Próxima encarnação
Dizem as teorias da Nova Era (o Passos deve andar a falar com Jesus), que escolhemos quem queremos ser. Dizem as teorias que as vitimas não são vitimas. Que todos escolhemos quem queremos ser, com quem nos queremos relacionar, quem queremos para pais e irmãos e restante família. Que antecipadamente escolhemos o plano e fizemos uma apresentação em power point: quero ser pobre, ter uma doença rara, ter um pai que me bate, um marido infiel e bêbado, que me dá cacetadas quando o Benfica perde e uma mãe que me rejeita e coloca num cesto à porta da Igreja…
Por isso nunca se deve sofrer pelas vitimas, dizem...
Escolhemos quem queremos ser e como queremos viver. Como forma de aprender lições e subir nos degraus da escada para o regresso à casa de onde somos originários.
A vida, dizem, é a escola. E vamos fazendo exames e só depois sabemos se aprendemos as lições. O espaço para o livre arbítrio? São as escolhas que fazemos.
Mas vamos sempre dar ao plano apresentado em power point... Dizem as teorias.
Aqui a porca torce o caracol do rabo:
-Quer isto dizer que escolhi viver neste tempo de crise? De ser qualificada mas também a melhor amiga do desemprego junto de mais meio milhão de tugas? Quer dizer que escolhi por companhia a época dos predadores que me comem e nem me deixam escolher o “molho com que vou ser comida” (como disse Galeano)?
Que escolhi a mesma época destes políticos da treta, desta falta de cultura nas gentes, de saldos na educação?
Quer dizer que escolhi abrir a caixa de Pandora que é a minha preciosa vida no meio de tanta mediocridade?
De gente que vive de aparências, de se mostrar o que nem é? Ou pior, de nem saber o que se é? E tratar de forma arrogante e superior os irmãos de raça?
Quer dizer que escolhi ser sobrevivente neste meio pequeno que me envergonha como ser humano?
Pois bem, está decidido, já fiz o plano para a próxima encarnação e apresentei-o a uma amiga que teve a delicadeza e a educação de assistir, já que escolheu ter-me por amiga nesta encarnação: vou ser condenssa, rica, linda como a Catherine Hepburn, o corpo da Marylin Monroe e cantar como a Nina Simone.
Para a próxima, amigos e familiares não quero ter trabalho nenhum! Claro que as condenssas trabalham pro-bono a favor dos pobrezinhos. Prometo ser boazinha mas ver-me livre destes possidónios que me atrapalham.
Aprendi todas as lições, passei todos os exames e já estou no degrau a bater à porta e a pedir guarida ao santo que a abrir. Estou fartinha desta encarnação com o pano do pó à ilharga!
Tenho dito!
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