quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

De armas apontadas à cabeça!


Mais mortes em Portugal. Mais suicídios na Grécia. Mais, mais, mais…desespero.
De gente como nós. Com fome. Aqui à porta de casa.
Aqui da janela onde observo e ouço, dói-me. Não somos vistos como inocentes. Somos apontados como culpados. Vivemos à custa de quem de facto trabalha muito, produz, desconta e constrói. Nós, no sul, somos como bactérias que se alimentam do sangue dos outros. E do seu suor.
Transformaram-nos em parasitas. E a quem pedimos nós contas do que nos transformaram? A quem processamos por crimes contra a Humanidade?
À troika agora desaparecida transformada elegantemente em “instituições”? Aos governos de cada país? À Alemanha? A quem salva bancos e não gente?
Gente da Europa:
Por baixo de almofadas de polyester
comidas pelo tempo,
gastas por tantas lavagens sem amaciador,
esconde-se a vergonha e a miséria,
as lágrimas de sofrimento
uma côdea bolorenta
à espera de ser devorada
em pratos descoloridos, por tantas lavagens sem sabão
escondem a vontade de um pouco de qualquer outro sabor
mostram a fome,
o orgulho de quem deixou de ser gente
a vergonha de ser gente,
e nós, por não falarmos, deixamos de ver?
Deixamos de saber? Deixamos de ouvir falar de tanta desta gente,
Que deixou de ser gente?
mas que é tão gente quanto os senhores de gravata
que se reúnem em salões aquecidos
com intervalos de repastos longos,
onde a vida desta gente, gente como eles,
se decide como se não fossem vidas,
como se não fossem gente?
por ser eu e tu, é urgente,
dar voz a essa gente
e dizer à outra gente, que da matéria de parasitas
não somos feitos.
Há sim parasitas bem oportunistas
Sem qualquer remorso ou consciência
Que esconde, que rouba e que mente
Sanguessugando o sangue da gente
Como arma,
palavras jorrar-me-ão do dedo médio

enquanto eu for gente…

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