É
preciso não temer a liberdade para se oferecer a vida por ela.
Cada
um deve fazer o que se sente inspirado a fazer e essa é a beleza da
liberdade.
Foi
assim com os resistentes à ditadura de Salazar e com todos os
ditadores mundo fora. Com gente desta fibra nasceu a Resistência
durante a Segunda Guerra Mundial. A série Alô alô conta como foi
para quem se quiser lembrar.
Gente
de todas as idades fez ao longo da História, parte de movimentos
clandestinos de luta contra opressores. Resume-se aqui a história da
Humanidade. Opressores e oprimidos em lutas fratricidas.
Todos
os seres humanos procuram ver as suas necessidades satisfeitas sejam
elas de que natureza for. E com vista a esse fim, melhor ou pior,
individual e colectivamente desenvolvemos estratégias.
Com
os recursos que a terra nos oferece de mão beijada algo inscrito no
ADN da natureza humana sobressai: a ganância. E a estratégia passa
a ser, uns terem mais do que outros e sujeitar os seus pares a
situações extremas de sobrevivência.
A
pobreza é o dinossauro nunca extinto para
bem reinar (mesmo
que declarem que a extinguem em 2030 e eu assino a declaração). A
vaidade humana usa desde tempos sem memória a rede social da
ostentação porque
não lhe chega apenas o desejo de ter mais do que o outro. Precisa
de mostrar.
O
mundo vive num estado de profunda e patente hipocrisia, de
guerra
permanente e, medo constantemente latente.
Resume-se
aqui a história dos símios pouco sapiens que somos. Apenas
variam as vestes. Ou seja, a moda evoluiu
bastante. Libertou-nos
das quatro
patas e pêlos,
para
pesadas armaduras até chegarmos aos leves drones e ao fio-dental.
Só
a nossa estratégia
não evoluiu. Oprimirmos
alguém menos forte, mais ignorante, mais ingénuo, mais submisso,
mais medroso mantendo-o
pobre. Vá lá, comecem a desenvolver outras...ou talvez não, estas
dão bons resultados!
Homens
de elevada estatura, de Ghandi a Mandela passando por Steve Biko e
Amílcar Cabral, trazendo no bolso Henry Thoureau, inspiraram e
continuam a inspirar gerações. Gene Sharp, o autor que algumas más
línguas dizem que é pago com dinheiros americanos, escreveu um
livro de resistência pacífica. Livro esse, estudado e inspirador de
movimentos de revolução, de movimentos de contra-poder à opressão.
De Resistência. As chamadas primaveras árabes. Primavera essa que o
regime angolano tem medo. O Inverno é uma estação mais propícia à
manutenção do status quo de Angola. Mas é o descontentamento de
muitos que já não se deixam enganar. São as sementes que tentaram
enterrar e que hoje brotam pujantes. Não precisam que uma qualquer
nação lhes pague para resistirem. E se pagarem? Não foi assim que
movimentos como o PAIGC, o MPLA, a FRELIMO, ANC lutaram e formaram
quadros de resistência ao colonialismo. A história que se seguiu
dentro dos movimentos é outra história. Mas tem nome.
Chama-se
ganância e ostentação.
Esta
é a resistência criada por estes jovens, que vêem o seu povo
martirizado, com fome, e, roubado em nome da eterna ganância e
ostentação.
Relembrando
factos da História, Mandela passou 27 anos na prisão, fez greve de
fome, num período que todo o mundo aceitava o apartheid como normal
numa sociedade desenvolvida... Ghandi fez greve de fome e resistiu
num período no qual o colonialismo (actualmente globalização) era
aceite e “tradição” entre nações…
Hoje
são inspirações. Talvez encontrem nos computadores e debaixo dos
colchões destes jovens, livros com relatos reais da resistência
pacífica destes homens. De que serão acusados? De tentativa de
golpe de Estado? Pagos por quem?
Outros
pensadores inspiraram os homens e mulheres que se propuseram libertar
outros homens e mulheres como eles, de domínios absolutos sobre as
suas liberdades.
Nunca
fomos tão evoluídos tecnologicamente e as redes sociais hoje servem
de meio de comunicação alargada entre o mundo inteiro. E isso é
fundamentalmente bom. Porque podemos criar grupos de solidariedade do
mundo para a Síria, do mundo para Angola, do mundo para o
Médio-Oriente, do mundo para as crianças raptadas por grupos
extremistas, do mundo para mulheres agricultoras em luta contra a
Monsanto na Índia, do mundo para a Guiné-Bissau e seus algozes, do
mundo para o Brasil e os Índios que protegem as suas terras e são
mortos, e, de um sem número de causas justas que mostram a involução
do símio que somos.
As
redes sociais que fazem a ponte e ligam os grupos que fazem
resistência e contra poder são essenciais para uma sociedade ética.
Os livros e os vídeos de pensadores que nos trazem tudo o que já
foi inventado desde Sófocles traduzido em pensamento contemporâneo
são vitais para a formação e para a educação. Essenciais para
desconstruir e desmontar os robôts sem alma em que nos querem
transformar. Temos corpo e alma e ambos servem o propósito do nosso
percurso na terra.
Uma
sociedade sem gente empenhada em salvar um seu
par
é uma sociedade sem alma.
Não
é desperdício dar a vida por causas desta importância. Estes
jovens activistas em Angola e Luaty (há
trinta dias) em
particular, e
BingoBingo, estão
a dar a sua vida a outros.
Quem
sou eu para julgar a sua decisão por mais que me custe e por mais
que saiba quem o seu
opositor é? Tem
sido esse o lema em Angola, vinda de quem um dia por ironia e esta
sim uma enorme piada cósmica, quis ver o seu povo ser
liberto do opressor
colonialista. Ou
talvez não. Apenas lhe quis o lugar.
Parece
uma piada de mau gosto vinda do cosmos. Mas só nos podemos opor e
resistir ao que nos é contrário e naturalmente neste caso, o que
vincula a vida à violência.
Foi
assim que vimos o mundo avançar, apesar dos pesares. Com
resistência e luta. O
povo angolano está já a perceber os efeitos desta acção e nunca
mais será o mesmo.
Luaty
e
demais jovens repito-me, encontrar-nos-emos
no futuro onde espero que tenhamos uma sociedade mais...humana. É
esta a luta.
Hoje
no Rossio!
Amanhã
22 Outubro, em frente ao Consulado de Angola em Lisboa.
Os
factos:
4 meses após a prisão dos jovens activistas sob a
acusação humorística de tentativa de golpe de Estado para derrubar
o Zécutivo, ao serem apanhados a ler o livro sobre resistência
pacífica...
Mais de 90 dias de prisão sem acusação e sem
liberdade como manda a lei.
Vivem em condições que
desconhecemos.
Por todos os angolanos que já morreram à
fome governados por um regime que tem comido como se não houvesse
amanhã e os mantém na ignorância e na pobreza, estão presos
activistas políticos que resistem ao regime e em greve de
fome.
Exigem a liberdade imediata de todos como prevê a lei,
para que aconteça um julgamento que todos imaginamos será livre e
justo...
Há
quem peça que parem a greve. Há quem peça cartas de amor.
Todos
os gestos são de amor. Amor pela vida. Ninguém quer ver
ninguém nos dias de hoje ser sacrificado como na Idade Média.
Evoluímos. A ética e os direitos humanos não são, mas deveriam
ser os pilares de qualquer sociedade moderna. Que Angola não é, nem
Portugal.
Os gestos de amor dos activistas e os gestos de quem
os ouve cá fora, sofrem com esta escolha e, pressionam tudo e todos
para que termine este horror. Não deveria ser assim.
Neste
braço de prepotência do regime , os jovens estão a ser usados como
elemento dissuasor.
Eles são como Rafael Marques, os
elementos de fuga da panela de pressão, que não é mais possível
tapar.
Conclusão:
Tudo
tem princípio meio e fim como a vida.
Como as todas
imposições do homem sobre o homem-opressor versus oprimido
(apartheid, colonialismo, ocupações, e regime ditatoriais).
E
este regime tem os dias contados queira ou não.
Estes
jovens têm de fazer greve de fome pelos milhões que têm fome e a
ela são forçados pelos seus governantes. Felizmente são a
consciência do povo e nós com as barrigas confortadas, temos de ser
parte da boca que tem fome e que não cala a fome de liberdade.
Hamlet
o príncipe de Shakespeare disse que lhe bastava-se
a ele próprio com a
sua casca
noz
para
ser feliz.
A
casca de noz é a sua consciência.
Quando
se pergunta olhando para a caveira “ser ou não ser?” pergunta-se
implicitamente: perante a inevitabilidade da morte quem quero eu ser?
Feliz com o ser que é a minha consciência ou ser
uma
qualquer
figura
falsa?
Antes
ser feliz com a minha consciência pensou
Hamlet. Certamente que estes activistas assim o pensam, são
verdadeiros consigo próprios, despidos de personagens falsas,
por isso se torna mais difícil se relacionar com o mundo que se
desenrola no palco das suas vidas.
Agradeço
a compreensão de
quem me lê, em
relação à minha consciência e às minhas expectativas, quem
sabe perversas como
ser humano, em
querer que a ética e a bondade vinguem. O
extraordinário é que cada vez mais gente se vira nesta direcção
de
mudança.
Quero
acreditar que esta
é a boa notícia
da evolução.