Apanhou-a
de surpresa. Quando olhou os seus olhos de um azul profundo como o oceano
largo, o seu coração ficou suspenso.
O
dia aproximava-se do final. Entraram pela noite numa animada conversa rodeados
de pessoas. Mas olhavam-se sem receio e absorviam-se.
A
sua alegria era contagiante, o sorriso sem receio de se dar. A conversa fluía
como se se conhecessem fazia anos. De repente tinha tudo. Em poucos minutos de
troca de palavras, mas sobretudo quando falavam com os olhos. A noite voou. Não
trocaram contactos. Deixaram que o destino os guiasse.
Por
uma feliz coincidência reencontraram-se numa rua. Era improvável aquele
encontro, por isso o atribuíram ao destino. Não se tinham esquecido do outro
depois daquela noite feliz. O tempo passou de novo a voar. Falaram muito. Em
particular com os olhos.
Voltaram-se
a encontrar para doces encontros na praia. Onde ficavam sentados na areia. Ou a
passear de mãos dadas com a água. De dedos entrelaçados. Às vezes próximos
demais como para se ouvirem atentamente.
Sobretudo
ela ouvia-o. Ele adorava contar histórias e tinha vivido muitas. Dizia que
também gostava de escrever. Ela ria-se muito com as estórias e dizia-lhe que
não podia esperar até as ler escritas. E ele feliz com tão boa ouvinte falava.
«és uma pessoa… interessante» é o melhor adjectivo que encontro para te
definir. Não parece mas é uma palavra grande. É o superlativo de alguém que é
tudo». Riram-se ambos.
O
tempo sempre que estavam juntos corria com pressa. Contrária à pressa que eles
não tinham.
«Sou
um homem de paixões fortes» anunciou-lhe ele.
Mas
não eram livres. Havia tanto que os prendia. Deixaram que o destino tomasse
conta das suas vidas. Ele partiu, ela partiu. Para outras viagens.
Despediram-se com dor no olhar e no coração. Ainda se tentaram falar, mas o destino,
senhor da situação recusou-lhes um último riso.
Quis
ele, esse companheiro da vida, o destino, que se reencontrassem inesperadamente
quando já nada fazia prever que as suas vidas se tocassem. Ansiavam o momento
de se reverem.
Nesse
dia o beijo que trocaram falou por eles. Nele se deixaram desnudar. Foi o
primeiro, o único, o último.
O
tempo passou por eles cheio de pressa. Eles não tinham nenhuma. Pediram-lhe que
parasse. Ele assim não quis. Eles seguiram-no. Do tempo não recebiam piedade.
Tudo
o que ele fazia era dar-lhes momentos. De conversas longas, com os dedos
entrelaçados, sentados num banco de jardim. O jardim não os conhecia e para
eles aquele lugar desconhecido era o paraíso.
Aproveitavam
o que sentiam ser o momento que não se repetiria. Apenas os olhos repetiam o
que não era dito. Numa única vez palavras escaparam «és um ser quase
alienígena, especial para mim».
Despediram-se
de novo. Nunca mais se encontraram. Falaram mas não disseram o que calavam.
Convidaram-se a manter-se em contacto «sei que nunca nos perderemos, o contacto
perdurará», afirmou ele.
Ela
como sempre ouvia. A vida com os seus planos não se compadecia com as vontades
dos estranhos, que queriam por ela ser acolhidos. As regras pertenciam à vida.
As
escolhas…ah as escolhas… Nunca sabemos de quem são as escolhas. Se vêm da
vontade, se do destino. Se das bifurcações dos caminhos que abrimos na breve
passagem.
O
tempo corria sem piedade.
Naquele
dia cinzento, a tarde caía, quando as palavras estoiraram como uma tempestade tropical,
brutal, repentina, avassaladora:
-O
coração dele repentinamente tinha parado.
Os
dois tinham sido duas linhas tangentes que se encontraram uma vez e agora se
separavam para sempre.
Tinha
que acreditar nas palavras dele, ditas num dia já distante «sei que o contacto
perdurará, nunca nos perderemos»...”Nascemos para morrermos e morremos para
nascermos de novo”.
Sabia
isto, mas foi tomada pela surpresa. O coração dela ficou suspenso.
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