Nas minhas deambulações pelo mundo dos pensamentos,
estes acabam por se cruzar num misto de perplexidade e inconformismo e acomodam-se
perfeitamente no espaço desorganizado que é um cérebro que não se quer
organizado, por pura preguiça.
Ou vingança por tantas imposições politicamente
correctas.
Dirão: “perdeste o norte”, respondo: que a minha
bússola são os “meus próprios passos”.
São divagações minhas, a viver no mato,
sobrevivente a malárias de repetição em pouco tempo, naturalmente já com partes
de neurónios pouco funcionais, incapazes, totalmente descalibrados e lassos.
Pensamentos que nasceram na celebração do meu
aniversário, num karaoke. Ou antes, inspiraram-se a tomar rumo para mais um
pequeno texto.
Se eu estivesse de fora pensaria, mas…num karaoke?
Como estou a ver de dentro, digo que é assim que
este cérebro delira, desgastado que está pelas picadas dos mosquitos.
Basta uma frase, uma situação, uma cena vista com
olhos sarcásticos, críticos, sem folhas secas e enroladas para rir, que lançam
a armadilha para que eu nela entre e delire para o papel.
O pior que me pode acontecer é ninguém ler os meus
delírios.
Descobri que Eugene McCarthy um geneticista anda a
revolucionar o mundo com uma nova teoria.
A teoria da hibridização como origem da raça
humana.
A saber, a reprodução provável entre um grande
maluco javali macho com uma desvairada fêmea chimpanzé.
Ou um amor improvável e livre entre estas
espécies. Ou tão só e apenas por necessidades de higiene sexual.
Os filhotes chimpanzé-porco teriam sido
alimentados por uma mãe chimpanzé entre os próprios chimpanzés.
A história do Tarzan e da Jane afinal talvez não tenha
sido uma invenção da Universal Studios do bosque sagrado vulgarmente conhecida
em inglês por Hollywood.
Com muitas provas científicas para quem se quiser
informar sobre a possível evolução da raça humana.
Vão pensar:” a outra parou a medicação”! Respondo:
vão àquele motor de busca famoso, dispam-se de preconceitos e mesmo que haja
uns senhores da NSA,CIA,FBI, qualquer ovni ou até dos chocolates kinder a
observar-vos, a informação nas revistas científicas está lá.
Esta raça nascida do porco pai com a chimpanzé
mãe, que somos nós, chega às noites de karaoke do século XXI, onde ouvi uma
frase de um amigo: ”nem sabia que estas músicas existiam”.
Esclareci que eram as famosas duplas sertanejas.
Algumas das quais por quem eu me teria oferecido combater
na actual revolução com os irmãos brasileiros.
Para que lhes fossem retirados os microfones
públicos e apenas pudessem cantar nos karaokes locais. E com esta salvaguardar
a evolução humana. Pelo menos na música.
Vi e fui, na ilha do sexo e a cidade, aos karaokes
que acontecem em cubículos onde grupos de amigos se juntam e dão largas às suas
ambições de ídolos cançonetistas, em ambiente absolutamente privado.
Deve ter sido aí que o Cowell foi buscar a
inspiração para abrir este potencial sinal de declínio e depressão colectivo, ao
público.
Deve ter sido nesta fase da evolução que os
karaokes nasceram como cogumelos, adaptados a cada país, região, aldeia, tribo.
Ao passar para o cantar público, não se colocou a
advertência: a tua avó por ti sente amor incondicional, os outros, sentem
apenas simpatia parcial. E não por mais de 1 minuto. Menos tempo ainda para
ouvir duplas sertanejas.
Dêem-me um karaoke, e eu salto para cima do sofá a
cantar “Waterloo” muito desafinada como uma mãe chimpanzé! Mas em privado. Com
zelo pela sobrevivência.
Eles e elas cantam como se não houvesse amanhã.
Nem hoje, nem ouvidos feridos. Levam-se a sério.
Nasceram do cruzamento entre animadores com muita
adrenalina e empreendedores cheios de energia da vodka. Um reflexo nos pequenos
grupos, da grande montra que são as sociedades?
Karaoke, politica, televisão-espectáculo, ganância,
lucro, má-governação, manipulação de uns pelos outros, desonestidade, laxismo e
nivelamento por muito baixo, são um pequeno passo para a humanidade e um passo
gigante para a evolução do gene? Dos porcos-macacos. Ou seja, da nossa!?
Ao longo da noite, as desconfianças de que nos
estamos a tornar uns bimbos começou a ganhar terreno. Ou de que estamos a
degenerar nos genes. E a voltar a ser porcos-chimpanzés.
Usando uma metáfora artística, a este ritmo, se as
duplas sertanejas, os gangnams e os tonis ganham terreno, bem como os artistas
do circo barato, aos todo-poderosos magnatas “pseudo-donos”, que cobram
bilhetes elevadíssimos para dominar a audiência, movidos apenas pelo lucro, e, que fomentam o desvio do gene, corremos o risco
de virmos a ser meros pontos numa caixa de palco, até voltarmos ao pó.
E a sermos varridos para debaixo do tapete da via
láctea.
A natureza só se pode sentir irrevogavelmente
frustrada, de facto e não apenas um eufemismo, pelo resultado deste amor entre um porco e um chimpanzé, pela
degenerescência visível de quem somos, seja a cantar karaoke sem talento de gente
sem talento, seja a fazer politica, seja a citar Beauvoir.
E eu, apesar do mau karaoke e da involução cito-a
quando diz:
-"Querer ser livre é também querer livres
os outros".
Chegados a este estádio, nesta bifurcação, temos
sempre escolha. Ou o porco ou o chimpanzé. Ou quem sabe, nós como raça.
Nem que para ser livre tenha de me livrar daqueles
a quem não posso obedecer, correndo se não o fizer, o risco maior de perder a
minha origem.
E, não sem me rir de mim própria e dos meus pares,
antes de adormecer ao som da chuva africana, com o cheiro da terra que me entra
pela pele, levo-vos ao poema “Cântico Negro” de José Régio na voz de João
Villaret, esperando que um milagre da natureza nos venha salvar.
Sem karaoke.
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