segunda-feira, 24 de março de 2014

“…ninguém vai morrer à míngua por não ter água em casa”



Na espuma dos nossos dias

Quando se banaliza a violência nasce o caos, que vem da cegueira de não vermos o óbvio e deixarmos o caos instalar-se.

E, nascem iluminados que brotam da terra com pérolas de sabedoria retiradas de uma qualquer página do facebook que se poderia chamar ” se não fosses acéfalo o que querias ser?”como por exemplo o secretário –geral da empresa de Águas-Epal José Manuel Zenha que perante os  "a atrasos reiterados" no pagamento das faturas, considera que "ninguém vai morrer à míngua por não ter água em casa e  há muitos fontanários e chafarizes públicos na cidade” (in Expresso) http://m.expresso.sapo.pt/inicio/modal/destaques/artigo/861968

Felizmente também choveu muito este inverno e as pessoas deviam ter comprado bacias nos chineses e feito as suas reservas de água. Não se preveniram, tivessem-se prevenido. Digo eu que também não me preveni.

Maria Antonieta mandou o povo comer brioches. Não tinham pão mas cortaram-lhe a cabeça.

Só falta alguém criar uma ong para apoio aos pobres e víctimas Duarte Lima, ao Oliveira e Costa, Isaltino e quejandos.

Entre os muitos de várias idades que são obrigados a sair e a deixar filhos,pais,netos,amigos porque não se sobrevive por cá, presos que estamos ao dinheiro, há uns, mais iguais que outros, com poder, com ou sem aspas, que acordam e nem se dão conta que há um espaço vazio no lugar do cérebro. Mas não perdem a fala e despejam litradas de diarreia.

Vou continuar a escrever para que ninguém se esqueça de todos os que saiem, dos que nada têm, dos que nem podem honrar os seus compromissos essenciais. Tal como a conta da água. Como o amor, essencial à vida. Porque também acredito que este país tem coisas e gente fantásticas para se gostar dele e para se viver aqui.

O extermínio de velhos e novos, de todas as cores, etnias e orientações sexuais, está aí a acontecer, num grande campo de concentração chamada Europa. Continente de duas Guerras Mundiais. De guerras permanentes. Onde nasceram também grandes civilizações. Onde surgiu o Renascimento. As luzes, a democracia, a liberdade. Os direitos humanos.

Por favor, não se esqueçam. Vivemos no meio de um roubo de porta aberta à vista de todos. Com uma dívida inventada e impagável. Odiosa em todos os sentidos da palavra. 

A morte não é na câmara de gás é através da falta de água, saúde, educação, justiça, trabalho, casa. Lenta e violentamente chegamos à morte. Não é inteligente?

Se fosse para ir a um clássico de futebol, a pagar, o estádio encher-se-ia com gente feliz aos pulos e gritos. E se o árbitro por azar tem um deslize,recebe ameaças de morte e manda a sua mãe tapar os ouvidos. No estádio, faz-se a catarse.

Como se trata da saída, separação e a morte de cidadãos inteligentes, capazes, instruídos, produtivos ou dependentes mas que já deram o seu contributo, aceitamos sem mais problemas de consciência e vamos ao estádio vociferar contra a mãe do árbitro. Que se calhar vive com 300€, e, nem tem dinheiro para a água que consome. Tudo isto sem criarmos “A Resistência” e a Desobediência Civil.

Vou propor aos grandes clubes nacionais que se organizem para um jogo de beneficência, gratuito, em nome do país e dos direitos humanos, só para chamarem 80 mil pessoas ao estádio e só de lá saírem quando se juntarem outras tantas e outras tantas, até que caia a podridão deste sistema de árbitros e dirigentes corruptos e ladrões. Estou a falar de política e não de futebol. De outros árbitros. O futebol serve-me apenas de isco,naturalmente.

Eu só consigo mudar alguma coisa se me mudar primeiro e tomar consciência. Escrevo para me mudar e se puder, trazer ao colectivo a minha força individual.

Não precisamos que nos controlem. Porque somos poderosos como grupo e como indivíduos e por isso somos controlados.
Não conseguimos ver esta verdade tão óbvia e começar a “cortar cabeças”?

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