial
a combater radical com radical
vim eu a este mundo
para ser este feio radical?

não, não cairei nessa armadilha
reconheço no espelho
no outro que sou também eu
o meu deus
na mesma trilha

não, não caio na armadilha
de ser intolerante e radical
mas serei bactéria radical 
nano organismo 
radical
prenha de fé 
imortal
na barriga prenha
de nano bactérias
dentro do mundo
no combate ao medo
dos que fazem do meu mundo
um mundo anormal
e radical


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O circo chegou à cidade

O circo chegou à cidade

Cautela e caldos de galinha. Andam à solta animais rastejantes completamente identificados. Nas próximas semanas iremos ser tratados como estúpidos, imbecis e com elevado grau de deficiência mental. 
Pelos animais autistas, fugidos do circo e, em campanha. Estão vestidos de palhaços mas são cegos e surdos aos seus próprios olhos e ouvidos. Porém falam muito. 
São os mestres de cerimónias em disfarce e embuste.
Se os ouvirem com discursos de vencedores, desconfiem ainda mais. Estão sob o efeito do poderoso alucinogénio chamado poder. 
Cautela e caldos de galinha. Estes terroristas do universo contemporâneo estão armados de propaganda e manipulação e julgam-se a ultima bolacha do pacote em tempo de fome.
Se vos tentarem vender banha da cobra,desconfiem, mudem de caminho, gritem pela polícia :socorro vem aí um político da coligação e dos outros que por lá andaram a comer desde que descobriram o ovo de Colombo que é roubar um Estado!

Lembrem-se dos milhares que perderam as suas casas, empregos, famílias para a emigração, meios de subsistência,crianças com fome nas escolas, hospitais sem médicos, enfermeiros ou capacidade de resposta, lembrem-se serviços de apoio a idosos que desapareceram, pensões roubadas, nova escravatura com contratos de 1 mês, ou recibos verdes, salários terceiro-mundistas e largos milhares no desemprego, lembrem-se dos negócios ruinosos feitos por eles, em nome do Estado, para estes animais devidamente identificados beneficiarem.
Quando ouvir a frase desacreditadora " mas votar em quem"? Os outros não têm experiência...
Corra, corra, corra para bem longe ou voe num drone se preciso for.
A experiência adquirida por estes animais circenses é de se aliarem no roubo fazendo mais do mesmo. 
Os inexperientes são os navegadores portugueses.
Se os navegadores não tivessem sido afoitos e não tivessem pensado fora da formatação dos velhos do Restelo, o caminho marítimo para a Índia teria sido uma travessia de descobertas...dos mouros.
Não sejam tótós, nem se tornem aqueles adultos infantilizados a colorir livros para crianças. 
Estes são tempos de resistência, de rebelião. 
De fechar nas jaulas os animais ferozes e perigosos que andam à solta.
Não esqueçam, eles são simplesmente as bolachas podres do pacote.
Para não sermos todos atacados por um vírus causador de maiores diarreias, não as comam.
Antecipem e tenham cautela. Bebam caldos de galinha.
Sejamos os navegadores da esquadra capitaneada por Gil Eanes ou Vasco da Gama.

Os Deuses quando zangados clamam por sacrifícios sangrentos dos humanos. Lembrem-se que os Deuses contemporâneos são estes animais a quem não devemos dar mais do nosso sangue.
Ou seremos os animais da imagem: afundamos no nosso próprio veneno enquanto tiramos um retrato ao acontecimento. 
Seremos julgados na História como um povo não apenas narcotizado pelo circo mas verdadeiramente estúpido.


domingo, 23 de agosto de 2015

África


Nasceu abençoada
mulher,
continente no masculino, 
subjugada, violentada, sem destino
por ela canto hinos
carrega filhos que a debilitam
que a deixam exangue
dentro de si o céu nasce em tempestade
o sol deita-se sangrando fogo
abriga-me sonhos
de vida
as vozes que nela nascem
e por ela pedem paz
são a sua profunda essência
"she lives a life she didn´t choose and it hurts like brand new shoes" Sade,Pearls
Aos africanos, em especial aos activistas dos direitos humanos, que vivem debaixo de ditaduras e pedem paz dando a sua própria vida.
Em especial par o chão onde o meu umbigo está enterrado, Guiné-Bissau Para quando a re-evolução?
Aos artistas cabe jogar com a arma que têm em nome da paz.
Seja musica, poesia, literatura,pintura...

sábado, 22 de agosto de 2015

Pinheiros, finitude, ouro e fascismo

Eu era uma criança de sete/oito anos, apanhava pinhas para retirar os pinhões, que partia com uma pedra para comer o seu fruto. 
O meu avô, que me dava livros que falavam de algo desconhecido como a liberdade, ensinou-me o valor que ela tinha. Vivia-se na ditadura em Portugal. A maioria das pessoas era pobre. Eu era pobre. Nada faltava na mesa,mas os sacrifícios eram grandes. Nem eu tinha consciência quanto.
Enquanto partíamos pinhões o meu avô explicava-me Goethe e Tolstoi.
A filosofia escorria por entre os dedos cheios de resina.
Agir e unir a finitude ao infinito da e na vida, era o sentido que eu deveria encontrar no tempo que por cá passasse explicava-me ele.
O meu avô passava-me toda a informação que podia, porque sabia que o seu tempo era finito. Eu, como qualquer criança era uma esponja, mesmo não entendendo bem as suas razões, absorvia os seus ensinamentos enquanto comia pinhões com dedos resinentos e ar descontraído.
Na altura, o que mais preocupava o meu avô era o fascismo. Que eu vivesse a minha vida debaixo de uma ditadura sem conhecer a liberdade. No seu tempo, em África, na América Latina avançava o fascismo da colonização. Do saque do ouro e demais recursos preciosos para encher cofres. Sem os fascismos tal não seria possível. As guerras faziam-se em nome dele. O meu avô passou por duas grandes guerras e sabia-o. Não queria que eu vivesse apenas conhecendo essa realidade. Por isso me encaminhava para o passeio da filosofia e da literatura.
Hoje o que mais me preocupa é o avanço a galope dos fascismos. Onde vivo, na terra do meu avô sendo eu própria já avó.
Onde os pinhões deixaram quase de existir, não tenho pinheiros para ir partir pinhas com a minha neta e/ou e encher os dedos de resina. Onde os pinhões custam um preço que não posso comprar. Onde voltei a ser pobre. Por causa de fascismos.
De onde estou transporto o olhar ao outro lado do Atlântico no Hemisfério Norte, do Mediterrâneo, do Mar Morto, ao Hemisfério Sul, na Europa, por todos os mares navegados e, vejo-o a bramir a bandeira em cada pedra dos muros que o fascismo constrói.
Se vivo preocupada com a minha sobrevivência, rodeada de escassez imposta pelo dinheiro e falta de liberdade, onde encontrarei o tempo e o pinheiro, necessários para a filosofia? Para unir a finitude ao infinito da e na vida, que é o sentido que eu tenho de encontrar no tempo que cá passo, conforme aquele homem bonito me ensinou e, como eu quero ensinar à minha neta?
Imagino-a a viver em liberdade. A partir pinhões e a comê-los com dedos resinentos e a ouvir conversas de filosofia.
Sem a escravidão imposta pela monetarização do tempo de vida.
Para que possa unir o finito ao infinito dos tempos.
Hoje, tal como o meu avô, tive uma vida a assistir ao saque dos recursos na minha terra África e na Europa, à implementação de novas formas de ditaduras e novos saques, ao enriquecimento dos saqueadores, ao abafar da liberdade.
Hoje tal como o meu avô, enquanto lhe escrevo histórias que falam de liberdade e filosofia, e, com ela brinco com os pés sujos de terra num lugar onde já não crescem pinheiros, a preocupação que tenho para a vida da minha neta é o avanço vergonhoso que vejo aos fascismos.

Pinheiros, finitude e fascismo

Eu era uma criança de sete/oito anos, apanhava pinhas para retirar os pinhões que partia com uma pedra para comer o seu fruto. O meu avô que me dava livros que falavam de algo desconhecido como a liberdade ensinou-me o valor que ela tinha. Vivia-se na ditadura em Portugal. A maioria das pessoas era pobre. Eu era pobre. Nada faltava na mesa,mas os sacrifícios eram grandes. Nem eu tinha consciência quanto. 
Enquanto partíamos pinhões o meu avô explicava-me Goethe e Tolstoi.
A filosofia escorria por entre os dedos de resina.
Unir a finitude ao infinito da e na vida era o sentido que eu deveria encontrar no tempo que por cá passasse. 
O meu avô passava-me toda a informação que podia, porque sabia que o seu tempo era finito. Eu como qualquer criança era uma esponja, mesmo não entendendo bem as suas razões, absorvia os seus ensinamentos enquanto comia pinhões com dedos resinentos e ar descontraído. 
Na altura, o que mais preocupava o meu avô era o fascismo. Que eu vivesse a minha vida debaixo de uma ditadura sem conhecer a liberdade.

Hoje o que mais me preocupa é o avanço a galope dos fascismos. Onde vivo, na terra do meu avô.
Onde os pinhões deixaram quase de existir, não tenho pinheiros para ir partir pinhas com a minha neta e/ou e encher os dedos de resina e os pinhões custam um preço que não posso comprar. 
De onde estou transporto o olhar ao outro lado do Atlântico no Hemisfério Norte, do Mediterrâneo, do Mar Morto, ao Hemisfério Sul, por todos os mares navegados e vejo-o a bramir a bandeira em cada pedra dos muros que constrói.

Se vivo preocupada com a minha sobrevivência, rodeada de escassez imposta pelo dinheiro e falta de liberdade, onde encontrarei o tempo e a árvore necessários para a filosofia?

Para unir a finitude ao infinito da e na vida, que é o sentido que eu tenho de encontrar no tempo que cá passo, conforme aquele homem bonito me ensinou?

Imagino-a a viver em liberdade. A partir pinhões e a comê-los com dedos resinentos e a ouvir conversas de filosofia.
Sem a escravidão imposta pela monetarização do tempo de vida. 
Para que possa unir o finito ao infinito dos tempos.

Hoje, tal como o meu avô, a preocupação que tenho com a vida da minha neta é o avanço dos fascismos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Outros como nós


encolhemos os ombros 
ao ouvir falar de outros como nós
imigrantes mortos
com fome de vida
baixamos os olhos
envergonhados
aos mortos, aos abandonados como nós
por outros como nós
ao relembrar imagens de outros como nós 
de pijamas às riscas
em valas comuns
deixados em cinzas irrespiráveis 
por outros como nós
abanamos a cabeça
perante fogueiras que queimaram
outros como nós
por outros como nós
fechamos os olhos sem entender quando lembramos
outros como nós
em galés de escravos amontoados
num misto de sangue, excrementos 
e sal de lágrimas
dobrados por outros como nós
cerramos os dentes as saber da exploração
de homens,mulheres e crianças como nós
que perderam a inocência
violentados na sua dignidade suprema
por outros como nós
sentimos o sangue correr quente
por mulheres e crianças 
raptadas, violadas, mortas, 
deixadas à vontade 
de mãos com cheiro a morte
de outros como nós
enquanto pensamos que nada podemos fazer 
perante a destruição,
a guerra, 
a opressão, 
a violência
a fome
que como erva virulenta 
se espalha e destrói
na Rússia, no Iraque, na Síria
no Mediterrâneo, na Índia, na Europa,
em África, no Afeganistão
em nome da ganância, do sexo,
do poder, do dinheiro, 
numa História longa de sofrimento 
nós os outros pensamos 
-este mundo é alheio a nós

relembremos enquanto ainda sentimos vida
prazer e amor
enquanto ainda sonhamos e criamos 
mundos de poesia, momentos de alegria
que não morremos 
e precisamos acreditar
que precisamos nos salvar
que se matamos, violamos, 
violentamos, agredimos 
e não agimos, 
se não temos a audácia, a coragem
de defender, de honrar
construindo laços
com outros como nós,
enfrentando os demónios 
dos outros como nós
saberemos que somos todos nós
responsáveis,
que todos os que somos nós,
do passado, do presente
do futuro
fomos, somos e seremos 
um mundo sem triunfo
feito para nós
por nós 
e outros como nós
sempre nós,
sós

Magia da vida

-o significado da vida…
-procuras?
-todos os dias...
será simples?
-é! e transparente também...luminoso...
-como quando nasce um bébé?
-não é o que sentes? que assistes a um milagre?
ser vida!
-um significado por si só...
e o seu poder?
-imagina um vulcão como um ser vivo...dentro de si pulsa…
dentro de ti...
é dentro dele que encontras o teu significado.
Respira em silêncio. Escuta o vulcão...ouves?
-...o poder está no coração...
-tudo nele cabe e tudo dele emana!
-como lava banhando as encostas…
da vida…
-como entras dentro dela?
-nua...
-descalça...
-essa é a magia.



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

alegria, ostras, dor, limão e o mundo

as pessoas que sofrem, buscam! e vêem a areia.
são essas que conseguem ver para além da realidade ilusória.
são essas que vêem a poesia:
do amor,
da abelha a beijar a flor
do pôr do sol
de uma cegonha a fazer o ninho
sentem a felicidade de manhã com o aconchego do lençol
a alegria de molhar os pés na chuva quente de verão
de se encantar com um livro
de ficar em paz com a paz de uma música
de nada mais existir à volta quando dançam
de ouvir a água feliz a lavar fresca as pedras de um rio
de estarem sós e sós sentirem alegria da sua companhia
de sentir o perfume suave da semente de hortelã-pimenta
são as ostras mais preciosas
que carregam o mundo em si
as pérolas
o grão
não precisam mudar, porque só muda o que nelas tem de mudar
são a areia que se faz pérola
transformam dificuldade numa oportunidade
se de pessimismo na mente se vestem
a esperança no coração acolhem
transformam a angústia, a dor, o cansaço
comem o mundo
são a ostra 
que foi infeliz
que pérola fez
quando na perfeita combinação
juntou a alegria
de sugar a dor
com o sumo de um limão

Utilizador: dinheiro, Palavra passe: poder

Utilizador: dinheiro
Palavra passe: poder
O poder da força do dinheiro. Criado para fazer arder as vidas. E enquanto duram controlá-las. Sem ser necessário usar a força.
Imaginem um mundo como o da canção do John Lennon, não imposto pela liberdade mas pelo dinheiro.
Conseguem?
Todos debaixo do mesmo chapéu da branda obediência, miserabilismo e servidão.
Reconhecem-se?
É a vida que nos oferece o Estado, atados que estamos pelo dinheiro. Globalmente.
E nós em Portugal somos tratados como os migrantes que morrem no Mediterrâneo ou em Calais pelo nosso próprio Estado. O barco deles e o nosso é o mesmo.
Primeiro exploraram depois descartaram. Reconhecem-se de novo?
Os Estados não são empresas, corporações ou bancos.
São os representantes dos seus cidadãos e para com eles têm deveres de honra assinados numa carta de Constituição.
Não podem nunca descartar-se dos cidadãos como uma empresa faz.
Esta é a pergunta que todos deveremos fazer no momento do voto.

Somos dívida. Qual é a dívida que é mais importante que o seu Estado e os seus cidadãos?
As dívidas tornaram-se impagáveis e insustentáveis por todo os Estados.
E se a resposta à forma de pagar dívidas não estiver prevista em tratados invente-se uma.
Não, não me venham com a desculpa de que não somos capazes de inventar saídas. Que não está previsto…
As dívidas são “odiosas” e serviram apenas a corrupção, que já nem máscaras usa.
Os criadores, usuários e serventuários têm nomes e moradas.
Não as vou pagar nem em meu nome, nem dos meus filhos nem dos meus netos.
Mas esperem...
Já estou a pagá-las sob a forma de inferno em vida...
Como nos deixámos chegar a este estado de coisas sem Estado (que um dia foi de bem?)?
Comandados por corporações e bancos vestindo lamés e sedas como representantes no Estado.
Vamos votar para ter os nossos representantes…
A lutar porque objectivos? Os seus cidadãos?
Não é por outra coisa qualquer chamada dinheiro
e naturalmente, poder!
O poder de controlar um conjunto de ovelhas xonés.
Digo eu em escrita cuneiforme já que nem eu me entendo mais.
Ao estender o tapete vermelho a esses demónios, criamos o nosso próprio inferno. Aqui.
Há forma de desequilibrar este jogo de estratégia bem montado.
Porque optamos por viver na miséria do poder déspota do dinheiro?
A nossa alma anseia por descobrir o oxigénio!
Porque não a deixas?
Alma livre
hoje venho falar de uma barbárie
da violência que nos esmaga
cada dia,
separámos a alma da vida
oferecemos-lhe em troca
o dinheiro que ambas constringe
classifica e restringe
pretendendo comprar
a alma que nasceu livre
e a desampara no corpo que recebeu
a esta alma livre
o dinheiro pretendeu vender
algo que sempre lhe pertenceu
por toda a eternidade
que é o seu tempo de vida
em total liberdade
a alma livre
por ele comprada
está no tapete de plumas
estendido ao demónio dinheiro
e ele vermelho fogo
consome
no inferno
por nós criado
a alma desfeita em prantos
esventrada
vendida
de veias abertas
rasgada por tantos
sonhos desfeitos
sem vida
sem vento que a desvie
presa numa lenta fogueira
onde ardem as selvas
onde as chamas
de beijos lentos
a lambem com prazer
ao vê-la consumida
pronta para o orgasmo da partida

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

E se?

Cada vida é um livro de histórias com vários personagens e um(a) protagonista. Na jornada de auto descobrimento sobre quem é e o que lhe cabe no tempo que dura a sua história, cada herói tem inúmeros conflitos, dores, escolhas, sofrimentos, ansiedades, alegrias, amores, corações despedaçados, rejeições, ciúmes, invejas, lutas, e experiências, lições e aprendizagens, capítulos que começam e terminam. Por isso gostamos tanto de histórias e narrativas. Por isso gosto tanto de ler e escrever. Porque sou feita deste material.
Começou na mais bela viagem. Escrever a minha história no meu livro.
Agora vou criando outras.
Do nada nasce tudo.

E se cada capítulo começasse com a pergunta e se?
Deixo a poesia que dança comigo dizer tudo...

E se?
E se esta for
a pergunta
mais importante
a abraçar?
e se eu não quiser
mais a minha vida
desperdiçar?
Resta-me a cada dia
de mergulho
no que não sou
perguntar:
e se eu deixar nela
o sol amanhecer?
E se eu nela a janela abrir
e a lua cheia deixar entrar
para a iluminar
e fazer o que em mim existe
de luz e sombra
se amar
a vida não é eterna
mas é louca
eu aqui louca vou ficar
me fundir com a eternidade
e se ?
eu mais louca me tornar
e se ?
no templo da loucura do amor,
do amor
me mergulhar
e se ?
lhe der todos os sentidos
do meu corpo velho
para me abraçar
e se ?
concordar
que nunca mais escrava vou ser
mesmo que embrulhada em papel
de escravidão
ao dinheiro
na talha dourada do seu altar
e se ?
me obrigar
pela liberdade me pintar
do corpo cuidar
o espírito embelezar
os sapatos descalçar
de pés na terra assentes
de mãos seguras
levantadas
ardentes
na dança dos sonhos
me enrolar
pelo tempo que me restar
e se ?
com a minha história
acordar
que a poesia vou deixar entrar
para comigo se aninhar
no meu sono se enroscar
e com novas histórias
a cada dia
me presentear
eu sei
não mais ses
não mais mas
a minha vida
podem atrapalhar
ou destruir
e à loucura desta vida
valha a pena
me entregar
para nela me cumprir

sábado, 15 de agosto de 2015

Anúncio de trabalho como prostituta:

Da série: Tentaram nos enterrar mas não sabiam que éramos sementes.

Alugo um período do tempo da minha vida diária. 
Se não peço valores altos pelo serviço, não é por não saber o valor real do meu trabalho, mas porque esse valor é suficiente para o que preciso.
De pouco preciso.
Preciso do suficiente para a cabeça estar fora da água a respirar
e sorrir a boiar, sabendo que tenho pé e não me vou afundar.
Mas não me vendo. Por preço nenhum.
Aconteceu-me mais uma vez neste novo mundo de trabalho esclavagista de ordenado mínimo, mas sem o mínimo de garantia de respeito pela vida de quem trabalha. De subordinação a autoridades externas que julgam ter legitimidade, para mandar na vida de quem lhes aluga o seu tempo diário de vida, mas se recusa a deixá-los ultrapassar limites.
As mulheres sempre foram seres subordinados e subjugados a quem se julgava autoridade sobre elas. Antes de terem direito a voto, em Portugal no Estado Novo por exemplo ou para com os maridos também.
Voltámos ao Estado Novo só que agora votamos mas de nada serve.
É assim que acontece na violência doméstica. Os escravos recebiam o mesmo tratamento. Seres subordinados e subjugados por gente que se julga autoridade sobre as suas vidas.
E é hoje no mundo do trabalho. Qualquer trabalho em qualquer área, idade, género ou credo.
Subordinados a quem de forma totalitária e unilateralmente se julga dono das nossas vidas.
O governante, o patrão, a empresa de recursos humanos, o chefe/chulo hediondo e fútil que julga ter o pequeno poder de controlar /oprimir/ dominar as pessoas que para si trabalham.
Esse é o objectivo. Ter pessoas vazias de consciência, de emoções, de voz.
E se alguma reclama ainda que seja em voz baixa, pressionam, demitem e não pagam.
Acho que foi Deus (ainda não está provado sem margem para dúvida) que ao criar o mundo, sentado no paraíso a imaginar a sua Eva e o seu Adão, fez um círculo à sua volta para perceber os limites da criação (li isto por aí).
A caixa craniana limitaria o centro nevrálgico onde os neurónios fazem o seu trabalho, a pele limitaria o palco onde a máquina faz funcionar todo o sistema, como a casa do casal se limitaria pelas paredes e por aí fora. O ambiente seria limitado pela atmosfera na esfera que limita a terra.
Como na vida social e do trabalho os limites são parte de todos os sistemas, ou não teria havido revoluções para a evolução do grilhão até ao ordenado mínimo, e, chegar aos dias de hoje onde já se discute, reivindica e aplica-se (no Utrecht-Holanda por exemplo) o rendimento básico garantido como forma de assegurar as condições dignas de vida para qualquer pessoa para que esta possa fazer o que entender com a sua vida no que diz respeito ao trabalho.
O trabalho deverá ser uma escolha, uma paixão, um acto de dar de o melhor de si e não de opressão/domínio ou de sobrevivência. E deverá ter limites claros. Foi isso que nos chegou com os contratos colectivos de trabalho e a legislação laboral moderna alcançada pelas lutas de homens e mulheres que como nós não se deixaram subjugar e escravizar.
Claro que não somos livres hoje e o mundo do trabalho é de novo um mundo de controlo,domínio, opressão e abusos. De subordinação de pessoas, onde pessoas se julgam sem limites ao lidar com outras pessoas.
Só não o é hoje pela força do chicote antes sim pela força do dinheiro.
É o reino divinal do “venha a nós”. Dos patrões que nem falham a missa aos domingos e amam padres. Veja-se o Santo Espírito do Espírito Santo entre a maioria das famílias portuguesas capitalistas que se julgam “donas dos trabalhadores”.
Eu mando, eu posso, e tu se não quiseres obedecer outros mil hão-de aceitar (porque ó Evaristo, desempregados há muitos…). Esta gente arroga-se (como quem toma por garantido) que os trabalhadores são ilimitadamente prostitutas escravas, robotizadas e sem actividade neuronal.
Controladas e emocionalmente vazias. Fúteis, superficiais, passivas, obedientes, consumidores distraídos por valores fúteis e inúteis. Nós as prostitutas deles.
Por azar dos chulos nem todas as putas se vendem. Algumas há que fazem um círculo à sua volta. São elas que escolhem como querem ser comidas.
No meu caso ficam a saber que sexo só com orgasmo e uso do preservativo.
São os limites impostos no meu trabalho para quem pensa em abusar. No dia que pisam a linha limitadora, eu prostituta, rebento o trabalho (blow the job).
E se me apetecer, eu prostituta sem vergonha e digna, chamarei os nomes dos bois abusadores, esses sim com razões para se envergonharem.
Nunca contem comigo para pactuar com o jogo da obediência e do silêncio.
Antes morrer de fome que morrer curvando-me subjugada para receber uma malga de sopa.
Ando muito contente por saber que por cada caso de opressão e abuso, uma ou duas sementes aparecem a denunciar situações, a não calar. Como em todas as situações que nos oprimem e subjugam.
Estes são tempos de solidariedade e de juntar esforços contra a nova escravatura orquestrada para nos silenciar.
Não posso aceitar a subjugação nem a opressão de outrem.
Chegámos aqui ao estado de domínio cuidadosamente programado, mas lentamente vejo mudanças irreversíveis na consciência colectiva.
Já somos muitos a lutar pela não aceitação destas regras.
A minha curta vida não é uma amarra, é uma escolha em nome da liberdade.
A vida é para ser usada como primavera das sementes.
Já despontamos. É minha fé que despontaremos sem limites.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lua de prata*Artistas

Dedicado a todos os artistas sem excepção mas em especial aos meus amigos.
Aos meus filhos todos eles artistas.
Porque todos são nos dias de hoje luz de prata. 
É preciso ser-se de prata, ter-se luz para seguirmos o caminho das artes.
Somos sementes mesmo que nos tentem enterrar.
A todos de todos os quadrantes desejo muito sucesso, que é mostrarem o seu trabalho e este ser valorizado, ser importado para os corações dos outros e, deixar uma semente.
Luz de prata
uma porta
luz de
prata
um caminho
tudo o que tenho que fazer
é entrar
cada dia de vida
uma semente
luz de prata
é plantada na alma
no caminho
tudo o que tenho que fazer
é caminhar
as sementes plantadas
na minha alma
crescem
altas,
petulantes,
sem vergonha
andam o caminho
da porta
para nela,
com luz de prata
despontar
a imagem mandou-me a minha koala Ana Malafaia com o desafio, sempre o desafio de escrever. Nós somos sementes que despontam um pouco todos os dias.


Chuva

tantos 
são os pingos da chuva 
quanto as contas 
do meu rosário
curvo-me
num alagado sorriso
dou-me num abraço
despido
e com os pingos
da chuva
nas contas
da vida
entre dedos
deslizo
com o meu rosário
e me entrelaço



Medo e coragem

Tantos dias vivo com medo dos meus medos. 

Um dia descubro a coragem de os enfrentar. 

E nesses dias sei qual a medida que ela tem. 

A coragem transforma-se em David contra o medo Golias.

E vence.

Não, para qualquer situação que a vida apresente, o 
importante não é não sentir medo de Golias.
O importante é ser David.
E fazer com que os meus medos comecem a ter medo de mim.

Tenho muitos por sorte ou por alimento, mas agora dedico aos meus amigos especiais e especialmente porque sabem que sou David e estão prontos a me agarrar.
Sobretudo porque eles próprios são verdadeiros David.


domingo, 9 de agosto de 2015

“Houston we have a problem”. É pré-disposição genética?

Em tradução livre: Portugueses estamos ...(preencher com a palavra que melhor servir a conveniência).
Ou será que estamos pré-destinados a ser assim? Nascemos com este defeito congénito e não podemos ser salvos?
Já nascemos com o karma para não resolver problemas?
Entre pratos de conquilhas e camarões, o belo azul e sereno do mar, as românticas rochas, ou os canaviais das praias fluviais, a mousse de chocolate, os gelados Santini, as selfies em bikini, os retratos de grupos de pézinhos dentro das águas geladas do Atlântico, gin´s em taças do tamanho das usadas pelo senhor prior para o baptismo, a bifana e a mini, por esse Portugal fora (acabou-se o dinheiro para as férias na Dominicana), direi que todos merecemos o descanso das agruras, e, esquecer temporariamente que quando acabarem os banhos e os gins, se regressa sem apelo nem agravo à selva.
A selva das escolhas.
Os desempregados- os oficiais e os que não contam nem servem para nada- os emigrantes em férias, os contratados precários, os que estão inseridos em formações profissionais da treta, os desalojados das suas casas, e um largo etc de gente que não sabe o que fazer da sua vida “livre” sem dinheiro ou ocupação mas com dívidas e sobrevivência para lhes ocupar os pensamentos irão a votos depois dos banhos nas taças de gin.
Pelo que vou lendo, cheguei a um resumo e à bandeira vermelha deste texto: o PS desistiu de ganhar e a coligação quer mudar (eu mudaria para mudem-se).
Leio mais sobre os putativos a Belém que a São Bento. Leio também sobre erros crassos, mentiras, desinformação.
Ao nível de evolução de uma colónia de hienas. Ainda por cima como elas rimo-nos muito...De quê?
Curioso como tudo me leva de volta ao gin em taça baptismal na Igreja. Beber para esquecer…Os génios suicidam-se e eu confesso, como disse algum poeta também não estou nada bem, ao pensar no que por aí vem.
E sem sequer ser um génio, pressupondo que nenhuma invasão extra terrestre irá acontecer, o Messias regressar para nos salvar, ou o Presidente da Islândia pedir a nacionalidade portuguesa e candidatar-se às legislativas e presidenciais e de uma assentada trazer os parlamentares islandeses, parece-me que estamos como as vítimas de abusos e maus tratos: nas mãos do agressor selvagem e predador. Somos uns pães sem sal. Uns incapazes.
Ou talvez não. Pode ser que a massa que se encontra hoje nos retratos bucólicos, volte revigorada e vote em toda a gente menos nos partidos do eixo do mal que nos trouxeram esta hecatombe.
Eu avisei, não estou nada bem...sou afligida por pensamentos positivos budistas de tempos a tempos.
No meio dos retratos da pia baptismal cheia de gin vi um retrato com os sempre inspiradores ensinamentos de Noam Chomsky que resumo por palavras minhas:
-Quando se tem dívidas e a elas se está amarrado por vários anos da nossa vida: dívidas para estudos, para a casa, para o seguro, para o carro, para respirar, só se pode pensar em comer uns petiscos e beber um gin.
Enjaulados, aprisionados e armadilhados num esquema de dívidas não há tempo para sequer pensar. E menos ainda em mudar.
Ficamos disciplinados e condicionados a pensar que esta é a única vida que podemos ter.
Como nos querem e programaram com o objectivo de controlar.
Mudar o sistema ficará sempre para depois. Para a próxima vida.
E é esta armadilha que me assusta.
Entre a pílula azul e a pílula vermelha, tomar a pílula vermelha é uma escolha que só se faz se o pensamento não estiver condicionado nem encurralado. Ou controlado.
Precisamos urgentemente de mudar. Mudá-los de lugar a todos eles que nos encurralam.
Dar lugar a gente nova, de cultura, pensamento e coragem.
Quando a nave Appolo 13 pediu ajuda, os seus astronautas precisaram de uma enorme coragem, determinação e arrojo para enfrentar o problema. O bom senso, a união, o pensamento no todo e em conjunto foram essenciais para aterrarem em segurança de novo no nosso planeta.
Assim estamos nós. A nave está com um grave problema. Seremos capazes de ser como os astronautas em missão de salvamento?
Ou vamos voltar ao dia antes dos banhos? O mesmo de sempre? Com os crápulas do costume no poder?
Lembrei-me agora com o fado que este povo tem, depois das romarias a Fátima e de acreditar em milagres da Igreja que este povo tanto gosta, o futebol está a regressar para nos fazer esquecer as agruras e manter a disciplina e o controlo de um povo.
Vou ali beber uma água tónica, já que infelizmente não gosto de gin, e, fazer figas para que os banhos gelados façam acordar.
Ou esperar um milagre.

Eu sou Cocas

Próxima encarnação

Dizem as teorias da Nova Era (o Passos deve andar a falar com Jesus), que escolhemos quem queremos ser. Dizem as teorias que as vitimas não são vitimas. Que todos escolhemos quem queremos ser, com quem nos queremos relacionar, quem queremos para pais e irmãos e restante família. Que antecipadamente escolhemos o plano e fizemos uma apresentação em power point: quero ser pobre, ter uma doença rara, ter um pai que me bate, um marido infiel e bêbado, que me dá cacetadas quando o Benfica perde e uma mãe que me rejeita e coloca num cesto à porta da Igreja…
Por isso nunca se deve sofrer pelas vitimas, dizem...
Escolhemos quem queremos ser e como queremos viver. Como forma de aprender lições e subir nos degraus da escada para o regresso à casa de onde somos originários.   
A vida, dizem, é a escola. E vamos fazendo exames e só depois sabemos se aprendemos as lições. O espaço para o livre arbítrio? São as escolhas que fazemos. 
Mas vamos sempre dar ao plano apresentado em  power point... Dizem as teorias.

Aqui a porca torce o caracol do rabo: 
-Quer isto dizer que escolhi viver neste tempo de crise? De ser qualificada mas também a melhor amiga do desemprego junto de mais meio milhão de tugas? Quer dizer que escolhi por companhia a época dos predadores  que me comem e nem me deixam escolher o “molho com que vou ser comida” (como disse Galeano)?
Que escolhi a mesma época destes políticos da treta, desta falta de cultura nas gentes, de saldos na educação?
Quer dizer que escolhi abrir a caixa de Pandora que é a minha preciosa vida no meio de tanta mediocridade? 
De gente que vive de aparências, de se mostrar o que nem é? Ou pior, de nem saber o que se é? E tratar de forma arrogante e superior os irmãos de raça? 
Quer dizer que escolhi ser sobrevivente neste meio pequeno que me envergonha como ser humano?
Pois bem, está decidido, já fiz o plano para a próxima encarnação e apresentei-o a uma amiga que teve a delicadeza e a educação de assistir, já que escolheu ter-me por amiga nesta encarnação: vou ser condenssa, rica, linda como a Catherine Hepburn, o corpo da Marylin Monroe e cantar como a Nina Simone. 
Para a próxima, amigos e familiares não quero ter trabalho nenhum! Claro que as condenssas trabalham pro-bono a favor dos pobrezinhos. Prometo ser boazinha mas ver-me livre destes possidónios que me atrapalham. 

Aprendi todas as lições, passei todos os exames e já estou no degrau a bater à porta e a pedir guarida ao santo que a abrir. Estou fartinha desta encarnação com o pano do pó à ilharga!
Tenho dito!