Contra os estereótipos, aqui vai prosa. Para as mulheres que se amam e que não se amam nas suas peles. Para os homens que amam as mulheres com os corpos que elas vestem.
Na escravatura da imagem, de quem temos que parecer, a perfeição das linhas, eu sou todas as mulheres. De corpo vivido. Usado para me carregar a alma. Onde habito. Invadido por desgastes, rugas, tristezas, dores, marcas, manchas, nódoas, larguras e encolhimentos. Com os sinais do tempo alojado na vida, mostrada através dele. O lugar que descubro para descansar a minha alma. Ou para a desencaminhar. Sempre, sempre para a cumprir. Quantas vezes não me sinto bem na minha pele, despida, na imagem que o espelho reflecte. Quantas vezes me envergonho por não corresponder ao ideal da mulher que me vendem, mas este é o meu corpo, digo com pena, sem orgulho. Ah não, acabei de te esculpir mais uma marca, prometo não mais o fazer, tu que tens sido o meu companheiro. Devo-te esta homenagem. Por amor e devoção. Evoluíste de pequeno, largo, com pregas, vestiste-me de vários tamanhos, os feitios foram mudando, ensinando-me que a isso se chama crescer. Mudaste a roupagem a teu belo prazer, nas várias idades, querendo ensinar-me a respeitar-te. Nem sempre estive à tua altura. No entanto estás aqui, vestes-me as mãos e o coração. Coberto de rugas, esculpidas pelo passar dos anos. Porque és tu que me deixas viver essas mesmas rugas. Umas profanas, outras sagradas.
Como tu meu templo. Fonte de pecado, fonte do sagrado.
Minha pele que cobre quem sou, com a dignidade própria de existir mas não me definindo o ser.
Como tu meu templo. Fonte de pecado, fonte do sagrado.
Minha pele que cobre quem sou, com a dignidade própria de existir mas não me definindo o ser.
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