“só ganham o ordenado mínimo mas pelo
menos não estão no desemprego”
Devo estar ou cheia de inveja ou sou
mesmo maledicente, só porque me apetece. Sobretudo hoje e amanhã em que o
trabalho é escasso, um bem luxuoso e caríssimo. Alcançável apenas a ricos.
Quem pretender ser pago por aquilo que
são qualificações, conhecimentos e saber fazer, é um meliante. Malandros e
preguiçosos.
Onde já se viu quererem sair do estatuto de pobretes, alegretes,
disciplinados, caladinhos sem fazer ondas e, saltar para a plataforma da
arrogância de querer ter opinião, ou imaginar que têm direito a querer uma vida
melhor?
Ora aí está senhores empresários o
perigo para a democracia. Estes que se atrevem a querer mais e melhor. E até
pensam nisso… Alguns até reivindicam…Que desplante!
Querer ter mais que o salário mínimo!
Querer que o dinheiro dos seus descontos
e impostos que paga ao Estado, à esquerda, à direita, em cima e em baixo seja
aplicado convenientemente e guardado para o seu futuro grisalho, é um capricho
de menino mimado.
Não sei qual o caminho que iremos
seguir, qual a via que vamos optar, mas certamente prefiro estar vivo a estar
morto, ou pagar para trabalhar, para nele participar…seguindo a lógica do meu título…e frase usada por um
puto de 16 profícuos aniversários. Pois...
Preferível viver em África a ganhar bem com
qualidade de vida do que com o subsidio de desemprego em Portugal.
Preferível viver na Europa com os
resquícios de falsa democracia e estado social moribundo do que na Somália ou
no Bangladesh a trabalhar nas fábricas que vão ruindo.
Onde aqueles que tiveram
o azar de morrer, ganhavam abaixo do mínimo degradante…mas pelo menos tinham
emprego…
Até posso não ter electrodomésticos de
luxo em casa (fogão e frigorifico por exemplo) se ganhar o ordenado mínimo, mas
aspirar a ter uma Bimby é um direito que me assiste.
Com o ordenado mínimo posso apenas comer
couves vindas dos mercados reais, agora aspirar a juntar-lhe um feijão
encarnado e um pedaço de toucinho é talvez uma ambição desmedida.
A longo prazo, haverá gente a pensar, se
calhar porque sou uma tonta com manias de grandeza, ainda vou agradecer voltar
à idade das trevas, dos pedintes, dos sem-abrigos, da fome e da miséria,
enquanto os fidalgos empreendem barato, giro, sem pagarem impostos e dizendo alarvidades
sem pensar.
São de louvar todas as iniciativas que
mostrem capacidade em vencer os obstáculos actuais. Mas com consciência. Consciência
do todo. Do que se passa no mundo.
E foi isso que alguém tentou fazer ao
menino. Sem sucesso.
Não esquecendo no entanto, se alguém
ainda tiver pachorra para explicar, que estes M & M´s (Martins e MiguéiS) são apenas
árvores e não a floresta. Essa está em coma induzido. Em sofrimento atroz e sem
ver uma brecha de luz. Que a escolha do mal menor é triste. Que baixar a fasquia e acomodar-se é doentio.
Estes empreendedores são magníficos e têm
garra mas não são a última coca-cola fresca no deserto quente.
Quando eu tinha 15 anos via o Mr Magoo, cegueta
a desviar-se de obstáculos e com muita sorte não sofria qualquer arranhão.
Hoje vejo este país magoo, completamente
cego, sem direcção, a cair em todos os buracos e, a deixar um rasto de destruição.
Incluindo a destruição das perspectivas dos seus filhos, pais, avós e netos. E
criando terror.
Também o terror de descobrir deslumbrados
por 8 minutos de fama com a nova fórmula de capitalismo mórbido.
Deixemo-nos de tretas cidadãos que vivem
com ordenados mínimos, ou abaixo: viver na escravatura dá-nos a vantagem de ter
um amo que nos dê as refeições e um alpendre com um poste para dormir encostado…
Ai esta terra ainda vai servir um ideal…ainda
se vai tornar um imenso Bangladesh…
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