A minha catarse é a escrita. Com muitas
perguntas e poucas respostas.
Vou apenas tentando perceber o que me rodeia e
pelo meio saber mais sobre quem sou.
Como li algures (onde trouxe a inspiração para este texto), quando estamos no ventre
materno desconhecemos o que se vai passar a seguir. Desconseguimos imaginar o
significado do nascimento. É tal como a morte, um conceito abstracto para o
bébé, como para os adultos.
Nem imaginamos o que sucede a partir do momento
em que encaramos este mundo, por quanto tempo e qual vai ser a história que
vamos fazer. Ou sequer se haverá história.
Naquele mundo aquático perfeito, a nossa
imaginação vai onde o cordão nos liga: à fonte da nossa vida: a mãe.
Desconhecemos quem ela é, como é, a sua forma, mas parece que conseguimos
percepcionar o som da sua voz. Pouco mais.
Depois de deixarmos a água voltamos à mesma
incógnita mas no estado sólido. Quando, para quê, o quê, que fazer? O que mais
existe para além do conhecido?
Há muito que decidi que não ando cá para me
adaptar, ajustar ou conformar.
No ventre da minha mãe o espaço era reduzido e
apenas deixei de estar sentada para me colocar de pernas para o ar e sair. Nem
sabia o que era o medo.
E é de pernas para o ar que pretendo andar até
isto ficar direito. Ou vice-versa. Sem medo, mesmo sabendo agora o que é.
Apenas sei que isto está tudo torcido. A
precisar de fórceps. Mesmo que fique com uma cabeça de melão. E a doer.
Hoje sei que estou cá para me rebelar, ser
livre, colocar em causa o que não é ético, genuíno e transparente, através das
construções dos meus sonhos em realidades, aproveitar as possibilidades ao meu
alcance para transformar alguma coisa, e participar activamente na desconstrução
do que me revolta o fígado. Senão a minha vida serve para muito pouco e é mal
aproveitada.
Só tenho esta, tanto quanto me foi dado a
saber. E vou aproveitar para lhe dar a volta em vez de ser ela a dar-me a
volta.
Porque desconsigo ser indiferente tanto ao que
se cruza no meu caminho de bom e bonito como de mau e feio.
Relembro a frase de Eduardo Galleano: “este
mundo de merda está grávido de outro melhor”. É isto que eu espero. E ajo para
que assim seja. Obrigo-me a renascer.
Ajam também todos aqueles que sentem o útero a
apertar-se. Roam o cordão umbilical se preciso for.
Expandam-se, dêem pontapés e forcem, mesmo que
o medo do desconhecido vos faça ter vontade de se aconchegarem ao ventre. Ou
acomodarem no seu liquido. Não deixem que o abstracto do conceito seja a realidade palpável.Na sua forma pobre,crua e sem sal.
Ou apenas ficar a aguardar outra passagem para outro mundo desconhecido sobre o qual apenas temos mais um conceito abstracto.
O estado do mundo para além deste em que nos
encontramos deve ter outra poesia. Ajudemo-la a nascer sólida. Antes que se faça água. Antes de partirmos.
Digo eu! que sonho muito nas águas sólidas da minha imaginação.
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