quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sim sou uma marioneta

As redes sociais descomprimem com o estio: não havendo mortes de VIP´s nem sangue de Charlies, com o IS a curtir as merecidas férias em Palmyra, a coligação a degustar estrelas Michelin no Avilez, magicando a fuga do DDT da Comporta em veleiro para a off shore onde vai receber o rendimento social de inserção, a FIFinha a ser tramada pelos amigos americanos (que nem gostam de bola), o mundo de repente aquietou-se e o meu país em particular, parece um romance de cordel escrito por um desses escritores da moda.
Apetece-me deitar o livro borda fora de tão pouco imaginativo se tornou.

Mas gosto muito do manicómio luso e aderi ao Vem. Vou à bardamerda de bordel que me calhou em passaporte. Ver o verão.
Um lugar que dizem em depressão. Mas não vejo razão. Mas vou, quem sabe contribuir para a revolução (esta mania que tenho de fazer versos...)
No mesmo espaço, temos de tudo como num bataclan de excelência:
-putas,políticos, chulos, religiosos, muita musica, sardinhas,marchas, artistas do crochet, romances de cordel que extasiam as mulheres e as incitam a procurar o ponto G (esse santo graal) entregues à grande animação de estio. 
Até o diabo descontrai e sabe que pode escolher Ibiza para um momento de lazer.
Estamos em estado de Absolut dementia. Somos a Avalon envolta em bruma, somos uma pulp fiction sem Travolta nem Uma (nem duas escolhas). 
Precisamos de terapia urgentemente. Dentro e fora de portas. 
Sai uma razia de pílulas azuis para a mesa da espécie.
A única Constituição onde o polvo instalado jura fidelidade é a que tem no título: aqui vende-se a alma ao diabo. 
Nós os bordeleiros dependentes da droga sob a forma de folha de louro prensada vendida pelos originais cozinheiros no Rossio, ganhámos o direito a cinco estrelas michelin como clientes do bordel.
O que me dá dó de facto é que o mais provável será morrermos antes de sequer virmos a gozar os 300 euros da reforma.
Vou ali e já venho.Pode ser que não volte.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O comboio não espera para o embarque


Gosto de inventar histórias. Também gosto de contar a história colectiva e as individuais. O mundo não seria um espaço igual nem a vida teria sentido se não fossem as várias histórias. As que construímos e as que inventadamos*. A introdução tem um objectivo e já lá vou chegar. Permitam-me divagar que é o que um inventor de histórias faz melhor. Atirem-me para um beco se não gostarem.
A ciência, tem mais do que uma maneira de explicar a nossa existência, porque essa é a busca incessante da espécie, desde que começou a sair da caverna para alargar o seu horizonte.
A religião, que usa a imaginação em livre queda ou ascensão (cada um escolha a perspectiva) tem mil maneiras diferentes, tal como nós lusos temos para cozinhar bacalhau.

Convido-vos a uma imaginadância (palavra MiaCoutense): o homem sai da caverna, estica-se, espreguiça-se, equilibra-se, começa a andar em duas patas caça uns animais, faz uns riscos na parede para se distrair e entreter os outros, toca umas pedras, dá uns pinotes e inventa as artes e começa a expandir-se pelo mundo. 
Anos passados, os seus descendentes entram noutra caverna, bem mais larga, mais alta, mais profunda. A matrix: uma caverna simulador, como recentemente lhe chamou um cientista da NASA.

Onde estamos todos e todos somos controlados. Não temos é consciência desse controlo absoluto. Que pode ser um Deus ou nós próprios numa versão de Deus noutro nível de consciência e num universo paralelo. Ficção científica? Pode ser. Quem sou eu para contradizer cientistas da NASA? Ou Carl Sagan ou escritores/filósofos melhores que eu a criar histórias (como Platão por exemplo)?
Se conseguiram chegar aqui vou continuar: agora saio da ficção e entro na realidade (qual delas é qual?)?
Lembram-se da geração à rasca? Eu, tu, ele, nós, ….
São descendentes dos que saíram da caverna e entraram noutra. São aqueles que descobriram que as sombras projectadas na caverna eram ficção, fruto de poder bipolar por 48 anos em Portugal, com a conivência de uns quantos piratas e saqueadores, estes, primos direitos dos que tinham pernas de paus e ganchos, mas agora a viver e a comandar a caverna-matrix do século XXI .

Num efeito pós traumático vindo de uma anestesia, quase um experimento Mengeliano (o nazi Dr Mengele nunca apanhado nem julgado pelos seus crimes), que deixou uma nação inteira sob um poderoso gás adormecedor do raciocínio, da razão, da cognição, eis que houve um acordamento colectivo. 
Gente simples, inteligente e com imaginação que não quer nem se revê nos partidos políticos dos piratas e saqueadores primos do capitão gancho, gente que domina a arte de andar nos dois pés e usar o pensamento.

Foi a 12 de Março de 2011, em Lisboa a grande marcha que uniu os portugueses. Começou com a acampada do Rossio, que fez mais pela consciência colectiva que 48 anos de liberdade. 
Ali na acampada aconteceu a verdadeira Assembleia da República, onde se discutiu seriamente o país. Onde se debateu, argumentou com inteligência e imaginação as soluções possíveis. 
Ali na acampada aconteceu a democracia que não aconteceu nestes anos pós 25 de Abril. Ali surgiu a alternativa de que têm tanto medo que se fale.

E ali na praça do monarca D.Pedro IV, nasceu a república que serviu de rastilho para o movimento popular 15 M em Espanha e os que se seguiram. 
Deu força aos jovens que já gatinhavam a se erguerem, prontos a usar a consciência e a cognição. Muitos perceberam que a política iria continuar com dois tentáculos e optaram por vias alternativas. Muito discutidas na acampada, algumas criadas naquele movimento colectivo. Aprendeu-se muito. Foi um movimento desvalorizado, desprezado e dispersado. Por medo que vingasse.

A semente germinou tenho a certeza. A vida encontra sempre uma solução. 
As artes e a cultura são uma das armas que cresceram e por isso a tentativa de as fazer abortar não as apoiando está aí à vista. Mas vai vingando. A natureza que nos providencia o oxigénio responsável pela vida é abatida como forma de nos fazer regressar às trevas da caverna. 
Se perdermos oxigénio perdemos vida e com ela a capacidade de usar a inteligência e a imaginação.

Daquela acampada saiu (para mim) que acompanhei de perto, como interessada( envolvida que estava no movimento e mãe de envolvidos), uma conclusão importante: 
-Esta gente nunca mais será igual, nunca mais se vão deixar anestesiar nem se vão deixar manipular pelos partidos que existem. 
Foi um passo maior para quem se entregou a despertar, do que a viagem à lua.

A partir daí é História. A Europa nos vários movimentos até ao Occupy, nasceram ali no Rossio com um grupo de barbudos, rastas, rabos de cavalo e muita muita "stamina" (vigor e nas palavras de Eduardo Galeano a vitamina E: energia, entusiasmo, esperança). 
Com muita inteligência, curiosidade, imaginação e sem violência. Foi quanto bastou para o fogo pegar e alternativas aparecerem. 
Nós regressámos ao adormecimento, os outros além fronteiras tiraram partido e avançaram para a saída.
Do beco sem saída em que estávamos e estamos, no entanto foi ali que surgiram as alternativas, começaram a ser faladas e propaladas. 
A Grécia já mostrou estar num novo caminho, a Itália ferve por dentro, e, Espanha mostra o começo da viragem e o futuro do fogo será por arrastamento connosco.

Nem todos despertaram da anestesia. Mas já não é possível voltar atrás. Quem julga possível o prolongamento do fascismo, da austeridade, do saque, da corrupção, vai cair da cadeira com o susto da revolução. 
Nada pode continuar como está.

Por cá querem-nos anestesiados para que não estejamos conscientes do plano demolidor das partilhas.
Como numa tragédia de Shakespeare, envenenam o personagem principal para fazer as partilhas rapidamente, sem deixar marcas e poderem apanhar a primeira caravela que saia da caverna, deixando terra queimada para trás, dividindo o fruto do saque entre os piratas.

Acontece que as pessoas normais na matrix, já leram uma ficção parecida, de um crime idêntico e já não querem mais controlo, manipulação nem mentira (não imagino na matrix falada pelo cientista da NASA ,um Deus à semelhança de Passos Coelho,ou Portas, ou Costa,ou Sócrates, ou Silva, mas na ficção tudo é possível).
As pessoais normais e acordadas, não querem estes partidos, querem novas políticas feita por gente como elas. 
Se quem saiu das jotas e nunca soube fazer democracia como se ousou fazer nas acampadas de todo a Europa, então estes não têm mais lugar. Nem os velhos e/ou políticos senis pagos para desestabilizar o gps das portas da caverna.

Não há indiferença das pessoas em relação à política, existe é luto pela política destes partidos, que nos roubam os recursos de sobrevivência e de vida digna.
É mentira que não haja alternativa ao roubo, ao saque, à política de terra queimada, a esta espécie de “solução final” de genocídio individual e colectivo.
Porque as pessoas estão e estavam desatentas, cansadas, adormecidas e pouco vigilantes, foi fácil para os piratas pilhar e aniquilar as casas de cada um. Em breve, as nossas terras e culturas (literalmente).
Há quem esteja muito vigilante e acordado, sobretudo para que não sejam aprovados tratados que irão tratar de dar à Monsanto, o poder de Deus que controla a matrix da caverna: a nossa sobrevivência.

Mas as placas tectónicas começam a balançar com força e a fazer acordar da anestesia. E cada vez mais a inconformação e o estado de vigilância se estende para que os vermes não destruam a sementeira. 
A colheita tem de ser salva à custa de ficarmos sem joelhos e sem mãos. Não sem consciência.

Ao perceber que o mundo está a mudar e as pessoas a acordar da anestesia, onde a “narrativa” dominante do medo, mantendo vivas uma política de ignorância e inconsciência está a perder poder, acampa-se uma sede maior de renascimento.
Só há uma solução, se me obrigam a ler um livro de ficção, que não gosto nem quero saber e vem num evangelho: 
-mesmo que sinta os joelhos desconjuntados, as mãos cansadas e sem força, mantenho-me vigilante e arrasto-me.
E desobedeço.

Desconfiem de quem se cobre com maquilhagem excessiva. Como o fazem os que têm medo de sair do poder, ou os que para lá querem voltar. Não resulta. Quando se deitarem, perceberemos as versões plebeias da betty grafstein que são (a nossa duquesa d´alba que nada têm com a política e só uso por conveniência da piada metafórica).
Deito o livro com a sua má ficção fora. Arranco-lhe as páginas e em cada verso escrevo uma história nova.
Tomo uma poção, como um javali e parto para uma das alternativas. Ser individualmente perigoso para os piratas e ladrões.

Sozinha não sei abrir a porta da caverna. Mas estou junta com quem está pronto a usar a imaginação.
Usem-na nesta ficção que é real, ou nesta realidade sem qualquer ficção: 
-o ponto de não retorno foi tocado e já abriu as portas da caverna. Deixar as coisas como estão, não é mais possível. 
A alternativa é sermos perigosos para a matrix escancarando a caverna deixando entrar nova luz.

*um termo inventado na evolução da língua que nunca obedecerá a qualquer AO.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

África


És o meu útero
a minha casa, o meu nascer
o lenço que secou as minhas lágrimas
ao te saber deixada para seres esquecida
apunhalada e abandonada
deixa-me dizer-te
com a boca onde me nasceram
as primeiras palavras
os primeiros beijos
deixa-me contar-te o que contigo aprendi
quando me lavei nas tuas águas
ao rasgar-te a terra
eu envolta no sangue
da tua terra quente
quando no espelho te olho
vejo o rosto mais belo e bondoso
nascido para ter planos férteis
para seres grandiosa
para grandes feitos
que em montanhas de asas gigantes
de incalculável tamanho
se manifestam
para dares espécie a uma só raça.
A luz do sol reflecte em ti
para que ouro brote,
és diamante
para ser extraído e esculpido
num anel de grandiosidade
para fortalecer a tua maltratada espinha
para engrandecer os teus sonhos, os teus ideais
os teus homens e mulheres
que dentro de si já são tudo
que dentro de ti, tudo manifestam
deixa-me pedir-te: não mais rastejes,
não fiques no fundo do poço que teimam em te enterrar
agarra a corda presa nas tuas asas
observa o céu que silenciosamente te observa
e te espera
escapa da prisão, solta-te
sobe, trepa, e como dizem os poetas,
aprende a voar

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Deixemos de alimentar os medos

Não procuro respostas
as minhas perguntas 
são a minha força permanente
são o infinito onde me perco
a viagem onde me reinvento
neste destino que tarda
ou que nunca vai chegar
porque em nenhum destino
nos conseguimos encontrar
não deixemos
que nos transformem
em águas de um lago sem vida.
Não quero um mundo uniforme
não quero um mundo de gente igual
pintado com a mesma cor
não quero
um mundo descolorido
por obedientes
de gente que se deixa pisar
de gente que se vende
de gente que não se sabe amar
de gente despida de poesia
de gente que se deixa ridicularizar
gente que reverencia
e deixa controlar
de gente que quer apenas dominar
o que a rodeia
em lugar de com o que a rodeia
se harmonizar
Que mundo este
que me acende os sentidos
mil vezes ao dia mais cento
e me faz os punhos cerrar
por tanto ter
amor pela sua beleza extraordinária
e raiva mal contida pela violência que alberga
por causa desta gente que se prefere desalmar
em lugar de se desalmar
para gente ser


http://www.infogrecia.net/2015/05/glezos-vamos-dizer-a-estes-tubaroes-que-nao-temos-mais-sangue-para-lhes-dar/

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Ignorância e saber

Para que serve o conhecimento
o saber 
para que serve pensar?
ler?
Mais humano se querer tornar
mais compassivo e empático ser?
como podemos mais equilíbrio
na engrenagem colocar
para as rodas da evolução
fazer girar?
se o hedonismo é o viagra da vida moderna
a hipocrisia, o embrutecimento e
a ignorância,
o que pensas o que sentes, o que dizes e como ages
são hinos à incoerência
que se vestem diariamente para ir à escola, ao trabalho,
e se ficam a propagar na frente de um qualquer écran
desumanizando a vida
de homens banais, com vidas normais
gente que se conduz na incapacidade de aprofundar
o conhecimento entre o bem e o mal.
Na guerra entre estas forças
invocamos o santo nome da liberdade em vão
não se aprofunda, não se procura, não se alimenta
o conhecimento, o saber, a educação
porque a ignorância passou a ser
dona única da existência
senhora poderosa da razão.

terça-feira, 19 de maio de 2015

"A banalidade do mal"

Ou apáticos, ou violentos.
Acríticos certamente.
Que pesadelo ver o que nos tornámos
como indivíduos e como colectivo
nalguma missão falhámos
Andamos em louco frenesim
a mostrar um qualquer poder sobre o outro
que vive ao nosso lado
que é nosso funcionário, reformado, desempregado,
um qualquer nesta prisão encarcerado
O mal tornou-se banal.
Por ser superficialmente banal.
gente normal
deixa-se instrumentalizar
praticando-o sem o criticar
sem sequer nele pensar.
Enquanto o bem é radical.
É pensado
e está enraizado
mas não é em massa
libertado
(sobre a banalidade do mal de Hannah Arendt na espuma dos nossos dias)

domingo, 17 de maio de 2015

Requiem

Cada dia os falsos prestidigitadores colocam mais um tijolo na parede que separa os humilhados dos humilhadores. 
Ficamos a perceber a pacovice e a bandalhice fora e dentro de tijolos.
Espero a morte quase anunciada da Europa com o seu requiem, se os países mais vulneráveis continuarem laboriosamente a ser os pedreiros da nossa própria tumba e não se solidarizarem com a Grécia.
Ou o requiem far-se-à na mesma e à força de tanto fecharem a comporta, a pressão sentida dentro a fará rebentar.
Seja como for, com o planeta a receber cuidados paliativos e a produzir gente pouco recomendável, espero mudanças transformadores isso espero.
Porque as gentes recomendáveis também têm força e estão aí.
Ou a parede cresce e rebenta ou a parede cai e rebenta tudo.
Sou grega desde a fundação da civilização.
Vou começar a escrever o meu requiem aos que "escolheram ser" mercenários a soldo na minha nação e a querem já colocar no caixão.



sexta-feira, 15 de maio de 2015

Estamos juntos tribo-família


Nascemos numa. Podemos aprender e desenvolver várias etapas de crescimento noutra e, regra geral, na vida adulta somos um com várias famílias.
Podemos morrer nos braços de outra que construímos.
O sangue determina a família do adn e nome, mas quem escolhemos para nossa família pode não ser do nosso sangue e ser muito mais e para além do sangue. Tem sido essa a minha experiência.
Homenagear a família lato sensu, aqueles que escolhi para partilhar a vida é uma honra.
Todos temos amigos que são iguais mas uns são mais iguais que outros- assim somos também amigos na vida dos amigos-e esta é uma distinção que carregam os amigos-família.
São aqueles que são mais. São aqueles que desde ontem estão hoje e que ficam amanhã. E para sempre serão especiais. São a família.
São aqueles que quando os olhamos ou quando nos olham vêem-nos tal como nós nos vemos.
Eles são um reflexo das nossas qualidades, dos nossos defeitos e até sentem como se estivessem em nós.
São os amigos/família empáticos e que connosco fazem telepatia. São aqueles que não precisamos comunicar muito mas sabemos que nos vêem e nos ouvem em qualquer segundo que recebam um sinal de fumo, de uma montanha difícil de descer ou de uma planície bordada de beleza.
Nem sempre somos para os outros da família de sangue como família de facto. E nem sempre estes são para nós como família.
Por vezes distâncias enormes nos separam e não chegamos a fazer pontes. Não está errado nem é um problema. É assim.
Não sei porque isto acontece mas o importante para mim é continuar num caminho de construção de família. Com aqueles que me fazem sentir pertença deles. Com aqueles que pertencem de facto à minha vida.
Uma tribo cuida uns dos outros. É para o colectivo.
Protege-se, ensina-se, vê-se crescer, desenvolver como qualquer planta. Uma tribo bate palmas com o florir de novos ramos, com o florescimento seguro dos seus membros.
E quando um membro precisa, a tribo em conjunto rega, nutre, acolhe e ama. Incentiva, luta, e dá o que tem.
Esta atitude de pertença individual e de família é o que nos faz ter sobrevivido enquanto espécie.
Somos gente viajante numa longa jornada de procura de significado sobre quem somos. E em cada viagem junto mais ramos aos meus troncos.
A família, a tal árvore onde incluo os amigos que são mais sangue que membros do mesmo sangue, são o meu tronco e a minha raiz. São parte do meu significado. São hoje parte da busca da minha vida.
Há muito que me fiz esta pergunta: quem sou?
E sei que uma das respostas tem chegado sob a forma de família/tribo. Sou porque são eles. Porque os descobri. Porque os tenho.
A minha tribo é o meu infinito. Ela é o vazio onde me posso lançar. É nela que me vou sempre encontrar porque é nela que me ofereço a liberdade de me perder.
Ela é como escrever. Tenho que me apresentar ao serviço diariamente.
É como um daqueles trabalhos mal pagos mas que gostamos tanto que não desistimos. E fazemos sempre um esforço extra. Para sermos muito bons. Não para que reparem em nós, mas porque merecem o nosso esforço.
Como na minha escrita a eles me atiro a buscar mistérios e maravilhas. E descubro-me com eles.
Eles colocam-se no meu mundo e vêem quem sou sem se importarem com os resultados do voo ao meu mundo.
Eu retribuo mergulhando no mundo deles, em quem são.
Prometo-lhes: estarei sempre presente, de olho atento, para os sustentar.
Como um bom pai ou mãe faz com os filhos quando aprendem a andar e a curiosidade os chama perante duas necessidades básicas:
-independência e segurança.
-Aventura e protecção.
Salto no desconhecido e poder voltar, porque a base estará sempre à sua espera.
Assim é a família. Foi assim que aprendi. Foi e é o exemplo que reproduzo com a minha família/tribo.
Eles estão de mão dada comigo.
Um dos problemas que nos atinge colectiva e individualmente virando-nos do avesso e tornando cegos, é no momento de desequilíbrio da vida não termos uma mão para agarrar com força. Um coração que se junte a nós num abraço.
Um equilíbrio que nos ensine a olhar o mundo. Como só uma tribo pode fazer. E dá-se o fracasso que tanto nos atrasa como espécie.
Vou contar um segredo, na minha tribo não somos nada perfeitos. Nem eu nem eles.
Somos um bando de imperfeitos aperfeiçoando-se.
Nisso somos bons. A fazer asneiras. E a retomar o passo lado a lado.
Hoje e sempre para os membros da minha tribo a minha homenagem. O meu amor.
Este retrato foi-me hoje oferecido pela amiga Ana Puga que pertence à minha tribo. Em Pemba. Dentro-sim dentro- deste imbondeiro existe um dos bares mais frescos que se pode encontrar em África. Um abrigo, como uma família.


quinta-feira, 14 de maio de 2015

Noam Chomsky em entrevista- "Os portugueses estão a pagar pelas aventuras dos bancos alemães"

Quando vos vierem dizer " ah e tal com as vossas dores posso eu bem..." "tenho que me preocupar com as dores é do país..." e ajeitar a gravata para "ser quem escolho ser": capacho...pensem:
Ele dorme a pensar:
O que o país precisa é de salvar bancos e ser completamente vendido a retalho e rapidamente.
O que eu acordo (acordo do verbo acordar e não acordo de acordar com alguém) a magicar:
Será que uma vez o país vendido a língua portuguesa se mantém?
Haverá país daqui a algum tempo?
(teremos sempre de usar o h nas formas do verbo haver? é que está a cair em desuso...)
Quantos campeonatos de futebol teremos?
E os portugueses? passarão a ser emigrantes ou imigrantes?
O país será dividido em províncias chinesas, brasileiras,angolanas etc.
Teremos de usar passaporte?
Haverá acordo de circulação entre nortenhos e mouros?
Mais um velho do Restelo, estrangeiro e que não sabe nada...
Ó Pedro sabes quem é este cota que diz estas coisas?
Noam Chomsky em entrevista

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A violência do silêncio que se faz "selfies"

Sinais dos tempos toda esta violência. Homens batem nas mulheres, os filhos assistem e mais tarde batem nas namoradas ou nos colegas da escola. Namorados violentos que matam namoradas e alunos que batem em professores. Televisões transformadas em coliseu de Roma gozando o repasto. 
Violências que tiram selfies, fazem filmes porque se acham indispensáveis e tão bons quanto a última bolacha do pacote promovido com 50% de desconto no dia do trabalhador. 
Quem assiste bate palmas ou vira a cara, faz de conta que não viu, que estava distraído, como no metro não dar lugar a uma grávida, ajudar alguém que está no chão caído a pedir ajuda, alguém com fome que nos olha desesperado com fome, sem tecto e sem chão.
Como os que assistem a uma violação ou nela participam. E por aí vai, começando pela violência do sistema que nos faz ficar sem dinheiro para pagar as necessidades básicas de sobrevivência. 
E nos torna avaros, egoístas, narcisistas. Com um desejo insaciável de sangue igual à dos predadores. 
Queremos sangue e até nos crescem dentes caninos perante a perspectiva de uma carótida aberta. 
O nosso prazer é obtido à custa da humilhação, da vergonha e do medo do outro.
Tudo isto são sinais da doença grave da forma como vivemos. 
Das humilhações, vergonhas, medo a que os bullies nos sujeitam. 
São violações à verdadeira natureza humana. 
São violações à dignidade humana.
Estamos a criar psicopatas hoje para amanhã. Estão aí os sinais, os sintomas do corpo doente. A árvore está podre com quase todos os ramos e folhas doentes.
Estes jovens que bateram no colega e os que assistiram impávidos, incluindo o futuro realizador com os olhos postos no lugar do Tarantino, podem vir a ser futuros dirigentes políticos, soldados, deputados, gestores, violentadores, assassinos. Já têm a semente a germinar. 
Servirá o código de Hámurabi: "olho por olho dente por dente"? 
Se fosse pela justiça popular, eu como mãe do rapaz brutalmente humilhado e agredido? Talvez fosse, não sei. Em mim habitam o médico e o monstro. Tento dominar o monstro porque não o quero ver ganhar o combate. 
Se é a forma que quero para resolver a doença grave que os afecta? Não. 
É preciso ir à raiz. 
A violência anda aí destapada, às claras. Até se filma e tira auto-retratos e recebe a fama que procura. 
Está a avisar-nos que urge tratar em particular de um assunto: a educação. Em casa e nas escolas. 
E no todo. Tudo aqui nos leva a uma reflexão séria de quem somos e o que queremos como colectivo.
Se optarmos por continuar a viver miseravelmente com gente que nos humilha diariamente, este vai ser o exemplo que deixamos como legado a estes jovens psicopatas. 
É o dominó que cai peça a peça.
Tic tac o relógio não pára (sem AO).
Estes três adolescentes são o fruto da nossa incapacidade e do nosso silêncio. A culpa é colectiva. 
Porque a maior parte de nós, bons, silencia. 
Eles não são a raiz do mal, eles são o produto acabado do nosso mal.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Depressão individual e colectiva

O mundo está tão difícil de aguentar que não sei se amanhã estarei com uma depressão. Ou se agarro o bom exemplo de Dias Loureiro e sigo num avião da Tap em dia de não greve para Cabo-Verde. Diz-se que as praias são boas. Torno-me empresária a vender percebes. Não se riam, há gente em Inglaterra que por causa dos Conservadores terem ganho querem emigrar para as Ilhas Faroe.
Sim sim é de ficar assustado. Esta gente (os ingleses) está aterrorizada e deprimida e como li algures “é fácil governar e controlar gente deprimida que gente activa, desperta e alerta”, que me deu vontade de sair depressa desta “depressinha” e escrever.
Uma depressão é coisa séria. Afecta ao nível pessoal e socialmente. E isso é grave, porque nos leva a comer sem ver o que estamos a engolir. E não conseguimos regurgitar ficando o veneno dentro do corpo a consumir-nos as entranhas. Tornamo-nos zombies e até elegemos os que nos levaram a este estado catatónico.
Não falo de uma depressão como as que costumo ter alguns dias em que olho à volta, deito-me a olhar o tecto, cansada da podridão, sem sequer vontade de escrever e digo do fundo da alma as letras ph.
O mundo está tão doente que só espero que os ingleses que emigrarem para as Ilhas Faroe me escrevam um “post” a dizer se há lugar para mim. Não imagino o que poderão ser mais 4 anos de Pedros, Paulos e Marias os apóstolos da palhaçada em que se tornou este regime.
Está cada vez mais fácil para os psicopatas nos governos arranjarem inimigos para nos fazer tremer os joelhos, amassar os miolos e procurar ajuda em ansiolíticos e outros medicamentos.
Um dia destes, como dizia Eduardo Galeano, começa-se a ver anúncios no olx e no cm, anúncios para estágios remunerados para jovens e menos jovens que se queiram juntar ao Isis, ou quaisquer outro inimigos que criem para nos conduzir a maiores depressões.
Enquanto estivermos devidamente drogados, em estado deprimido, adormecido, não damos pelo que se passa. Nem comunicamos o que nos vai na alma. A voz dentro da cabeça diz-nos que não prestamos, somos merecedores da bosta de vida que nos calhou.
Se por cansaço não há voz vinda de dentro, basta ouvir e ler o que dizem os banqueiros, os ministros, os deputados.
Resta-nos ir a correr para o armário do álcool e dos medicamentos.
A indústria do capitalismo fica agradecida.
Por defesa e defeito falo tudo o que me vem à cabeça e espanto fantasmas.
Antes ser aturada pelo papel que ficar saturada pelos medos que me infligem, e, consequentes medicamentos para a depressão alegremente receitados por um médico que se pode querer ver livre de mim, já que a sua vida também não está fácil.
Deprime-me ver amigos e gente que amo em situações que os leva a ficar deprimidos. A existência tornou-se um fardo. Pesa.
Um dia teremos de pagar primeiro um imposto vitalício só para parirmos um novo ser humano.
Nós que cá estamos já somos obrigados a pagar pela nossa existência.
Só a vida do psicopata Pedro, mentiroso e incapaz de sentir empatia é que tem uma existência leve.
Também me deprime ver a estupidificação e imbecilização generalizada. Basta olhar os resultados eleitorais em Inglaterra. Como é possível quererem mais do mesmo? Volto a Portugal: deprime-me pensar que pode acontecer cenário igual.
E pergunto-me:
-Preferes mergulhar numa latrina cheia em final de festival de verão ou atirares-te a uma latrina cheia em final de festival de verão?…
Claro que prefiro prozac, whiskie e entrar em coma nos próximos 5 anos.
Por isso cuidado é aqui que está o problema: quando atiramos a toalha ao tapete e lhes damos a cara destapada para os murros dizendo sem ânimo: -ganharam.
E corremos para o armário de medicamentos e para as garrafas de álcool. Ou olhamos a cara do primeiro na tv e nos atiramos da ponte. Ganham mesmo. Por isso muito cuidado. Escolham outra latrina, outro festival.

Tomei algumas resoluções de meia-idade para não entrar em crise, com a crise humana que nos está a acontecer, culpa de outros que não nós os Davides:
-Aguentei até aqui, sem desesperar, sem dinheiro, sem soluções, sem trabalhos de jeito, sendo explorada, ou fazendo trabalhos que são a minha tesão mas não me dão pão. Apenas com o espírito de entregar a alma para que esta coma a vida com ganas e, para não a tornar pequena. Apenas com a minha sã insanidade! Então visto as palavras do Gabriel o pensador: “Chega, quem manda aqui sou eu”. O país é teu. Tu és o país.
E só quando morreres é que livremente podes dizer: agora sim já não quero saber.
Sobrevivemos como espécie porque somos um colectivo, porque nos alimentámos em conjunto (apesar de agora nos alimentarmos de retratos dos pratos de comida dos outros no Instagram e no facebook), porque partilhámos, porque somos solidários, porque uns sem os outros não somos nada.
-Não quero corporações que me espremem até ficar sem o meu precioso sumo.
-Não quero que outros homens e mulheres rebentem com a minha dignidade por pura exploração.
-Não quero ficar descabelada e desesperada por falta de tempo, consumida em trabalho para outros, que me exploram, para que eu consuma.
-Não vou deixar que me prendam corpo e alma em armadilhas. Para ficar deprimida.
-Sou macaco velho e a única armadilha em que me deixo cair é na de não me tornar um zombie, uma marioneta para deixar de dar luta.
-Vou continuar a vomitar o veneno que me querem fazer engolir.
Aprendi algumas coisas neste meio século.
-Não deixarei que outros me digam,imponham, gritem, exijam que eu viva a vida que querem para mim.
-Esta é genuinamente a louca que me habita. E os loucos não se deprimem. Riem-se.

Vão às vossas definições se estão deprimidos, e, mudem o vosso estado:
-Sejam loucos para darem o que podem aos que vos rodeiam,
-Sejam loucos e corajosos para fazer o que gostam mesmo que o tempo seja pouco.
-Aproveitem a chuva para se darem aos outros. Aproveitem o sol para estarem sozinhos.
-Não se preocupem com o que os outros pensem sobre a vossa loucura.
-Tomem a decisão de ser suficientemente corajosos e teimem na loucura da desobediência não na depressão que vos leva à obediência.
-Esforcem-se por não sofrer de amnésia. Ninguém nos pode controlar se não deixarmos.
-Riam-se dos esforços de quem nos quer fazer pagar por existir.
-Não deixem de agir, de dar pequenos passos para ir além das cordas onde estamos amarrados.
-Mesmo que seja em doses homeopáticas, riam-se.
Por tudo e por nada.
-Tirem-lhes o tapete! Deixem-nos com medo e deprimidos.
Eu sigo-vos o bom exemplo.

sábado, 9 de maio de 2015

V-Day

Para que serve assinalar o "V-day"?

Esta história é baseada na nossa história real.

Frequentes guerras entre vizinhos que disputavam territórios e riquezas, com perdas humanas incalculáveis aconteceram na História do Homem pouco Sapiens culminando na 2ª Guerra Mundial.
Em Maio de 1945 assinala-se o seu final.  Mais de 70 milhões de vidas violenta e barbaramente perdidas em seis anos. 
Não contando com os largos milhões mortos pelo Japão na política de terra queimada levada a cabo pelo imperador Hirohito. 

As Nações Unidas são criadas inicialmente em 1942 para se combater o Eixo (Alemanha/Itália/Japão) e posteriormente têm por missão cooperar que não mais o mundo seja o palco de tragédias bélicas.

Em Maio de 45, duas super potências emergem dos escombros. Inimigos poderosos assinam acordos territoriais e, pelas costas e em simultâneo, dão início à chamada Guerra Fria. Uma guerra entre duas ideias, quase religiosas na fé que encerram entre capitalismo e comunismo que durou mais de 40 anos, até à queda do muro em Berlim que dividia a potência caída na Guerra. 

Se a guerra entre ambos, friamente calculada, tivesse sido quente da temperatura do sangue, e, o uso das armas nucleares disponíveis tivesse acontecido, a humanidade teria deixado de existir.
A ex URSS com os seus Gulags e os EUA com a sua própria história de sangue e racismo, aniquilação dos índios, introdução do racismo e da escravatura davam continuidade a uma guerra nunca terminada.

Após o V-Day, um plano de ajuda à reconstrução Europeia nasce em 1947, o Plano Marshall, com o objectivo de reconstruir as nações destruídas pela guerra. Naturalmente não há almoços grátis e o objectivo era não deixar que o comunismo avançasse sobre a Europa destruída. O capitalismo semeava a sua boa acção. E expandia a sua mão. 

Independências em África aconteciam, a Europa ocidental florescia e dos EUA dependia, a Ásia saía do seu próprio cemitério. 
Os Beatles voam, as pedras rolam, os soutiens queimam-se. 
A cultura está pujante: literatura, filosofia, teatro nutrem-se de grandes autores. O ensino começa a ter outro rosto.
Algures no mundo outras guerras continuam...
A Europa une-se e abraça fronteiras, faz cair taxas aduaneiras, e excedentes alimentares rompem barreiras. 

Homens sonhadores, membros da resistência, utópicos e libertadores, têm a visão de uma Europa unida, desenvolvida, próspera, onde os seus cidadãos circulam livremente,com direitos iguais, onde a diversidade é rainha ( com divindade aceite e proclamada) e sem conflitos. 

Que visão! Um sonho bonito, parecia o movimento certo. Um movimento de expansão. 
O Estado Social é criado, o Serviço Nacional de Saúde toma assento na vida dos cidadãos, o voto, os direitos Humanos, a Carta dos Direitos da Criança, Constituições que declaram que todos os homens são iguais em direitos: a tecto, a saúde, a educação, a justiça, a pão. Ao trabalho e oportunidades iguais para ambos os sexos. 
Os movimentos da cintura dos anos sessenta. 
Como faziam suspirar de tão promissores. Previam-se orgasmos de vidas potencialmente felizes. O amor e a erva eram livres e nós também.

As últimas ditaduras fascistas caem em Portugal e Espanha e com os conflitos bélicos presentes no Médio-Oriente, uma crise energética arrasta a Europa para um novo movimento de contracção.
Aconteciam os anos setenta. 
Alguns países como o nosso "venderam as suas casas e recheios e comprometeram-se a pagar renda" para entrarem nessa União promissora de desenvolvimento. 
Esbanjamentos, deslumbramentos, orgias de final de império romano, cegueira generalizada e um cancro em florescimento espalhando de novo as suas metástases na Europa.

Expansões e contracções,moeda única, novas guerras no horizonte, desta feita ao "terrorismo" cuja origem é duvidosa, ou nem tanto, crises energéticas, o final da industrialização, o avanço da tecnologia, bolhas financeiras rebentadas e falidas e, o mundo cai num buraco, não de maravilhas, mas de vermes. 

Lutas entre uma Europa do Norte que trabalha para o Sul calão se fazer às praias (até estas acima das possibilidades destes povos). Dinheiro criado do nada para empréstimos e criação de dívidas com vista a servir interesses obscuros, tudo é feito por homens e mulheres contemporâneos que equiparo a ditadores que há 70 anos se auto-proclamaram deuses na terra a quem deveríamos obediência.
Milhões morreram por não obedecer e/ou por obedecer. 
Hoje milhões morrem sem saber o que lhes está a acontecer.

Setenta anos depois do V-Day e muitos milhões de vidas brutalmente perdidas em todos os cantos do planeta, não fizeram tombar os sonhos de outros muitos milhões. 
Coube essa fatia aos que re-construíram a Europa e aos que hoje se recusam ser de novo destruídos.

Deram, tiraram, deram um pedaço, tiraram tudo, este tem sido o ciclo de movimentos de expansão e contracção, com a pescadinha e seu rabo na boca. O sonho está a esgotar-se pelo esgoto.

Gostamos de guerras. A Europa levou guerras ao mundo. Roubou terras, pilhou bens, espalhou horrores, dizimou populações, culturas, cometeu atrocidades tremendas instigando ódios, medos e aterrorizando milhões de vidas.
Desenvolvemos o gene narcísico e o da adicção pelo poder. Pela arte de destruir. É uma arte. 
Sem teorias com nenhuma constipação. Há homens e mulheres, verdadeiras bactérias , vírus potentes em culturas da arte para a destruição.
E há muitos homens, mulheres e crianças que no último século morreram para salvar a Europa de um horror mundial maior: o nazismo e os fascismos crescentes.
Os que morreram espreitam-nos com ansiedade. 
Os sobreviventes das células malignas encaram-nos com desprezo.

Hoje dia do "V-Day" relembro uma história africana. A de um colibri:

-Conta-se que a floresta ardia. Os animais fugiam e assistiam ao fogo e à cobertura das chamas por toda a floresta. 
Um colibri numa árvore pensou: não vou fazer nada? 
E começou no seu pequeno bico a transportar água. Gota a gota ia deitando água no fogo que apanhava no rio, julgando que o iria conseguir extinguir. 
Os animais olhavam-no na sua temeridade. O colibri voava, despejando gota a gota. Olhava o elefante com a sua tromba e dizia-lhe: tu com a tua imensa tromba podias carregar água também e ajudar a apagar o fogo...
Todos os olhavam e desencorajavam: O que pensas que podes fazer colibri? És muito pequeno e o fogo é demasiado grande!
Enquanto o desencorajavam, o colibri não perdia tempo e continuava 
a sua missão, respondendo enquanto voava: Estou a fazer o melhor que posso.

Assim serei eu também perante as constantes ameaças à paz. Perante o constante mergulho da espécie e do mundo no fundo de uma vasta e escura floresta em chamas.

Muitos colibris despejaram gotinhas. Há hoje muitos colibris a despejar gotinhas e isso deixa-me a crescer a esperança. 
A sonhar o sonho de tirar a ansiedade dos olhos dos mortos que espreitam e se perguntam: Não vais fazer nada?

Sempre haverá vozes e gente a destruir, a desprezar a vida, a desencorajar, a deitar fogo às florestas.
Sempre haverá vozes a gritar: És muito pequeno e o fogo é muito grande. Não podes fazer nada.
E vai sempre haver gente da cor, da força e com o poder de um colibri. A agir para apagar o fogo.
Vou continuar a fazer o melhor que posso.
E vou celebrar o V-Day de hoje e encorajar o V-Day de amanhã.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

carta ao Pedro (PM)

Pedro,

Recebeste o poder que tens pela promessas que fizeste. O povo, essa entidade como um antibiótico de largo espectro votou e deu-te a percentagem que precisavas para estar no poder. 
Dizem as más línguas que te metias em drogas. Talvez tenha sido pelo desgosto de não teres entrado no musical do La Féria.
Olha eu também achava graça à cannabis. Aliás, acho. É uma planta bonita e faz menos mal do que tu e os teus acólitos. 
Dei umas passas num charro nas festas de garagem. Não me viciei. Felizmente também não me viciei em poder, a não ser aquele que emana da minha vida e da direcção que lhe dou. Desculpa, enganei-me agora nem sobre essa eu tenho poder. Roubaste-mo. Mandaste-me para fora e eu com a mesma idade que tu, porque não andei a lamber os sapatos certos, andei a qualificar-me e a fazer pela vida. No bom sentido. Tu foste pelo mau. E certamente que não posso culpar a cannabis. Essa tem até o dom de curar. Tu tens o dom de foder a vida das pessoas.
Sabes porque te escrevo? Porque foste eleito pelas pessoas que pensaram que serias capaz de ser diferente. Não por mim. Rapidamente nos apercebemos todos o ignorante que és. Estás na mesma linha do teu padrinho que te põe a mão por baixo. Todos os teus padrinhos aliás.
Mas queres mesmo saber porque razão neste momento não uso as palavras de Ghandi " se trocarmos olho por olho uns com os outros, ficamos todos cegos"? Porque se eu fosse a tua mulher, separava-me rapidamente de ti.
Escolheste ser como diz o título do teu livro quem queres ser. E escolheste naturalmente a única via que conheces. Ficar inebriado, ganzado, pedrado com o poder que nem a ela poupas.
Quando se soube da situação de saúde da tua mulher, falaste e pediste para te deixarem viver esse assunto familiar e intimo em família. Toda a gente respeitou. Até os que te odiavam. Eu incluída. Apesar de pensar desde o princípio que fazes parte dos nossos problemas e não das soluções.
Afinal eu estava certa. E se fosse a tua mulher pedia o divórcio já antes que seja tarde. És um produto tóxico de um erro da natureza como tantos outros que por aí andam ao teu lado.
A meses das eleições, usares a sua saúde para ganhar votos, apelando ao sentimento, faz-me lembrar o crocodilo e o escorpião. Está-lhes na natureza serem crápulas. 
Milhares morrem diariamente por falta dos devidos cuidados de saúde por causa do tratamento de choque que dás ao SNS. Sobretudo o cancro tem sido um dos flagelos da nossa sociedade e milhares morrem sem conseguirem ser completamente acompanhados. 
Morrer vamos todos. E todos temos medo de morrer porque não sabemos, como, onde, nem a hora. Usar esta vulnerabilidade da tua mulher, faz de ti uma pessoa abjecta e sobretudo perigosa. Muito perigosa. Ao nível da psicopatia grave.
Por isso se eu fosse tua mulher pedia de imediato o divórcio. A família dela saberá cuidar dela sem precisar de ti, nem do teu poder, ou de algo que lhe dês, como "ânimo". Dás-lhe ânimo para que se deixe usar como propaganda eleitoral é?
O teu livro, cujo papel nem servirá para limpar Lisboa numa descarga colectiva de diarreia é por isso um livro a queimar.

A lição de História que aprendi diz que a própria vida como a História são feitas de contracções e expansões. 
Todos os sistemas ao longo dos séculos implodiram ou explodiram por saturação ou pressão. 
Só cortando o oxigénio a algo que parece ter vida própria, se mata por asfixia. 
Compete-nos asfixiar por pressão, por contracção da satisfação dos desejos em sermos subjugados e imbecilizados e por expansão da vontade dos que querem tão só viver. Que têm também medo de morrer. E um dia vamos todos.
A ti espero que te aconteça no poder o que acontece com alguns: a morte por asfixia.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Jogo-História

Delirei com um parto plebeu onde todas as parteiras estavam juntas. 
Os "cidadões" fazem-se "empreendedores" no jogo onde jogam a própria vida.

A lição de História que aprendi diz que a própria vida como a História são feitas de contracções e expansões. 
Todos os sistemas ao longo dos séculos implodiram ou explodiram por saturação ou pressão. 
Só cortando o oxigénio a algo que parece ter vida própria, se mata por asfixia. 
Compete-nos asfixiar por pressão,
por contracção da satisfação dos desejos em sermos subjugados e imbecilizados 
e por expansão da vontade dos que querem tão só viver.
Somos tantos mil que qualquer dia de Maio pode vir a ser um revolucionário Abril.

Sacrifício

As obras deste pintor são inspiradoras. Sidney Cerqueira fez mais uma obra d´arte.
A propósito de racismo, emigração e Sacrifício que é como se chama a pintura escrevi


Cansada segue a vida
daqueles que mais não fazem que a carregar
já não encontra jeito para se viver
já não tem ombros para se pisar
de nada ter
deixa também de ser
torna-se sacrifício
Como lamento terra mãe
que tenhas de acolher
dentro do teu útero
humanos que se desfazem de outros humanos
e outros humanos explorarem
humanos cujo destino é tão só
mostrar o lado pútrido
de uma vida insana
e os outros,
são os únicos a se sacrificarem
num imenso delírio
no reino de um rei
com a sua rainha
sem sono
cruzam-se sonhos
nele carregam-se saberes
usam-se fazeres
pensam-se dizeres
e esses puros prazeres
dão lugar a tantos nasceres
Lá longe, aqui dentro
no continente a que chamamos África
terra rica
de lá começamos todos a caminhar
por caminhos que tomaram muitas direcções
demos passos para Norte,Sul,Este e Oeste
que hoje, uns a outros tentam negar.
De fronteiras inexistentes
apenas pontos cardeais
de conquista em conquista
em busca de benefícios
para a humanidade
sem passaportes oficiais
nem autorizações.
Apenas sacrifícios!