Na espuma dos nossos dias,
Abraço umas palavras de desabafo, já
que se fosse uma rapariga de coragem, deixava-me abraçar por um cinto de bombas.
Dizem na revista Maria e, eu
acredito verdadeiramente na Maria, seja ela qual for, que quando existe uma
quadratura entre planetas, a conjuntura sofre.
Sofrem os signos todos, excepto
alguns, digo eu, que também me chamo Maria e sou uma “especialista”.
Em dúvidas.
“ Desisti de ter esperança e agora
sinto-me bem melhor”, disse um dia Woody Allen quando atingiu o nirvana ao
perceber a quadratura dos planetas. Sinto-me também a receber a mesma epifania.
Se não temos nenhum poder de
desligar o botão da incivilidade, como parece pelas luzes de Natal que vejo
acesas, mesmo após o anúncio do aumento da conta da electricidade, tenho de
esperar que alguém com poderes divinos me traga a iluminação.
Pode ser o Jesus de Saramago, o do
presépio, ou o do Benfica tanto me faz.
Andam a mexer com o meu círculo de
sanidade e sobre isso não tenho a menor dúvida.
As dúvidas são muitas e aqui ando eu
a pensar em voz alta, enfiada num trígono onde os catetos, a minha paciência,
já não resulta em hipotenusa, vulgo lógica. Faz apenas um quadrado no meu
cérebro.
Não tenho pertences, nem contraí
dívidas fora das minhas possibilidades. Já deixei a idade de ser considerada
força de trabalho, mas sou uma adolescente para me reformar.
Qualifiquei-me no que eu considero
ser uma boa Educação fora do sistema educativo e continuo no processo. Não
votei nestes gangsters nem nos anteriores, nem nos reformados bem instalados. Emigrei,
voltei, sou um recurso humano qualificado em várias áreas e dou o meu melhor,
mas não há trabalho, nem sequer a embrulhar presentes de Natal numa qualquer
pequena, média ou grande superfície.
Não contraí nem participei nas
dívidas do Estado. Ouvi o que os gangsters prometeram que não fariam e ouço
agora o desplante do mesmo discurso, mas vindo da concorrência aos lugares do
poder (notem que não disse oposição).
Não pedi que uma mafia qualquer me
invadisse o território e me troikasse a vida. Nem tão pouco lhes devo nada.
Ninguém me veio fazer perguntas por
tele-marketing ou através dos Census se eu queria que eles cá entrassem. Não
recebi por nenhuma consultoria sobre a entrega da vida deste território e deste
povo, onde me incluo, nas mãos sujas dos gangsters que nos invadiram.
Nada do que se passa e é muito,
eleva a Nação, o seu povo, ou sequer é em defesa do seu interesse maior. É
apenas por maior interesse de um triângulo sem Bermudas. Onde tudo o que é
nacional e bom, desaparece.
Já estamos reduzidos à nudez.
Temos um país pendente, vendido por
um prato de dobrada de vacas loucas.
Orgulho-me de muitos dos seus
cidadãos que recebem prémios e louvores no estrangeiro pelo trabalho que
desempenham.
Por cá, sente-se uma alta densidade
das baixas temperaturas numa baixa densidade de um Estado que não se endireita e,
uma alta concentração de pessoas muito estúpidas com
altas densidades de “poder”. Por alta densidade de inércia.
altas densidades de “poder”. Por alta densidade de inércia.
Nunca senti verdadeiramente o Natal
e este ano menos ainda. Olho à minha volta e só vejo os espécimes que não
deveriam ter sobrevivido às leis darwinianas.
Deve ser da quadratura dos astros
que banalizaram o sentido de esperança que tive ontem, não tenho hoje, mas tenho
esperança de ter amanhã. A esperança de ter esperança.
Se um senhor que ninguém conhece, furou
um sistema supostamente inviolável e ao lado de um homem grande, protegido pela
grande mamã que é a senhora segurança, e, tudo o que conseguiu foi apenas ensinar
a montar uma estante com prateleiras ao Bruno Nogueira, através de linguagem gestual,
deixo a minha dúvida maior. Não conseguimos nós rasgar o preservativo do sistema?
Na lei da natureza “não há mal que
sempre dure”. E, nesta quadratura, espero que voltem os bons auspícios astrais
e que o triângulo constituído pela ordem que nos aniquila, venha a ter um enjoo
de hipotenusas e vomite os catetos.
Para reconstruir o rectângulo.
Ou chame-se um Mestre com mais
coragem que eu, para matar o Conde Andeiro. Vou a correr para o Paço, fazer uma
dança no terreiro a agradecer aos astros.
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