O
mundo está tão difícil de aguentar que não sei se amanhã estarei
com uma depressão. Ou
se agarro o bom exemplo de Dias Loureiro e sigo num avião da Tap em
dia de não greve para Cabo-Verde. Diz-se que as praias são boas.
Torno-me empresária a vender percebes. Não
se riam, há gente em Inglaterra que por causa dos Conservadores
terem ganho querem emigrar para as Ilhas Faroe.
Sim
sim é de ficar assustado. Esta gente (os ingleses) está
aterrorizada e deprimida e como li algures “é fácil governar e
controlar gente deprimida que gente activa, desperta e alerta”, que
me deu vontade de sair depressa desta “depressinha” e escrever.
Uma
depressão é coisa séria. Afecta ao nível pessoal e socialmente. E
isso é grave, porque nos leva a comer sem ver o que estamos a
engolir. E não conseguimos regurgitar ficando o veneno dentro do
corpo a consumir-nos as entranhas. Tornamo-nos zombies e até
elegemos os que nos levaram a este estado catatónico.
Não
falo de uma depressão como as que costumo ter alguns dias em que
olho à volta, deito-me a olhar o tecto, cansada da podridão, sem
sequer vontade de escrever e digo do fundo da alma as
letras
ph.
O
mundo está tão doente que só espero que os ingleses que emigrarem
para as Ilhas Faroe me escrevam um “post” a dizer se há lugar
para mim. Não imagino o que poderão ser mais 4 anos de Pedros,
Paulos e Marias os apóstolos da palhaçada em que se tornou este
regime.
Está
cada vez mais fácil para os psicopatas nos governos arranjarem
inimigos para nos fazer tremer os joelhos, amassar os miolos e
procurar ajuda em ansiolíticos e outros medicamentos.
Um
dia destes, como dizia Eduardo Galeano, começa-se a ver anúncios no
olx e no cm, anúncios para estágios remunerados para jovens e menos
jovens que se queiram juntar ao Isis, ou quaisquer outro inimigos que
criem para nos conduzir a maiores depressões.
Enquanto
estivermos devidamente drogados, em estado deprimido, adormecido, não
damos pelo que se passa. Nem comunicamos o que nos vai na alma. A voz
dentro da cabeça diz-nos que não prestamos, somos merecedores da
bosta de vida que nos calhou.
Se
por cansaço não há voz vinda de dentro, basta ouvir e ler o que
dizem os banqueiros, os ministros, os deputados.
Resta-nos
ir a correr para o armário do álcool e dos medicamentos.
A
indústria do capitalismo fica agradecida.
Por
defesa e defeito falo tudo o que me vem à cabeça e espanto
fantasmas.
Antes
ser aturada pelo papel que ficar saturada pelos medos que me
infligem, e, consequentes medicamentos para a depressão alegremente
receitados por um médico que se pode querer ver livre de mim, já
que a sua vida também não está fácil.
Deprime-me
ver amigos e gente que amo em situações que os leva a ficar
deprimidos. A existência tornou-se um fardo. Pesa.
Um
dia teremos de pagar primeiro um imposto vitalício só para parirmos
um novo ser humano.
Nós
que cá estamos já somos obrigados a pagar pela nossa existência.
Só
a vida do psicopata Pedro, mentiroso e incapaz de sentir empatia é
que tem uma existência leve.
Também
me deprime ver a estupidificação e imbecilização generalizada.
Basta olhar os resultados eleitorais em Inglaterra. Como é possível
quererem mais do mesmo? Volto a Portugal: deprime-me pensar que pode
acontecer cenário igual.
E
pergunto-me:
-Preferes
mergulhar numa latrina cheia em final de festival de verão ou
atirares-te a uma latrina cheia em final de festival de verão?…
Claro
que prefiro prozac, whiskie e entrar em coma nos próximos 5 anos.
Por
isso cuidado é aqui que está o problema: quando atiramos a toalha
ao tapete e lhes damos a cara destapada para os murros dizendo sem
ânimo: -ganharam.
E
corremos para o armário de medicamentos e para as garrafas de
álcool. Ou olhamos a cara do primeiro na tv e nos atiramos da ponte.
Ganham mesmo. Por isso muito cuidado. Escolham outra latrina, outro
festival.
Tomei
algumas resoluções de meia-idade para não entrar em crise, com a
crise humana que nos está a acontecer, culpa de outros que não nós
os Davides:
-Aguentei
até aqui, sem desesperar, sem dinheiro, sem soluções, sem
trabalhos de jeito, sendo explorada, ou fazendo trabalhos que são a
minha tesão
mas não me
dão
pão. Apenas
com o espírito de entregar a alma para que esta coma a vida com
ganas e, para não a tornar pequena. Apenas com a minha sã
insanidade! Então visto as palavras do Gabriel o pensador: “Chega,
quem manda aqui sou eu”. O
país é teu. Tu és o país.
E
só quando morreres é que livremente podes dizer: agora sim já não
quero saber.
Sobrevivemos
como espécie porque somos um colectivo, porque nos alimentámos em
conjunto (apesar de agora nos alimentarmos de retratos dos pratos de
comida dos outros no Instagram e no facebook), porque partilhámos,
porque somos solidários, porque uns sem os outros não somos nada.
-Não
quero corporações que me espremem até ficar sem o meu precioso
sumo.
-Não
quero que outros homens e mulheres rebentem com a minha dignidade por
pura exploração.
-Não
quero ficar descabelada e desesperada por falta de tempo, consumida
em trabalho para outros, que me exploram, para que eu consuma.
-Não
vou deixar que me prendam corpo e alma em armadilhas. Para ficar
deprimida.
-Sou
macaco velho e a única armadilha em que me deixo cair é na de não
me tornar um zombie, uma marioneta para deixar de dar luta.
-Vou
continuar a vomitar o veneno que me querem fazer engolir.
Aprendi
algumas coisas neste meio século.
-Não
deixarei que outros me digam,imponham, gritem, exijam que eu viva a
vida que querem para mim.
-Esta
é genuinamente a louca que me habita. E os loucos não se deprimem.
Riem-se.
Vão
às vossas definições se estão deprimidos, e, mudem o vosso
estado:
-Sejam
loucos para darem o que podem aos que vos rodeiam,
-Sejam
loucos e corajosos para fazer o que gostam mesmo que o tempo seja
pouco.
-Aproveitem
a chuva para se darem aos outros. Aproveitem o sol para estarem
sozinhos.
-Não
se preocupem com o que os outros pensem sobre a vossa loucura.
-Tomem
a decisão de ser suficientemente corajosos e teimem na loucura da
desobediência não na depressão que vos leva à obediência.
-Esforcem-se
por não sofrer de amnésia. Ninguém nos pode controlar se não
deixarmos.
-Riam-se
dos esforços de quem nos quer fazer pagar por existir.
-Não
deixem de agir, de dar pequenos passos para ir além das cordas onde
estamos amarrados.
-Mesmo
que seja em doses homeopáticas, riam-se.
Por
tudo e por nada.
-Tirem-lhes
o tapete! Deixem-nos com
medo e deprimidos.
Eu
sigo-vos o bom exemplo.
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