quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Somos todos culpados, somos todos responsáveis



Na espuma dos nossos dias (na idade das trevas parte II)

UBUNTU: “Eu sou humano porque eu pertenço, eu participo e compartilho”.

“Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Como tinha muito tempo ainda até o embarque, ele então propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, colocou tudo num cesto bem bonito com laço e fita e colocou debaixo de uma árvore. Chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam correr até ao cesto e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças posicionaram-se na linha que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente, todas as crianças deram as mãos e correram em direção à árvore. Ao chegarem, começaram a distribuir os doces entre si e comeram-nos felizes. O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que razão elas tinham ido todas juntas, se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: 
"Ubuntu, tio. Como é que uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?" 

Somos porque somos o outro, porque nos contemos no outro. Ubuntu é mais do que uma palavra, ou filosofia. A solidariedade e a força de um grupo é maior do que a do indivíduo.
As necessidades da comunidade são maiores que os direitos individuais ou as suas necessidades. E a responsabilidade de cada um é maior para com a comunidade. Não apenas aquela a que pertence. Mas ao todo. 

Os efeitos da globalização, da sociedade viciada pelo consumo, pela individualização e pela megalomania dos homens gananciosos, têm estado naturalmente a derrubar este conceito.
Não ver e não falar sobre o único sentido da vida em comunidade que é a partilha e a empatia, os valores que nos deveriam guiar como comunidade e como indivíduos, é perder a razão de existir da família humana.

Por estudar Educação, ser mãe e avó, tenho o desejo, mesmo que seja uma utopia, de que um dia os jovens e os adultos se sintam imbuídos do sentido da filosofia Ubuntu, nas escolas, nas famílias, nos grupos sociais, na política.
Não, o sentido inverso que estamos a caminhar. O da sequela Idade das Trevas parte II. 

As praxes de boas vindas, que ensinam respeito, partilha, empatia, inclusão e Ubuntu, são bem-vindas em todas as escolas e universidades.
Há muitos anos atrás como aluna finalista no ensino secundário fui convidada pela minha escola para fazer a “praxe” aos caloiros. Através de um discurso perante toda a escola, alunos, professores e trabalhadores, exprimi o conceito Ubuntu, porque o sentia no coração e na mente.
Cumpriram-se praxes de integração dos mais velhos aos mais novos. Com muita brincadeira, empatia e respeito. 

Hoje e de há uns anos para cá, eu, com idade de ser mãe de alunos universitários, sou responsável se eles não sabem que transformaram uma actividade de boas práticas, limitada ao início do ano lectivo, porque depois temos que estudar e, para integração e boas vindas, em bullying. 

Sou culpada pela perda de vidas. Sou responsável por não ter ensinado estes jovens que as actividades de más práticas a que eles se dedicam, dão pelo nome de bullying. 

Ninguém pode ser feliz nem estar a cumprir a elevada tarefa de se tornar um ser autónomo, crítico e cidadão numa Universidade, tendo na sua praxis diária a planificação assumida e institucionalizada de bullying ao longo de um ano lectivo. Que se perpetua com a passagem do testemunho. 

Estou a seguir com atenção o oceano de opiniões e não posso, nem devo falar sobre aquilo que acredito que deve ser em 1ª e última instância um caso para a justiça resolver.
Em consciência também, não posso embarcar no apedrejamento livre de jovens vazios e sem qualquer formação para frequentar uma Universidade. Que parece ser o caso se isto ficar provado. Também porque sou responsável.

Por não ter detectado ou prevenido que os filhos da nossa comunidade se dedicam ao bullying oficial chamando-lhe praxe, transformando-a num negócio sem alma.
Quando andamos a debater o bullying que afecta tanta gente, ferindo profundamente a dignidade da vida das victimas, não conhecemos os nossos filhos, ou se os conhecemos, aceitamos que eles sejam não estudantes, mas bullies. 

Finalmente Jacinto Furtado que escreve no Noticias on line colocou o dedo mais importante na ferida. Há 7 responsáveis e 6 perderam a vida. Um karma pesado.
Ninguém obriga adultos a seguirem rebanhos de ovelhas negras e vazias. Podem se quiserem, vestir uma capa chamada dignidade e seguir outro pasto. 

Se o espirito Ubuntu lhes fosse intrínseco. Não foi, nem é. 

Como mãe, estudante, adulta, cidadã, sou responsável e culpada pelo que se está a passar na comunidade. Somos todos. É o regresso às trevas que queremos como sociedade? É lá que estamos. 

A casa mais importante desta República está cheia destes exemplos de bullies. Atentos a que aceitemos as praxis deles com resignação, conformismo e medo de não sermos aceites e incluídos. 
Ou pelo grave erro de pensarmos que ser humilhado e humilhar é o único caminho para provar que somos homo sapiens sapiens. Como estes nossos filhos acham.

Não posso apedrejar ninguém. Sou culpada. Posso isso sim ensinar os meus filhos a dizer não. Posso pedir para que a justiça, a comunidade em geral e a comunidade educativa comecem de imediato a actuar. Em favor do valor da dignidade, empatia e respeito perdido. Uns pelos outros.

Para não sermos varridos por uma onda. Como um todo.
Podemos mudar a rota? Sem dúvida. A resposta é: Ubuntu!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Posso co-adoptar um deputado?



Na espuma dos nossos dias,

O assunto é complicadíssimo, mas quero dar-lhe um tratamento simplex.
Há 6 meses aprovou-se uma lei, houve comissão e tudo. Parece que os deputados “trabalharam” e agora desaprovou-se. Remetendo-se para a decisão do TC e PR (ahahaha para o último).
Ou quiçá chegue a referendo, onde o povo decidirá.

Há uns anos atrás não muitos havia crianças cujo pai era incógnito, outras que por morte das mães eram entregues a amas e, os pais lá iam visitá-las quando calhasse.
Hoje muito mudou e, apesar de nem a adopção de milhares de crianças ter um processo rápido e facilitado e por isso não menos sério, a sociedade transformou-se vertiginosamente.
Novos factores da vida em sociedade se colocam para serem considerados. São factos da evolução a que nos temos de adaptar,aceitar,ponderar.
Importantes e relevantes onde o superior interesse das crianças está em jogo. Como na adopção ou na co-adopção.
O resto são agendas escondidas.
A minha opinião não interessa. Mas sou sem dúvida contra preconceitos e discriminações.
Se for chamada a votar, irei dá-la neste referendo para idiotas. Pena tenho de não ser chamada para outros referendos.
Iria ainda mais depressa, visto a velocidade vertiginosa como nos filmes fast and furious, a que assisto, à perda de direitos civis a que estamos todos condenados, votar em referendos sobre a soberania, a saída do euro e da Europa, etc etc.
Mas o que eu gostaria mesmo neste momento, ao constatar o tipo de malta (filhos de que tipo de famílias?) que os partidos indicam para a casa madre da democracia, era de co-adoptar alguns.
Pela incoerência provada cientificamente através da votação e declarações de voto. Ao fim de 6 meses de duro “trabalho” pago com o dinheiro que não temos mas pagamos.
Ai agora concordo e passo a lei, ai agora não concordo, ai agora é melhor que o povo se pronuncie.
Ai mas que merda é esta? Estão conscientes das consequências dos seus actos e decisões?
Não! É elementar que não! Ou...

Já sei coitados, vêm todos de famílias disfuncionais. Sem madre ou sem padre. Nem de sexos diferentes nem do mesmo sexo. Enfim, não tiveram pessoas que lhes dessem orientações, amor e carinho. Estão ali perdidos.
Ninguém defendeu os seus maiores interesses para que fossem pessoas responsáveis e éticas. Nem lhes ensinaram moral.
Certamente que andam à procura de uma instituição que deles cuide. Ou de almas caridosas. E foram parar aos partidos. Este é o segredo.
Mas também os vejo ainda mais perversos. Querem criar um hércules distractivo.
Vá tomem areia para os olhos dizem eles.
Vá tomem…alcatrão e penas para as costas digo eu.
Ofereço-me para co-adoptar alguns, sobretudo os que foram contra, quando tinham sido a favor há 6 meses.Faço experimentações de lobotomias no meu quintal.
Já agora qualquer um me serve. Se acharem que não sou suficientemente aceitável, ofereço-me para pagar o bilhete do autocarro da Carris de pelo menos uma dúzia a começar pelos chefes deles, até ao Julio de Matos.
São todos declarada e comprovadamente doidos perigosos e compulsivos e, não os quero a dizer que são os meus representantes.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Quero ser padra



Quero ser padra,

Na espuma dos nossos dias,

Vou ali à Igreja e já volto. Vou pedir emprego. Como padra.
Este Papa liberal, simpático, bonzinho, amigo de pobres e até gosta de brincar aos ditos (como a malta da Comporta), gosta de mães solteiras e não baptizados, fez-me converter.

Noutra vida, soube agora depois de uma sessão com um senhor de turbante vistoso, de nome professor Karamba que faz adivinhação com entranhas de galinha, fui uma herege, e, o meu fim foi na fogueira.
Não me lembro. Gosto de velas e saltar à fogueira no Santo António. Por isso devo ter morrido a rir, em nome da rosa!

Voltei para ser de novo uma herege. Estou do lado das mães da Argentina. Não acredito em nenhuma outra religião e não acredito na verdade da Igreja Católica. Nem no Papa. Esta é uma bela campanha de marketing dos tempos modernos. Mas ofereço-me a uma experiência: quero ser padra!

Sou jobless, homeless, pennyless, sem esperança de futuro e gaja. Tenho a certeza que se saltar da ponte vou falecer. Não me apetece. Magiquei uma saída.

Costumava ir passear ao Vaticano aos fins-de-semana quando vivia em Roma e tentava converter-me.
Mas só me converti à beleza de tudo. Pode ser que agora… Num mundo de gajos como é a Igreja, proponho uma modernice à Santa Sé. De acordo com a actual campanha.

Vou pedir emprego como padra:

Dêem-me uma casa com empregada (ou um bombeiro vivo, daqueles do calendário para angariação de fundos), um bom ordenado (alguns padres fazem fortuna), sapatos prada, vestidos compridos com colarinho branco (adoro saias compridas à hippie).
Se colocar umas flores na batina em puro linho, fica um estilo hippie chic, mais tias vêm à minha missa e lanço uma tendência na moda.

O meu trabalho é o de atrair gente e convertê-los. Peanuts!

Uns Bob Dylans, e uns Jimmy Hendrix (a família Carreira está toda orientada, não precisam), que andam aí nos bares e outros com discos e cheios de talento, mas que não conseguem viver uma vida de artista por falta de massa critica (e da outra) que lhes garanta o sustento, vão tocar na minha Igreja.
Garanto audiências. Até podem vir a gravar o factor X nas minhas bancadas.
Na missa oferecemos bolacha Maria (parceria com o Jerónimo Martins) em vez da insonsa hóstia.
Porque queremos crentes felizes, terão todos direito a um shot de Mateus Rosé.
Vamos ler passagens da Bíblia no novo acordo ortográfico, reescrita pela Rebelo Pinto.
Onde por coincidência (e não as há) Madalena e Jesus tinham um caso e tiveram um filho que deram para adopção por um casal gay.
Onde ele se encontra agora é investigação para o Dan Brown luso. O rapaz com orelhas de Dumbo.

Pregarei Cristo!. Foi um comunista verdadeiro, cool, não queria dinheiro para nada e expulsava os vendilhões do templo. E oferecia jantares aos “apóstrofos” dele.
Vou seguir-lhe o exemplo e passar a mensagem.

Do meu púlpito irei incitar à expulsão dos cromos farsantes e fraudulentos que atiram o povo da Galileia, ai desculpem da Portugaleia para a miserere di vivere.

Falo italiano e poderei usá-lo para quando tiver de ministrar a extrema-unção a alguns pensionistas. Em vez do chato e já morto latim, que por estar morto lhes fará arrepios desnecessários.

Levo o coro de músicos e cantores, todos de linho e flores no cabelo para trazer alegria aos momentos sombrios da vida.

Na porta dos fundos da minha Igreja vai-se abrir um pórtico com um pequeno balcão. Servem-se mines e bifanas. Oferecemos um cartão com a imagem do papa. Quando preencherem o cartão, oferecemos uma mine. Se for americano, oferecemos uma litrosa.
Ajudarei a Igreja a facturar.

Se vier alguém dizer-me que vou ganhar karma negativo por ser de novo herege e que não sirvo para padra, porque sou como o novo papa, moderna e nada cinzenta, blá blá blá, leva com o castiçal mais pesado que estiver na mesa de oração, em nome do Senhor.

Se for recusada, terei de voltar a emigrar, desta vez para Los Angeles, numa roulotte. Para vender bifanas, mines e mini-pratos de cachupa em Rodeo Drive.

Empreendedora me confesso. Vou ali à Igreja procurar vida boa e já volto.
Quem sabe, encontramo-nos na missa.
Se o Senhor for nosso pastor, nada nos faltará…