Numa galáxia não
muito distante, depois de um concurso transparente e sem palhaçadas, o planeta
zombie ganhou, ou antes, ofereceu-se ao sacrifício, com alguma dor mas fez-se
anfitrião à experiência galaxiar.
Os outros estavam a
anos- luz de desenvolvimento e não queriam estragar-se. Como ninguém quer
receber como convidados energúmenos que nos estraguem os sofás, façam hortas na
banheira e bebam o nosso melhor vinho, sem o apreciar.
Passou a ser a casa
onde uma espécie iria ser deixada para aprender a ser gente. A conviver uns com
os outros e se fossem capazes, quem sabe, criar um mundo novo. Bastava ser,
simplesmente.
Sem atropelos. Ou
roubarem-se parras, maçãs, ou morder-se.
Humm… digo eu
enquanto penso no big bang…e no que originou o filme que nos calhou.
Aposto que
pediram ao Woody Allen um alienígena evoluído (pelo menos fisicamente parece um
bocado, porque é maior que os tradicionais homens verdes de 30 cm), para fazer o
favor de escrever e dirigir o guião.
Tamanho é o non
sense e em simultâneo a angústia, a depressão, a confusão, a ambiguidade e a
quadripolaridade sem acompanhamento médico, que reina no planeta zombie.
Só ele, o W.A. sabe
tirar rosas púrpuras do Cairo, ou matar por hipnose.
No sítio que me
calhou no meio desta raça, muitos diálogos se constroem e desenvolvem à volta
de humm´s passados entre os interlocutores. Vão e são devolvidos sem mais nada
a não ser prolongados ou curtos humm´s. Neste guião ouvem-se muitos.
Isto é uma forma de
desenvolvimento humano. Nada mais a acrescentar quando está tudo dito. Basta um
hummm para nos entendermos.
É um profundo humm
que lanço, quando vejo, a irmandade não no Masterchef ou no Big brother dos
reality show´s, mas à minha frente a agir na vida mais real que possa imaginar.
Nem sequer estamos
numa quinta imaginária com porcos metaforicamente humanos a dar-nos lições de
convivência democrática, seja lá o que isso for. Hummm isto é mesmo a vida
real.
Tudo é normal
enquanto for normal para todos. Só deixa de ser quando alguns começam a
entender que é necessário passar a outro patamar de evolução. Foi assim com a
História destes seres aos quais pertenço.
Do outro lado estão
a observar-nos enquanto comem gelados e chocolates. Como eu faço quando vejo e
me encanto com as fantasias do Woody Allen.
Como já chegaram à
conclusão que o melhor é adoptar a política de terra queimada ao planeta, agora
apenas se divertem e assistem. Já nem devem fazer julgamentos. Adoptaram o
pensamento de Bertolt Brecht:
-”que tempos são
estes que temos que defender o óbvio?”
Por isso algures
numa galáxia com o olho em cima de nós, os chocolates e os gelados continuam a
circular com um só um julgamento feito há algum tempo:
-estes zombies são
indefensáveis. Repetem a mesma merda vezes sem conta, inventam religiões e
deuses para se confessarem e justificarem mas continuam a fazer o mesmo.
Demos-lhes a
imaginação e o gene criativo e eles até inventam, mas voltam aos mesmos erros
básicos.
São como bébés que
não passam da fase de gatinhar e não conseguem livrar-se das fraldas.
Por mais que os
pais o ajudem e ensinem a dar passitos (perdoem-me os sensíveis por usar esta
palavra que faz lembrar o outro…).
Ou por mais que lhes
estendam o penico.
O bébé insiste em gatinhar
e fazer cócó no chão da cozinha. E ainda mexe com os dedos.
Eles, de olho em
nós, encolhem os ombros e continuam nos gelados e nos chocolates. Ouvi dizer
que não possuem o gene de engordar…hum…
Alguns adormecidos
porque até são felizes com os seus orixás, musicas, axês, carnavais, xôpes e
líderes agigantam-se e sacodem-se.
Levantam poeira e tiram
o pé do chão (obrigada rainhas do samba pelas expressões) para que o normal
deixe de o ser.
Até outros
adormecidos com história de sociedade fechada com a sua religião, pecados e
caras tapadas, onde o pai natal não encontra chaminés, quebram a regra do
normal e querem deixar de ser normalmente fechada.
E passar a ser
livre. Para escolher o que for melhor.
E por aí vai um
pouco pelos cantos redondos do planeta.
Hummm hummm,
Não é obvia a beleza
desta evolução? Por um momento, lá onde o olho nos observa, o suplemento de
chocolates e gelados foi suspenso e alguém gritou:
-“há movimentações
anormais, parece que qualquer coisa de diferente está a ser agitado”.
E de
repente a sala de observação da nave principal, ficou cheia de curiosos mais ou
menos descrentes…
E ouviu-se hummm,
hummm, alguns sim, agitam-se, levantam-se e saem dos sofás Ikea, mas de repente
chega a desilusão…
Humm, só aquele
grupo de irredutíveis cansados de 8 séculos de história fazem como nós…observam
e dão vivas pelos seus irmãos…mas não se agigantam.
Nem na própria família
são capazes de se entender. Ou defender. Ou estender a mão. Ou assinar petições
com mais de 25 artistas…Humm
As marjorettes
entraram na nave principal carregadas de chocolates e gelados enquanto se faz
zoom in do rectângulo. O momento de euforia tinha-se esfumado.
Hummm, quem sabe se
os cansados, foram obrigados a estar do outro lado da lente, a aguardar instruções
do realizador para entrar em cena.
A minha esperança
renasce. Clac clac. Tic tac tic tac.
A qualquer momento
pode haver acção. Ou não…
Até novas mudanças,
na nave, circulam livremente gelados e chocolates.
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