Quero ser padra,
Na espuma dos nossos dias,
Vou ali à Igreja e já volto. Vou pedir
emprego. Como padra.
Este Papa liberal, simpático, bonzinho,
amigo de pobres e até gosta de brincar aos ditos (como a malta da Comporta),
gosta de mães solteiras e não baptizados, fez-me converter.
Noutra vida, soube agora depois de uma
sessão com um senhor de turbante vistoso, de nome professor Karamba que faz
adivinhação com entranhas de galinha, fui uma herege, e, o meu fim foi na
fogueira.
Não me lembro. Gosto de velas e saltar à
fogueira no Santo António. Por isso devo ter morrido a rir, em nome da rosa!
Voltei para ser de novo uma herege. Estou
do lado das mães da Argentina. Não acredito em nenhuma outra religião e não
acredito na verdade da Igreja Católica. Nem no Papa. Esta é uma bela campanha
de marketing dos tempos modernos. Mas ofereço-me a uma experiência: quero ser
padra!
Sou jobless, homeless, pennyless, sem
esperança de futuro e gaja. Tenho a certeza que se saltar da ponte vou falecer.
Não me apetece. Magiquei uma saída.
Costumava ir passear ao Vaticano aos
fins-de-semana quando vivia em Roma e tentava converter-me.
Mas só me converti à beleza de tudo. Pode
ser que agora… Num mundo de gajos como é a Igreja, proponho uma modernice à
Santa Sé. De acordo com a actual campanha.
Vou pedir emprego como padra:
Dêem-me uma casa com empregada (ou um
bombeiro vivo, daqueles do calendário para angariação de fundos), um bom
ordenado (alguns padres fazem fortuna), sapatos prada, vestidos compridos com
colarinho branco (adoro saias compridas à hippie).
Se colocar umas flores na batina em puro
linho, fica um estilo hippie chic, mais tias vêm à minha missa e lanço uma
tendência na moda.
O meu trabalho é o de atrair gente e
convertê-los. Peanuts!
Uns Bob Dylans, e uns Jimmy Hendrix (a
família Carreira está toda orientada, não precisam), que andam aí nos bares e
outros com discos e cheios de talento, mas que não conseguem viver uma vida de
artista por falta de massa critica (e da outra) que lhes garanta o sustento,
vão tocar na minha Igreja.
Garanto audiências. Até podem vir a gravar
o factor X nas minhas bancadas.
Na missa oferecemos bolacha Maria (parceria
com o Jerónimo Martins) em vez da insonsa hóstia.
Porque queremos crentes felizes, terão
todos direito a um shot de Mateus Rosé.
Vamos ler passagens da Bíblia no novo
acordo ortográfico, reescrita pela Rebelo Pinto.
Onde por coincidência (e não as há)
Madalena e Jesus tinham um caso e tiveram um filho que deram para adopção por
um casal gay.
Onde ele se encontra agora é investigação
para o Dan Brown luso. O rapaz com orelhas de Dumbo.
Pregarei Cristo!. Foi um comunista
verdadeiro, cool, não queria dinheiro para nada e expulsava os vendilhões do
templo. E oferecia jantares aos “apóstrofos” dele.
Vou seguir-lhe o exemplo e passar a
mensagem.
Do meu púlpito irei incitar à expulsão dos
cromos farsantes e fraudulentos que atiram o povo da Galileia, ai desculpem da
Portugaleia para a miserere di vivere.
Falo italiano e poderei usá-lo para quando
tiver de ministrar a extrema-unção a alguns pensionistas. Em vez do chato e já
morto latim, que por estar morto lhes fará arrepios desnecessários.
Levo o coro de músicos e cantores, todos de
linho e flores no cabelo para trazer alegria aos momentos sombrios da vida.
Na porta dos fundos da minha Igreja vai-se
abrir um pórtico com um pequeno balcão. Servem-se mines e bifanas. Oferecemos
um cartão com a imagem do papa. Quando preencherem o cartão, oferecemos uma
mine. Se for americano, oferecemos uma litrosa.
Ajudarei a Igreja a facturar.
Se vier alguém dizer-me que vou ganhar
karma negativo por ser de novo herege e que não sirvo para padra, porque sou
como o novo papa, moderna e nada cinzenta, blá blá blá, leva com o castiçal
mais pesado que estiver na mesa de oração, em nome do Senhor.
Se for recusada, terei de voltar a emigrar,
desta vez para Los Angeles, numa roulotte. Para vender bifanas, mines e
mini-pratos de cachupa em Rodeo Drive.
Empreendedora me confesso. Vou ali à Igreja
procurar vida boa e já volto.
Quem sabe, encontramo-nos na missa.
Se o Senhor for nosso pastor, nada nos
faltará…
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