sexta-feira, 15 de maio de 2015

Estamos juntos tribo-família


Nascemos numa. Podemos aprender e desenvolver várias etapas de crescimento noutra e, regra geral, na vida adulta somos um com várias famílias.
Podemos morrer nos braços de outra que construímos.
O sangue determina a família do adn e nome, mas quem escolhemos para nossa família pode não ser do nosso sangue e ser muito mais e para além do sangue. Tem sido essa a minha experiência.
Homenagear a família lato sensu, aqueles que escolhi para partilhar a vida é uma honra.
Todos temos amigos que são iguais mas uns são mais iguais que outros- assim somos também amigos na vida dos amigos-e esta é uma distinção que carregam os amigos-família.
São aqueles que são mais. São aqueles que desde ontem estão hoje e que ficam amanhã. E para sempre serão especiais. São a família.
São aqueles que quando os olhamos ou quando nos olham vêem-nos tal como nós nos vemos.
Eles são um reflexo das nossas qualidades, dos nossos defeitos e até sentem como se estivessem em nós.
São os amigos/família empáticos e que connosco fazem telepatia. São aqueles que não precisamos comunicar muito mas sabemos que nos vêem e nos ouvem em qualquer segundo que recebam um sinal de fumo, de uma montanha difícil de descer ou de uma planície bordada de beleza.
Nem sempre somos para os outros da família de sangue como família de facto. E nem sempre estes são para nós como família.
Por vezes distâncias enormes nos separam e não chegamos a fazer pontes. Não está errado nem é um problema. É assim.
Não sei porque isto acontece mas o importante para mim é continuar num caminho de construção de família. Com aqueles que me fazem sentir pertença deles. Com aqueles que pertencem de facto à minha vida.
Uma tribo cuida uns dos outros. É para o colectivo.
Protege-se, ensina-se, vê-se crescer, desenvolver como qualquer planta. Uma tribo bate palmas com o florir de novos ramos, com o florescimento seguro dos seus membros.
E quando um membro precisa, a tribo em conjunto rega, nutre, acolhe e ama. Incentiva, luta, e dá o que tem.
Esta atitude de pertença individual e de família é o que nos faz ter sobrevivido enquanto espécie.
Somos gente viajante numa longa jornada de procura de significado sobre quem somos. E em cada viagem junto mais ramos aos meus troncos.
A família, a tal árvore onde incluo os amigos que são mais sangue que membros do mesmo sangue, são o meu tronco e a minha raiz. São parte do meu significado. São hoje parte da busca da minha vida.
Há muito que me fiz esta pergunta: quem sou?
E sei que uma das respostas tem chegado sob a forma de família/tribo. Sou porque são eles. Porque os descobri. Porque os tenho.
A minha tribo é o meu infinito. Ela é o vazio onde me posso lançar. É nela que me vou sempre encontrar porque é nela que me ofereço a liberdade de me perder.
Ela é como escrever. Tenho que me apresentar ao serviço diariamente.
É como um daqueles trabalhos mal pagos mas que gostamos tanto que não desistimos. E fazemos sempre um esforço extra. Para sermos muito bons. Não para que reparem em nós, mas porque merecem o nosso esforço.
Como na minha escrita a eles me atiro a buscar mistérios e maravilhas. E descubro-me com eles.
Eles colocam-se no meu mundo e vêem quem sou sem se importarem com os resultados do voo ao meu mundo.
Eu retribuo mergulhando no mundo deles, em quem são.
Prometo-lhes: estarei sempre presente, de olho atento, para os sustentar.
Como um bom pai ou mãe faz com os filhos quando aprendem a andar e a curiosidade os chama perante duas necessidades básicas:
-independência e segurança.
-Aventura e protecção.
Salto no desconhecido e poder voltar, porque a base estará sempre à sua espera.
Assim é a família. Foi assim que aprendi. Foi e é o exemplo que reproduzo com a minha família/tribo.
Eles estão de mão dada comigo.
Um dos problemas que nos atinge colectiva e individualmente virando-nos do avesso e tornando cegos, é no momento de desequilíbrio da vida não termos uma mão para agarrar com força. Um coração que se junte a nós num abraço.
Um equilíbrio que nos ensine a olhar o mundo. Como só uma tribo pode fazer. E dá-se o fracasso que tanto nos atrasa como espécie.
Vou contar um segredo, na minha tribo não somos nada perfeitos. Nem eu nem eles.
Somos um bando de imperfeitos aperfeiçoando-se.
Nisso somos bons. A fazer asneiras. E a retomar o passo lado a lado.
Hoje e sempre para os membros da minha tribo a minha homenagem. O meu amor.
Este retrato foi-me hoje oferecido pela amiga Ana Puga que pertence à minha tribo. Em Pemba. Dentro-sim dentro- deste imbondeiro existe um dos bares mais frescos que se pode encontrar em África. Um abrigo, como uma família.


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