Numa pausa para um cigarro, ela, a escrava, fez uma reflexão sobre ética e moral e um dia as regras do jogo mudaram...
Eu, hoje escrava de outros donos, faço também uma pausa, para um cigarro, com mais químicos, mas a reflectir sobre os costumes, comportamentos e ética, ontem como hoje, tão semelhantes na sua falta.
Na esperança que um dia mudem também as regras do jogo.
Deixámos de ter apenas uma visão sobre a
vida cartesiana/newtoniana/materialista, assente no princípio de que o que não
podemos ver nem tocar, não existe.
A terra já não é mais plana. Gates ou Jobs
não foram queimados em fogueiras quando apresentaram ideias inovadoras e
revolucionárias.
Na parábola da alegoria da caverna de
Platão, as imagens na parede eram a representação do mundo fora da mesma.
Hoje importa sair da caverna, libertando a
mente, desconstruindo e descodificando o matrix que nos é apresentado, pelos interesses em criar estereótipos e em levar-nos à cegueira.
Sobretudo à cegueira do pensamento e da
reflexão. Importa passar do papel passivo e de simples recipientes de conteúdos,
para agentes activos de reflexão e acção.
Nas palavras do sociólogo Manuel Castells, e perante a insignificância do que somos,
“A forma como pensamos determina o que
fazemos”,
“A manipulação das mentes é muito mais
eficaz do que a tortura dos corpos”,
Nos grupos, “os projectos individuais
passam a ser projectos colectivos”,
Para deixarmos de vez a caverna, deixarmos
de vez o modo adormecido, ou o modo avestruz em que nos encontramos globalmente, apesar das pequenas manifestações de rebelião, precisamos acompanhar o movimento ininterrupto da
terra, não deixando de alimentar a reflexão sobre o que nos rodeia e, agir de
acordo com a ética e a moral.
Não agir apenas como o reflexo do que nos é apresentado, mas do que cada um
constrói para si, que sirva também os outros.
Acredito que nada do que temos nos
pertence. Acredito que tudo nos é emprestado: o corpo que vestimos e que cumpre
as obrigações da alma, o planeta que habitamos, os filhos que geramos.
Quando o jogo acabar seguimos todo o mesmo
caminho para o lugar que todos desconhecemos.
Como diz o filósofo brasileiro Mário Cortella
“não nascemos prontos”, vamo-nos construindo. Hoje somos a versão melhorada do
que formos fazendo connosco. Alguns…
É na ética, que se articula com as demais
ciências, que encontramos o espaço para reflectir e compreender essa realidade
como indivíduos e como grupos, tendo por base o homem, no processo da sua
construção, através das suas práticas, ou moral.
Este é o objecto da Ética, reflectir sobre
as acções humanas e, os seus fundamentos ou normas universais que medeiam os
comportamentos entre os homens.
Desta dialéctica nasce a lei que regula a
liberdade individual no confronto com a colectiva, com o objectivo de
estabelecer a segurança e o respeito pelo indivíduo. É objecto da ética
reflectir sobre o objectivo da vida humana.
“Medi-mo-nos
verdadeiramente com os demais quando agimos”, como bem lembrou Goethe, que é o
que se designa por moral.
O objectivo da vida humana é ser feliz,
é objecto da ética compreender quem é o homem, o que o faz feliz, quais os
comportamentos que o levam à felicidade, tendo em conta que o ser humano é
composto por emoções, sentimentos e conflitos entre os mesmos, daí a ética
poder resultar num verdadeiro inferno de reflexão.
Desta forma, reflectir, compreender,
perceber o homem na sua realidade, interpretá-la e problematizá-la, o objecto
da ética, é também mediar os conflitos.
A ética não
distingue épocas históricas, nem momentos. É simplesmente aquela que é, prima
por aquilo que deve ser o princípio do viver em comunhão em qualquer época ou
circunstância.
Ou se é ético ou
não se é. Procurando levar cada indivíduo a, respeitá-la, deixando-se guiar,
inspirando-se e integrando os mesmos princípios.
Costume, é de onde deriva a palavra ethos,
do grego, e êthos, vem de morada habitual.
Indica-nos simplesmente que as moradas onde
residem os costumes, são sagrados e inquestionáveis, pertencentes a toda a
humanidade como um só.
Na sociedade moderna os conflitos entre
ética, moral e costumes, são cada vez mais, um sintoma da doença profunda em
que o homem se encerrou. E dever-nos-ia obrigar a cada dia que passa, questionar
a caverna onde vivemos.
Deixe-mo-nos em cada morada, com os ethos
universais guiar pelos princípios éticos sagrados, com comportamentos morais
que se pautem pelo princípio da harmonia e da felicidade, fim único da
humanidade.
Para "deixarmos essa obra como epitáfio".
Mário Cortella sobre ética e moral no programa do Jô Soares
http://www.youtube.com/watch?v=LK91Ut7jJIM
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