domingo, 7 de outubro de 2012

Uma mala Luis Vitinho e a fuga de mais um cérebro, o meu!




Antes que o meu cérebro me fuja (e se o parvo anda a tentar) fujo eu com ele. Juntinhos enquanto ainda somos uma só voz e partilhamos os mesmos sonhos e os mesmos desejos. Vamos partir para nova aventura. Porque o filme da história nacional não nos deixa mais sonhar e até já nos tirou a capacidade elementar de não ter que ter um preço para a vida.

Sinto que vivemos hoje mergulhados no nevoeiro mas eu quero continuar a sentir-me como parte de um gene que aboliu a escravatura, aboliu a pena de morte tudo isto antes de qualquer outro povo. Hoje querem-nos  tornar em bons (?) alunos que vergam a espinha e obedecem, com medo, sem alternativas. Sem sonhos,sem futuro.
Alternativas somos todos nós e espero vir a ser mais uma portuguesa/africana a construir um degrau para o futuro melhor do conjunto, e não apenas de mim própria.

O vento da mudança sopra e leva-me com ele. Inevitável seguir-lhe o sopro. E natural. Sempre assim fiz na minha vida. Seguir-lhe o sopro, seguir-lhe o caminho. É apenas isso que me interessa enquanto puder estar a acompanhar o vento. Deixar que ele me conduza. Deixar que “a vida leva eu”. Mesmo que me assolem dúvidas e/ou momentos de solidão, sei que não estou só.

Prefiro caminhar e deixar-me levar, a ficar a imaginar como seria a caminhada. Seguindo a dinâmica da vida onde a única inevitabilidade por inerência própria é a própria mudança. Trago no adn este elo e habituei-me a não me deter perante inevitabilidades aceitando a natureza da minha vida.

Fiz um contrato antes de vir para cá no qual me responsabilizava em cumprir a minha vida, seguindo o vento, onde quer que ele me levasse. Trouxe 1 filho ao mundo e a outros dei o meu coração para que me adoptassem. Levo o coração cheio de  novos ventos pela felicidade que me trouxeram.

Ao meu país fui dando parte da minha vida e dos meus afectos. Muitos cabelos brancos me nasceram cá nos últimos anos, primeiro porque vivi acima das minhas possibilidades e não produzi o que como. Agora porque vivo abaixo, porque não consumo, nem tenho como pagar impostos. Antes que taxem a minha existência pego no meu cérebro, nas chinelas e sigo com o vento.

Por cá temos muitos atractivos que não apenas os emigrantes que voltam anualmente à terra sabem entender. Os que cá vivem, mesmo zangados por sermos às vezes tão pouco atraentes nas nossas mesquinhices, sabem reconhecer as nossas qualidades, a nossa criatividade, o nosso bom coração e a nossa descontracção. 

Talvez seja por isso que acolhemos tão bem outros povos e desenvolvemos como ninguém a multiculturalidade, inerente também ao adn humano e para onde tenho a certeza que o vento do futuro leva a humanidade.

Sempre saímos em busca de novos mundos. Para dar e receber (mesmo que tenhamos roubado imenso noutros tempos da história). E na história bem recente! Sem qualquer vergonha. E,estamos a ficar muito atrás no ciclo da reciprocidade, ao qual temos que regressar. Obrigatoriamente. Se calhar sou uma piegas, mas sou uma piegas consciente. Como cidadã dei muito e recebi pouco. Desencantei-me, enraiveci-me e agora distancio-me.

Como amiga e membro de uma familia dei o que é natural dar. Recebi muito e agradeço a cada um. Dei como sabia, sobretudo como podia e como sentia. Sempre com coerência entre o que sinto,o que penso e o que faço. 

Como não deixarei nunca que a vida passe por mim sem que eu a aproveite, recomeço mais uma fase. Não sem dúvidas nem sem medo. Com a dúvida de onde me levará o caminho e o medo de perceber se serei capaz de enfrentar mais um desafio. Mas são as dúvidas e os medos que vão alimentar a minha capacidade de resistência e fortalece-la.

De novo me irei embalar no abraço de um país que me acolheu e me volta a sorrir, convidando-me a fundir nas suas águas quentes, a saborear a sua fruta doce onde, mesmo que haja pouco, terei muito da paz e tranquilidade que torna os dias saudáveis. Que me trará maior harmonia,simplicidade e ligação com o que gosto de ser.Num ritmo mais sábio e mais de acordo com o ritmo natural da vida.

Aprendi a gostar muito de viver cá e vou ter saudades, porque levo experiências,momentos e gente que me fez bem. Gosto da minha rede de amigos, gosto de vos ter por perto. Obrigada por me terem adoptado a título permanente nas vossas vidas mesmo que a permanência possa ser efémera.

Fica aqui a convocatória aos amigos para um passeio de Dhow até Zanzibar, um mergulho na baía para ver a barreira de coral, um banho de fim de tarde nas águas cristalinas e quentes do Indico enquanto saboreamos um gin tónico, ouvimos os pássaros que bicam as mangas, relaxamos com um livro de Mia Couto numa cadeira junto à piscina depois de um caril de caranguejo, nos divertimos num passeio 4 x4 até à Gorongosa, ou nos enfeitamos em capulanas de mil cores num mercado de rua. 

Ou quem sabe, ficarem por lá.

Não tenho certezas nenhumas, apenas promessas de continuar a sonhar. E chega-me isto.
Até já, vossa Bé