Na
próxima campanha eleitoral vou-me sentar em frente ao parlamento com
um cartaz:
Preciso
de dinheiro (não de trabalho) para colocar numa conta na Suiça,
passeios, carros, casas, roupa de marca, sexo, drogas e rock.
Pelo
menos não vos estou a n´rolar!
A
partir dos cinquenta ( anos cheios de cores e a maturidade oferecida
pelas experiências) conseguir trabalho, esta imposição nascida com
a Revolução Industrial (no ténue equilíbrio de laborar oito
horas e receber o justo para pagar uma linha mais ténue além da
sobrevivência) é hoje uma miragem num deserto seco sem oásis. O
Holy Grail.
Trabalho...
Das
9 às 5 ou por turnos. Apenas por dinheiro…imposição esta saída
de uma mente ainda mais brilhante que a de Einstein.
Porque
nos relativizou a vida.
Mas
alguém se pergunta porque razão precisamos desta imposição e
desta pescadinha de rabo na boca?
Quando
esta resposta for uma epifania na mente de cada um teremos uma
mudança significativa da vida.
Encontrar
trabalho é entrar no mundo sado-maso. Muito suado. Sem bom sexo e
menos ainda com orgasmos. Sobretudo quem não goza com prazer
misturado com dor.
Os
alarves a comer tudo.
Nesta
mesma idade é como conseguir elogios: só se forem os gajos das
obras a olhar e a manifestarem-se alarvemente.
O
trabalho esse, só se for em lugares e tarefas onde a exploração de
homens pelos seus semelhantes se tornou a poesia corrente.
É
esta a nova normalidade no mundo laboral ?!. Na maioria sim.
De
preferência querem várias variantes de escravatura sem o grilhão
no esporão:
-trabalho
pro-bono e se o trabalhador tiver a bondade e a boa vontade de
aceitar ainda se riem. Mais um "operário em construção"
que se deixou enganar. Se não aceitar e se mostrar indignado, é
julgado como arrogante e com "a mania que é melhor que os
outros".
Se
protestar...o colaborador (nova nomenclatura) é dispensado.
Direitos?
Por favor, em que mundo é que vivem? Têm a sorte de ter trabalho...
Depois
de 8 horas seguidas e extenuantes de trabalho em pé a servir 150
pessoas, para receber €5,00 à hora, a 60 dias, ter direito a ir à
casa de banho, descansar 10 minutos, fumar um cigarro e comer
qualquer coisa...é direito que não assiste ao "colaborador".
Trabalhos,
formação, estágios sem qualquer remuneração e apenas uma pequena
participação nos transportes e uma bolsa de subsistência de cento
e poucos euros. Pagamentos a 60 dias.
Este
é o pão de cada dia num venha a nós um reino orgiástico de
patrões desumanos que se alimentam das fragilidades.
Iguais
aos governantes que se governam através das fragilidades.
E
as experiências continuam, por necessidade, por comida.
Aos
seres humanos deveria ser permitido apenas engolir alguns sapos mas
só até à garganta. Jacarés, nem pensar.
Os
patrões usam o pequeno poder que têm de mandar o croquete para a
travessa do rissól se entender que o trabalhador vive acima das
possibilidades ao querer ir fazer xixi no final de duras e longas
horas sem parar, ou quem sabe provar uma chamuça antes de morrer com
a fraqueza.
Ninguém
se atreve a pedir licença para descansar. Ninguém se atreve a
sentar. Mesmo que se esteja a arrastar. Ninguém se atreve sequer a
trocar uma palavra com o colega. Menos ainda alguém se atreve a
responder a humilhações e a contestar.
A
estes chefes, incapazes de saber o que é liderança, espera-os com
certeza uma medalha por serviços à Nação no 10 de Junho.
O
medo vence neste jogo do campeonato do poder.
Assim
querem que pensemos:
Antes
ser explorado que não ter emprego…
Antes
ser humilhado que não poder comer uma carcaça cheia de químicos.
Não
prestamos para nada.
Se
estivermos cansados somos moles e não temos valor nenhum.
Se
somos despedidos a culpa é nossa.
Nós
é que não servimos!
E
nós...aceitamos e acreditamos.
E
os “colaboradores” por medo de perder a miséria calam.
Deixámos
de querer o direito à vida,passámos a desesperar pelo direito à
miséria.
E
num toque profundo de Midas transformámos a exploração do nosso
semelhante no ouro moderno.
Este
capitalismo mata. É genocídio. É um atentado aos direitos humanos.
É a Al Qaeda autorizada, consentida, fomentada pelos Estados que
nada têm de direito. E os soldados (os políticos do regime global)
ao serviço das corporações são treinados para matar sem
contemplações.
O
saque de ouro.
Este
é o mundo com que se confrontam milhares de pessoas
independentemente das faixas etárias. Em Portugal e no mundo onde as
empresas que criam empregos, se "esqueceram" que são as
pessoas que as fazem ganhar estatuto e cotação nos mercados.
Capitalismo
e consumo a pescadinha de rabo na boca que nos obrigam a comer. Crua.
A guarnição é a pedra que se senta no estômago e provoca a
obstrução que leva à morte por asfixia.
A
Europa tornou-se um lugar de medo. Deixou de ser seguro viver nesta
desunião de facto. O companheiro revelou-se após os primeiros
tempos de sedução e charme, num homem inseguro e dominador, usando
a violência para humilhar e controlar, porque incapaz de o conseguir
naturalmente.
Diz
à sua vítima que a ama e que quer o seu bem, mas que de facto
sozinha ela não será capaz de vingar, porque não presta, não sabe
resolver os seus assuntos, nem tem capacidade para o fazer sozinha.
Aliena
a vítima, coloca-a em isolamento, medrosa, dependente,
submissa,vulnerável. Em profunda solidão.
Mesmo
querendo e gostando, eu, já não estou nada bem com o caminho
prescrito. O amor nesta união não morreu de morte natural, morreu
porque determinaram que seria para morrer. Nem deixaram espaço ao
meu livre arbítrio.
Recordo-me
da minha vida em África e os passeios quinzenais ao Kruger National
Park. Paga-se um bilhete à entrada, recebe-se um saco de papel para
os restos do que se comer no carro, uma vez que dele não se pode
sair sem ser nas áreas próprias e adentramo-nos no parque a
observar a vida selvagem no seu meio ambiente natural.
Sinto-me
uma bambi faminta e vulnerável prestes a ser devorada pelo predador
mais próximo. O melhor momento da visita ao parque será sempre o de
um predador a apanhar uma presa e com ela se refastelar. Enquanto a
presa é observada pelos algozes nos carros que passam.
Eu
caída na armadilha nem pernas tenho para correr fui ferida no
primeiro combate. Mas não morro sem luta.
Não
serei comida sem ficar encalhada com um osso num dente do predador.
Um dia quem sabe o predador engole o seu próprio veneno.
Quem
sabe os predadores nas eleições vão engrossar as fileiras do
desemprego.
Esses
sim no desemprego por para nada prestarem. E não me peçam
referências para o próximo emprego.
Que
mal fizémos para merecer esta gente e este karma histórico de lutas
por poder?
Todos
temos um lado obscuro e um lado de bondade. Todos nos precisamos de
no outro nos reconhecer.
Esta
gente por infortúnio, dolo e por querer, não descobre nenhum lado
bom. É patético e é só em nós, as frágeis vitimas, que vai
continuar a doer.
Perguntem-se
para que serve o trabalho. Para que serve o dinheiro. Para quê ser
escravo desta pescadinha de rabo podre. A envenenar-nos pela boca.
Nem
fazemos o que gostamos, nem gostamos do que fazemos. É isto
liberdade? É isto viver?
Perguntem-se
e a vida para que serve?
Se
somos “operários em construção” na construção que é a
vida, por que razão seremos nós próprios os construtores de
operários sem vida?
Enquanto
eu puder confiar na minha voz vou-me revoltar, denunciar, protestar.
E
desobedecer. Desobedecer. Desobedecer.
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