sábado, 14 de dezembro de 2013

Vou falar em linguagem gestual





Na espuma dos nossos dias,

Abraço umas palavras de desabafo, já que se fosse uma rapariga de coragem, deixava-me abraçar por um cinto de bombas.

Dizem na revista Maria e, eu acredito verdadeiramente na Maria, seja ela qual for, que quando existe uma quadratura entre planetas, a conjuntura sofre.
Sofrem os signos todos, excepto alguns, digo eu, que também me chamo Maria e sou uma “especialista”.
Em dúvidas.

“ Desisti de ter esperança e agora sinto-me bem melhor”, disse um dia Woody Allen quando atingiu o nirvana ao perceber a quadratura dos planetas. Sinto-me também a receber a mesma epifania.

Se não temos nenhum poder de desligar o botão da incivilidade, como parece pelas luzes de Natal que vejo acesas, mesmo após o anúncio do aumento da conta da electricidade, tenho de esperar que alguém com poderes divinos me traga a iluminação.
Pode ser o Jesus de Saramago, o do presépio, ou o do Benfica tanto me faz.
Andam a mexer com o meu círculo de sanidade e sobre isso não tenho a menor dúvida.

As dúvidas são muitas e aqui ando eu a pensar em voz alta, enfiada num trígono onde os catetos, a minha paciência, já não resulta em hipotenusa, vulgo lógica. Faz apenas um quadrado no meu cérebro.
Não tenho pertences, nem contraí dívidas fora das minhas possibilidades. Já deixei a idade de ser considerada força de trabalho, mas sou uma adolescente para me reformar.

Qualifiquei-me no que eu considero ser uma boa Educação fora do sistema educativo e continuo no processo. Não votei nestes gangsters nem nos anteriores, nem nos reformados bem instalados. Emigrei, voltei, sou um recurso humano qualificado em várias áreas e dou o meu melhor, mas não há trabalho, nem sequer a embrulhar presentes de Natal numa qualquer pequena, média ou grande superfície.

Não contraí nem participei nas dívidas do Estado. Ouvi o que os gangsters prometeram que não fariam e ouço agora o desplante do mesmo discurso, mas vindo da concorrência aos lugares do poder (notem que não disse oposição).

Não pedi que uma mafia qualquer me invadisse o território e me troikasse a vida. Nem tão pouco lhes devo nada.
Ninguém me veio fazer perguntas por tele-marketing ou através dos Census se eu queria que eles cá entrassem. Não recebi por nenhuma consultoria sobre a entrega da vida deste território e deste povo, onde me incluo, nas mãos sujas dos gangsters que nos invadiram.

Nada do que se passa e é muito, eleva a Nação, o seu povo, ou sequer é em defesa do seu interesse maior. É apenas por maior interesse de um triângulo sem Bermudas. Onde tudo o que é nacional e bom, desaparece.
Já estamos reduzidos à nudez.

Temos um país pendente, vendido por um prato de dobrada de vacas loucas.
Orgulho-me de muitos dos seus cidadãos que recebem prémios e louvores no estrangeiro pelo trabalho que desempenham.

Por cá, sente-se uma alta densidade das baixas temperaturas numa baixa densidade de um Estado que não se endireita e, uma alta concentração de pessoas muito estúpidas com
altas densidades de “poder”. Por alta densidade de inércia.
Nunca senti verdadeiramente o Natal e este ano menos ainda. Olho à minha volta e só vejo os espécimes que não deveriam ter sobrevivido às leis darwinianas.

Deve ser da quadratura dos astros que banalizaram o sentido de esperança que tive ontem, não tenho hoje, mas tenho esperança de ter amanhã. A esperança de ter esperança.

Se um senhor que ninguém conhece, furou um sistema supostamente inviolável e ao lado de um homem grande, protegido pela grande mamã que é a senhora segurança, e, tudo o que conseguiu foi apenas ensinar a montar uma estante com prateleiras ao Bruno Nogueira, através de linguagem gestual, deixo a minha dúvida maior. Não conseguimos nós rasgar o preservativo do sistema?

Na lei da natureza “não há mal que sempre dure”. E, nesta quadratura, espero que voltem os bons auspícios astrais e que o triângulo constituído pela ordem que nos aniquila, venha a ter um enjoo de hipotenusas e vomite os catetos. 
Para reconstruir o rectângulo.
Ou chame-se um Mestre com mais coragem que eu, para matar o Conde Andeiro. Vou a correr para o Paço, fazer uma dança no terreiro a agradecer aos astros.

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