segunda-feira, 11 de maio de 2015

Depressão individual e colectiva

O mundo está tão difícil de aguentar que não sei se amanhã estarei com uma depressão. Ou se agarro o bom exemplo de Dias Loureiro e sigo num avião da Tap em dia de não greve para Cabo-Verde. Diz-se que as praias são boas. Torno-me empresária a vender percebes. Não se riam, há gente em Inglaterra que por causa dos Conservadores terem ganho querem emigrar para as Ilhas Faroe.
Sim sim é de ficar assustado. Esta gente (os ingleses) está aterrorizada e deprimida e como li algures “é fácil governar e controlar gente deprimida que gente activa, desperta e alerta”, que me deu vontade de sair depressa desta “depressinha” e escrever.
Uma depressão é coisa séria. Afecta ao nível pessoal e socialmente. E isso é grave, porque nos leva a comer sem ver o que estamos a engolir. E não conseguimos regurgitar ficando o veneno dentro do corpo a consumir-nos as entranhas. Tornamo-nos zombies e até elegemos os que nos levaram a este estado catatónico.
Não falo de uma depressão como as que costumo ter alguns dias em que olho à volta, deito-me a olhar o tecto, cansada da podridão, sem sequer vontade de escrever e digo do fundo da alma as letras ph.
O mundo está tão doente que só espero que os ingleses que emigrarem para as Ilhas Faroe me escrevam um “post” a dizer se há lugar para mim. Não imagino o que poderão ser mais 4 anos de Pedros, Paulos e Marias os apóstolos da palhaçada em que se tornou este regime.
Está cada vez mais fácil para os psicopatas nos governos arranjarem inimigos para nos fazer tremer os joelhos, amassar os miolos e procurar ajuda em ansiolíticos e outros medicamentos.
Um dia destes, como dizia Eduardo Galeano, começa-se a ver anúncios no olx e no cm, anúncios para estágios remunerados para jovens e menos jovens que se queiram juntar ao Isis, ou quaisquer outro inimigos que criem para nos conduzir a maiores depressões.
Enquanto estivermos devidamente drogados, em estado deprimido, adormecido, não damos pelo que se passa. Nem comunicamos o que nos vai na alma. A voz dentro da cabeça diz-nos que não prestamos, somos merecedores da bosta de vida que nos calhou.
Se por cansaço não há voz vinda de dentro, basta ouvir e ler o que dizem os banqueiros, os ministros, os deputados.
Resta-nos ir a correr para o armário do álcool e dos medicamentos.
A indústria do capitalismo fica agradecida.
Por defesa e defeito falo tudo o que me vem à cabeça e espanto fantasmas.
Antes ser aturada pelo papel que ficar saturada pelos medos que me infligem, e, consequentes medicamentos para a depressão alegremente receitados por um médico que se pode querer ver livre de mim, já que a sua vida também não está fácil.
Deprime-me ver amigos e gente que amo em situações que os leva a ficar deprimidos. A existência tornou-se um fardo. Pesa.
Um dia teremos de pagar primeiro um imposto vitalício só para parirmos um novo ser humano.
Nós que cá estamos já somos obrigados a pagar pela nossa existência.
Só a vida do psicopata Pedro, mentiroso e incapaz de sentir empatia é que tem uma existência leve.
Também me deprime ver a estupidificação e imbecilização generalizada. Basta olhar os resultados eleitorais em Inglaterra. Como é possível quererem mais do mesmo? Volto a Portugal: deprime-me pensar que pode acontecer cenário igual.
E pergunto-me:
-Preferes mergulhar numa latrina cheia em final de festival de verão ou atirares-te a uma latrina cheia em final de festival de verão?…
Claro que prefiro prozac, whiskie e entrar em coma nos próximos 5 anos.
Por isso cuidado é aqui que está o problema: quando atiramos a toalha ao tapete e lhes damos a cara destapada para os murros dizendo sem ânimo: -ganharam.
E corremos para o armário de medicamentos e para as garrafas de álcool. Ou olhamos a cara do primeiro na tv e nos atiramos da ponte. Ganham mesmo. Por isso muito cuidado. Escolham outra latrina, outro festival.

Tomei algumas resoluções de meia-idade para não entrar em crise, com a crise humana que nos está a acontecer, culpa de outros que não nós os Davides:
-Aguentei até aqui, sem desesperar, sem dinheiro, sem soluções, sem trabalhos de jeito, sendo explorada, ou fazendo trabalhos que são a minha tesão mas não me dão pão. Apenas com o espírito de entregar a alma para que esta coma a vida com ganas e, para não a tornar pequena. Apenas com a minha sã insanidade! Então visto as palavras do Gabriel o pensador: “Chega, quem manda aqui sou eu”. O país é teu. Tu és o país.
E só quando morreres é que livremente podes dizer: agora sim já não quero saber.
Sobrevivemos como espécie porque somos um colectivo, porque nos alimentámos em conjunto (apesar de agora nos alimentarmos de retratos dos pratos de comida dos outros no Instagram e no facebook), porque partilhámos, porque somos solidários, porque uns sem os outros não somos nada.
-Não quero corporações que me espremem até ficar sem o meu precioso sumo.
-Não quero que outros homens e mulheres rebentem com a minha dignidade por pura exploração.
-Não quero ficar descabelada e desesperada por falta de tempo, consumida em trabalho para outros, que me exploram, para que eu consuma.
-Não vou deixar que me prendam corpo e alma em armadilhas. Para ficar deprimida.
-Sou macaco velho e a única armadilha em que me deixo cair é na de não me tornar um zombie, uma marioneta para deixar de dar luta.
-Vou continuar a vomitar o veneno que me querem fazer engolir.
Aprendi algumas coisas neste meio século.
-Não deixarei que outros me digam,imponham, gritem, exijam que eu viva a vida que querem para mim.
-Esta é genuinamente a louca que me habita. E os loucos não se deprimem. Riem-se.

Vão às vossas definições se estão deprimidos, e, mudem o vosso estado:
-Sejam loucos para darem o que podem aos que vos rodeiam,
-Sejam loucos e corajosos para fazer o que gostam mesmo que o tempo seja pouco.
-Aproveitem a chuva para se darem aos outros. Aproveitem o sol para estarem sozinhos.
-Não se preocupem com o que os outros pensem sobre a vossa loucura.
-Tomem a decisão de ser suficientemente corajosos e teimem na loucura da desobediência não na depressão que vos leva à obediência.
-Esforcem-se por não sofrer de amnésia. Ninguém nos pode controlar se não deixarmos.
-Riam-se dos esforços de quem nos quer fazer pagar por existir.
-Não deixem de agir, de dar pequenos passos para ir além das cordas onde estamos amarrados.
-Mesmo que seja em doses homeopáticas, riam-se.
Por tudo e por nada.
-Tirem-lhes o tapete! Deixem-nos com medo e deprimidos.
Eu sigo-vos o bom exemplo.

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