Gosto de inventar histórias. Também gosto de contar a história colectiva e as individuais. O mundo não seria um espaço igual nem a vida teria sentido se não fossem as várias histórias. As que construímos e as que inventadamos*. A introdução tem um objectivo e já lá vou chegar. Permitam-me divagar que é o que um inventor de histórias faz melhor. Atirem-me para um beco se não gostarem.
A ciência, tem mais do que uma maneira de explicar a nossa existência, porque essa é a busca incessante da espécie, desde que começou a sair da caverna para alargar o seu horizonte.
A religião, que usa a imaginação em livre queda ou ascensão (cada um escolha a perspectiva) tem mil maneiras diferentes, tal como nós lusos temos para cozinhar bacalhau.
Convido-vos a uma imaginadância (palavra MiaCoutense): o homem sai da caverna, estica-se, espreguiça-se, equilibra-se, começa a andar em duas patas caça uns animais, faz uns riscos na parede para se distrair e entreter os outros, toca umas pedras, dá uns pinotes e inventa as artes e começa a expandir-se pelo mundo.
Anos passados, os seus descendentes entram noutra caverna, bem mais larga, mais alta, mais profunda. A matrix: uma caverna simulador, como recentemente lhe chamou um cientista da NASA.
Onde estamos todos e todos somos controlados. Não temos é consciência desse controlo absoluto. Que pode ser um Deus ou nós próprios numa versão de Deus noutro nível de consciência e num universo paralelo. Ficção científica? Pode ser. Quem sou eu para contradizer cientistas da NASA? Ou Carl Sagan ou escritores/filósofos melhores que eu a criar histórias (como Platão por exemplo)?
Se conseguiram chegar aqui vou continuar: agora saio da ficção e entro na realidade (qual delas é qual?)?
Lembram-se da geração à rasca? Eu, tu, ele, nós, ….
São descendentes dos que saíram da caverna e entraram noutra. São aqueles que descobriram que as sombras projectadas na caverna eram ficção, fruto de poder bipolar por 48 anos em Portugal, com a conivência de uns quantos piratas e saqueadores, estes, primos direitos dos que tinham pernas de paus e ganchos, mas agora a viver e a comandar a caverna-matrix do século XXI .
Num efeito pós traumático vindo de uma anestesia, quase um experimento Mengeliano (o nazi Dr Mengele nunca apanhado nem julgado pelos seus crimes), que deixou uma nação inteira sob um poderoso gás adormecedor do raciocínio, da razão, da cognição, eis que houve um acordamento colectivo.
Gente simples, inteligente e com imaginação que não quer nem se revê nos partidos políticos dos piratas e saqueadores primos do capitão gancho, gente que domina a arte de andar nos dois pés e usar o pensamento.
Foi a 12 de Março de 2011, em Lisboa a grande marcha que uniu os portugueses. Começou com a acampada do Rossio, que fez mais pela consciência colectiva que 48 anos de liberdade.
Ali na acampada aconteceu a verdadeira Assembleia da República, onde se discutiu seriamente o país. Onde se debateu, argumentou com inteligência e imaginação as soluções possíveis.
Ali na acampada aconteceu a democracia que não aconteceu nestes anos pós 25 de Abril. Ali surgiu a alternativa de que têm tanto medo que se fale.
E ali na praça do monarca D.Pedro IV, nasceu a república que serviu de rastilho para o movimento popular 15 M em Espanha e os que se seguiram.
Deu força aos jovens que já gatinhavam a se erguerem, prontos a usar a consciência e a cognição. Muitos perceberam que a política iria continuar com dois tentáculos e optaram por vias alternativas. Muito discutidas na acampada, algumas criadas naquele movimento colectivo. Aprendeu-se muito. Foi um movimento desvalorizado, desprezado e dispersado. Por medo que vingasse.
A semente germinou tenho a certeza. A vida encontra sempre uma solução.
As artes e a cultura são uma das armas que cresceram e por isso a tentativa de as fazer abortar não as apoiando está aí à vista. Mas vai vingando. A natureza que nos providencia o oxigénio responsável pela vida é abatida como forma de nos fazer regressar às trevas da caverna.
Se perdermos oxigénio perdemos vida e com ela a capacidade de usar a inteligência e a imaginação.
Daquela acampada saiu (para mim) que acompanhei de perto, como interessada( envolvida que estava no movimento e mãe de envolvidos), uma conclusão importante:
-Esta gente nunca mais será igual, nunca mais se vão deixar anestesiar nem se vão deixar manipular pelos partidos que existem.
Foi um passo maior para quem se entregou a despertar, do que a viagem à lua.
A partir daí é História. A Europa nos vários movimentos até ao Occupy, nasceram ali no Rossio com um grupo de barbudos, rastas, rabos de cavalo e muita muita "stamina" (vigor e nas palavras de Eduardo Galeano a vitamina E: energia, entusiasmo, esperança).
Com muita inteligência, curiosidade, imaginação e sem violência. Foi quanto bastou para o fogo pegar e alternativas aparecerem.
Nós regressámos ao adormecimento, os outros além fronteiras tiraram partido e avançaram para a saída.
Do beco sem saída em que estávamos e estamos, no entanto foi ali que surgiram as alternativas, começaram a ser faladas e propaladas.
A Grécia já mostrou estar num novo caminho, a Itália ferve por dentro, e, Espanha mostra o começo da viragem e o futuro do fogo será por arrastamento connosco.
Nem todos despertaram da anestesia. Mas já não é possível voltar atrás. Quem julga possível o prolongamento do fascismo, da austeridade, do saque, da corrupção, vai cair da cadeira com o susto da revolução.
Nada pode continuar como está.
Por cá querem-nos anestesiados para que não estejamos conscientes do plano demolidor das partilhas.
Como numa tragédia de Shakespeare, envenenam o personagem principal para fazer as partilhas rapidamente, sem deixar marcas e poderem apanhar a primeira caravela que saia da caverna, deixando terra queimada para trás, dividindo o fruto do saque entre os piratas.
Acontece que as pessoas normais na matrix, já leram uma ficção parecida, de um crime idêntico e já não querem mais controlo, manipulação nem mentira (não imagino na matrix falada pelo cientista da NASA ,um Deus à semelhança de Passos Coelho,ou Portas, ou Costa,ou Sócrates, ou Silva, mas na ficção tudo é possível).
As pessoais normais e acordadas, não querem estes partidos, querem novas políticas feita por gente como elas.
Se quem saiu das jotas e nunca soube fazer democracia como se ousou fazer nas acampadas de todo a Europa, então estes não têm mais lugar. Nem os velhos e/ou políticos senis pagos para desestabilizar o gps das portas da caverna.
Não há indiferença das pessoas em relação à política, existe é luto pela política destes partidos, que nos roubam os recursos de sobrevivência e de vida digna.
É mentira que não haja alternativa ao roubo, ao saque, à política de terra queimada, a esta espécie de “solução final” de genocídio individual e colectivo.
Porque as pessoas estão e estavam desatentas, cansadas, adormecidas e pouco vigilantes, foi fácil para os piratas pilhar e aniquilar as casas de cada um. Em breve, as nossas terras e culturas (literalmente).
Há quem esteja muito vigilante e acordado, sobretudo para que não sejam aprovados tratados que irão tratar de dar à Monsanto, o poder de Deus que controla a matrix da caverna: a nossa sobrevivência.
Mas as placas tectónicas começam a balançar com força e a fazer acordar da anestesia. E cada vez mais a inconformação e o estado de vigilância se estende para que os vermes não destruam a sementeira.
A colheita tem de ser salva à custa de ficarmos sem joelhos e sem mãos. Não sem consciência.
Ao perceber que o mundo está a mudar e as pessoas a acordar da anestesia, onde a “narrativa” dominante do medo, mantendo vivas uma política de ignorância e inconsciência está a perder poder, acampa-se uma sede maior de renascimento.
Só há uma solução, se me obrigam a ler um livro de ficção, que não gosto nem quero saber e vem num evangelho:
-mesmo que sinta os joelhos desconjuntados, as mãos cansadas e sem força, mantenho-me vigilante e arrasto-me.
E desobedeço.
Desconfiem de quem se cobre com maquilhagem excessiva. Como o fazem os que têm medo de sair do poder, ou os que para lá querem voltar. Não resulta. Quando se deitarem, perceberemos as versões plebeias da betty grafstein que são (a nossa duquesa d´alba que nada têm com a política e só uso por conveniência da piada metafórica).
Deito o livro com a sua má ficção fora. Arranco-lhe as páginas e em cada verso escrevo uma história nova.
Tomo uma poção, como um javali e parto para uma das alternativas. Ser individualmente perigoso para os piratas e ladrões.
Sozinha não sei abrir a porta da caverna. Mas estou junta com quem está pronto a usar a imaginação.
Usem-na nesta ficção que é real, ou nesta realidade sem qualquer ficção:
-o ponto de não retorno foi tocado e já abriu as portas da caverna. Deixar as coisas como estão, não é mais possível.
*um termo inventado na evolução da língua que nunca obedecerá a qualquer AO.
Sem comentários:
Enviar um comentário