segunda-feira, 29 de junho de 2015

A vida transcendente e a escravatura

Em África diz-se: "tenho uma preocupação" e "estou incomodada".
Os gregos incomodam-me e preocupam-me. 
Tsipras e Varoufakis poderiam estar a circular nos corredores dos poderosos, de Armanis e Vuittons a espalhar charme à "lagardere" e, em simultâneo aceitarem ser donos de escravos, no sistema de escravos ( tal como tantos outros o fazem com essa mesma garantia), onde donos de escravos sabem que contam com a anuência, acordo e autorização da maioria dos escravos (ler Platão, a República). 
Mas eles não estão. Fazem-me lembrar Sócrates e Platão a discutir a polis dos dignos, dos seres livres, dos homens justos. 
Estão a mostrar que a vida tem mais corredores. São o cavalo de Tróia do seu povo na UE. 
Sócrates queria os seres livres a desenvolver o pensamento critico. 
Platão, pensou na vida humana como algo de transcendente. Deve ser usada para a levar ao reino das ideias. Que somos muito para além do que conhecemos. E temos o direito de nos transcender. A nossa vida, é a missão mais corajosa e importante que acedemos cumprir. Porém quando nascemos esquecemos tudo. 
E para mal de todos os crimes e pecados cometidos, acabamos escravos de um aquário pequeno de peixes iguais e não vemos para além do nosso pequeno espaço nubloso e aquoso. 
Ou cavernoso. 
Quem consegue fugir da caverna e decide regressar para informar que lá fora há tanto mais para transcender, tanto mais para viver...é assassinado pelos escravos da caverna que neles não conseguem acreditar. 
Ou pelos donos dos escravos com medo das suas imprudentes palavras e acções. Estes quais hienas, se os matarem comem os restos dos corpos dos escravos da caverna e riem-se muito, babando-se impudentes para os cachecóis de quadrados que envolvem os corpos de quem ousou desafiá-los.

Quem os mandou a estes dois homens charmosos, não se ficarem pelos corredores brilhantes de instituições de respeito, credores, mercados ou outra qualquer nomenclatura politicamente correcta, criadas para proteger o sistema de escravatura e virem defender o seu povo escravo? 
Quem os mandou sair da caverna e estar a informar o que há para além de uma vida?
Deve ser porque são gregos e estudaram os seus fundadores pensadores. E descobriram a verdade sobre a vida: ela é uma missão de transcendência não de escravidão.

Devem também estar imbuídos da missão de acordar os escravos. Começaram com poucos votos e chegaram ao poder real e dele se querem usar para despertar. 
Devem ter por missão regressar à caverna e gritar o que há para lá das sombras.
Estão vestidos de esperança tal como o vestido que cobria Obama e cobre o Papa Francisco. Despertam as mesmas emoções: esperança, vitalidade, entusiasmo e a promessa de comutação da pena de morte em que vivemos, os povos indigentes.

Como cidadã desta comunidade alargada de escravos que se chama terra, estou acordada e tudo vou fazer para que os interesses e as agendas escondidas dos "nossos" donos se manifestem mais alto e que os mensageiros não sejam chacinados.
A mensagem de Platão e Sócrates sobre a transcendência da vida vive nestes seus mensageiros.
Tenho motivos para "ter uma preocupação" e "estar incomodada" com a vida na caverna. Ela é apenas uma sombra do que a vida pode ser.
Querem-nos emudecidos, ensurdecidos,cegos para que não saibamos (como já sei) que o cálice tem veneno. 
Afastem-no de nós! 

domingo, 28 de junho de 2015

5 de Julho data para mudar a História

Nenhum escravo com consciência de ser escravo gosta ou aceita correntes.

Não me apercebi ainda de nenhum adulto à mesa das negociações, do lado das Instituições. Percebo apenas miúdos surdos em plena puberdade que não se comunicam.
Enquanto o mundo não souber viver sem se comunicar abrindo o canal para ver/ouvir a mensagem entre emissor e receptor, o ruído distorcerá a compreensão.
As Instituições BCE e FMI não querem ouvir, nem querem entender os erros, nem lhes interessa. Todos falam em simultâneo querendo ter razão.
Não é possível que haja adultos maduros na comunicação com a Europa que sofre. Falam demasiado sem escutar o que dizem os povos europeus.
Como numa família que se zanga. Todos falam, todos querem a razão mas ninguém se ouve. 
Somos culpados quando não silenciamos para ouvir o que nos dizem. Mais culpados somos quando sabemos a razão do mal, deixamos a sua raiz e a regamos, como o fazem as Instituições.
Zeus lança o seu raio sobre o Deus dinheiro que manipula e seduz a vida moderna. 
Todos sabemos que qualquer tragédia tem maus resultados para todos os membros da família. 
Mas quando os surdos e cegos mantêm a teimosia por uma agenda própria e bastarda, são precisas medidas extremas tal como a mãe de Zeus, Reia, para o salvar. 
Entregar uma pedra. Um raio, um trovão que faça cair o castelo de cartas. Que ofereça uma lição.
Não quero viver numa Europa que não respeite os seus cidadãos. 
Acredito numa outra alternativa para a vida. E esta como sabemos pelas tragédias que aconteceram ao longo da História humana arranja sempre um caminho.
"O medo está a mudar de lugar" e qualquer outra "narrativa" sobre o jogo que se joga é sintoma do síndroma de Geppetto.


sábado, 27 de junho de 2015

Ser mulher

E por falar em mulheres...
Esta é uma história para mulheres. Porque se trata de um conto contado por estrogénios.
E sobre o capitalismo.
Os estrogénios são o capital feminino.
A menopausa e o capitalismo têm alguma relação? Vou de passagem dar algumas pistas.
A sua substância é a mesma. Com uma consigo explicar o outro. E vice versa.
Um nasce para produzir dinheiro que traz riqueza ao capitalista (até esgotar o ser humano que a produz). Estaria bem se no fim a riqueza fosse distribuída.
A outra nasce para produzir uma hormona, o estrogénio, que traz a riqueza de poder gerar filhos, do desejo sexual até se esgotar no corpo que a produz.
Está certo, é assim que a natureza funciona.
Como num relacionamento que conta uma história entre duas pessoas de naturezas complexas e diferentes, vou contar uma história. Da menopausa.
Um dia, aos oito anos de idade assisti a um grupo de trabalhadores frenéticos chamados estrogénios abrir uma fábrica usando o meu corpo como lugar para ficar. Fez-me desorientar, ficar feliz e desesperada por não saber o que se estava a passar no meu corpo. Tinha sido alvo de um ataque terrorista, sem prévio aviso ou conhecimento, sobre o trabalho que iria decorrer deste fenómeno de ocupação.
A natureza seguiu indomável o seu curso, mensalmente retirando uma taxa sobre óvulos não concebidos e mais tarde devolvendo em dividendos os que conseguiu vender a quem o fertilizou.
Fez bem o seu trabalho por muitos anos, mas tudo tem um fim.
O corpo/fábrica de tanto ser explorado, chega ao momento de se retirar da produção. E fecha o seu ciclo.
Algures o patrão dá ordem de encerramento. Não sem antes se manifestar algumas vezes violentamente contra o encerramento.
Protestos sob a forma de afrontamentos (o estrogénio regula a temperatura do corpo), suores frio, secura, perda de apetite, falta de desejo, engordar ou emagrecer sem se comer mais (mesmo que se deixe de ir aos fast-food) ou sem se deixar de ir aos fast-food, mudanças de humor (os esterogénios ajudam à fixação e equilíbrio da serotonina-neurotransmissor responsável pela regulação do humor, do sono, do apetite, do bem estar), humor esse que varia entre o querer matar os filhos e os colegas e o chorar perante qualquer gato fofinho que se enrosque nas pernas.
Ou o contrário: abraçar os filhos quando estes bateram na avó, chorar sem razão e querer atirar paus aos gatos fofinhos. Ou matar os patrões abusadores também cabe nestes momentos.
Se não couber, diga que está com a menopausa! E avance a matar!
Tal e qual como numa ressaca de drogas e de álcool. Ou de um capitalista que perde milhares de acções na bolsa.
A vontade de suicídio é superior à vontade de sobreviver no mundo hostil da falta de estrogénio. Ou da falta de dinheiro e trabalho no sistema capitalista.
Mas não se desesperem. Esperem um pouco. Respirem fundo. É apenas o estrógénio a deixar o corpo. É apenas um ciclo que termina para dar inicio a outro.
Tal como fiquei bêbeda desequilibrada e com o início do ciclo com a invasão de estrogénios, também me embebedei e desequilibrei com o desaparecimento em massa e repentino da hormona.
Amaram-me e desamaram-se sem pedir licença e sem aviso prévio. Apenas respeito pela própria natureza.
No capitalismo existe o mesmo tipo de amor e de desamor repentino e sem licença.
No meu caso, tivemos um caso intenso quando me invadiu e se instalou e, quando partiu desaparecendo para nunca mais voltar.
À partida e à chegada nem "lobolo" houve (oferendas que se faz em África aos pais da noiva quando de um pedido de casamento).
A menopausa pode provocar desequilíbrios profundos e mais difíceis de gerir e acomodar que a puberdade.
Porque a fábrica naturalmente encerra com o cansaço e o desgaste próprio e natural da idade. Sobretudo nos processos violentos e inesperados.
Dizem que começa a idade da sabedoria, da leoa e claro das maravilhas libertadoras de uma vida sexual sem riscos e de algumas perturbações da saúde dos ossos e até perturbações mentais.
Eu confirmo. Recebi a indemnização total por anos de serviço sem falhas e o pacote completo dos efeitos da reforma prematura acima descritos.
Despi-me em público num inverno rigoroso por causa de um afrontamento, numa reunião num local pouco aquecido...A reunião parou e eu vermelha, a suar pornograficamente expliquei perante os olhares assustados das mulheres e perplexos dos homens: estou na menopausa!
Ninguém acreditou!
Continuei já em soutien: sou uma doida feminista por falta de estrogénios e queria os meus 15 minutos de fama...
Sossegaram e a reunião continuou não sem me olharem de lado. Deixaram de me olhar como uma pessoa "normal". Agradeci ao afrontamento!
Por isso, não desesperem, nem se limitem. Se não se tornarem mulheres mais sábias e leoas, certamente serão livres e doidas.
O único estado que quero.
Não sofram sozinhas, nem tenham medo de se expor. Conversem com as pessoas amigas à vossa volta, os médicos, os companheiros, os filhos e até com os patrões (se alguém vos tirar a almofada com a qual o iam sufocar), abanem-se e refresquem-se e de preferência não substituam a hormona natural por um estrogénio químico.
O corpo sabe o que faz e faz o que está programado para fazer.
Ser mulher...é conter em si a verdadeira essência do capitalismo.
Mesmo quando se fica sem estrogénio não se perde o poder de ser infinitamente rica e distribuir riqueza.
Sejam felizes. Sejam (o que diz a origem da palavra latina oestrus): fúria poética.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ser hippie

Recebo este elogio tantas vezes... smile emoticon
so..."let it be"!
hippie
por escolha... 
para no jogo do esquecimento que todos jogamos
não me perder de quem sou :"ubuntu" (na tradição africana)
-"sou porque tu és"
"A cultura hippie indica(va) uma mentalidade e forma de viver muito pacífica, e acredita(vam) que podiam melhorar o mundo através de comportamentos não violentos...
Tinham uma elevada noção de fraternidade, dividindo as suas posses e vivendo em comunidades, sendo que a maior parte dos hippies não tinha trabalho nem residência fixa...
Em sentido figurado, muitas vezes a palavra hippie é usada para descrever uma pessoa liberal ou que não aceita os valores que são aceites pela maioria da sociedade".Dicionário de significados
O símbolo da Paz, dos direitos civis, da luta anti-apartheid, contra a opressão e a tirania, foi adoptado pelo movimento dos anos 60.
Criado num momento de desespero pelo mundo que o rodeava, pelo designer inglês Gerald Holtom em 1958 é uma composição entre as letras N e D (Nuclear Disarmament) em volta do círculo que simboliza o planeta.
O seu criador chegou a pedir que se usasse o símbolo virado com a três pontas para cima, sugerindo um homem de braços levantados em V de vitória usando as letras U e D (desarmamento unilateral).
A Humanidade não tem seguro contra todos os danos que provoca a terceiros e colocando em risco o planeta deixámos de estar a salvo.
Recriar é preciso (é minha convicção que o planeta já perdeu a fé em ser por nós resgatado).
Por sorte (?!) cada vez mais me cruzo, me identifico e me torno amiga de hippies que se sentem desesperados com o mundo que nos rodeia, a criar vidas alternativas, a fugir e a levar os seus filhos para longe dos maus valores aceites pela maioria da sociedade.
Não, não são marginais, colocam-se conscientemente à margem.
Reinventam e criam Vida.
O mundo está a mudar. E gente há a parir um mundo novo.
Benditos hippies de hoje. Eles são o salto para o futuro.
Um dia este símbolo será usado com os braços levantados em V.
Para mostrar que tomando decisões unilaterais em todos os aspectos da vida, se dá origem à mudança temida pelos instalados tiranos.
Orgulhosamente
uma hippie


terça-feira, 23 de junho de 2015

Quo vadis Europa ?

Hoje tomei vitamina E de Galeano (entusiasmo e esperança) com este discurso.
A lição de Antígona de Sófocles para salvar a Europa :
" Temos o dever de desafiar as regras que vão contra os princípios básicos da humanidade e justiça e mudá-las se preciso for"
" Se continuarem a esmagar a nossa população na miséria o país nunca se poderá refazer" ..."A História tomará isto como um falhanço dos protagonistas, se não houver acordo".
A não perder esta lição de história e de economia dada por Varoufakis.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Os vendilhões do templo

Aqui jaz Portugal vitimado pelos audaciosos, vendidos e bons alunos Pinóquios, salivando com as mãos na massa do saque e que oferecem o fruto em bandeja de prata, com permissão e total comunhão das lusas vítimas inconseguidas, adormecidas e medrosas, donas do castelo saqueado...
Esta tumba faz-me perder a tesão logo não me tira o engulho do peito!




da página no facebook de Rise Up Portugal:

PARLAMENTO PORTUGUÊS ACORDOU

COM A PLACA “VENDIDO”

Quem colocou o cartaz diz que entrou "sem problemas" na Assembleia da República. Ação é de protesto "contra a vaga de privatizações."

Na varanda do Parlamento foi colocado esta segunda-feira um cartaz que anuncia que o edifício está "vendido". Os autores da ação, que divulgada na página "eunaomevendo.pt", preferem não se identificar, mas à TSF contaram que "esta iniciativa ativista foi feita como oposição, e para chamar a atenção, a vaga de privatizações, para além dos vários cortes nas reformas e da perda total de soberania do povo."

Um dos elementos do movimento "eunãomevendo.pt", que prefere manter o anonimato, explicou que quem colocou o cartaz entrou "pela porta principal da Assembelia da República" e que foi "bastante simples", o que não voltará a acontecer, admite: "nunca mais será fácil". Em momento algum a segurança do Parlamento questionou a presença dos dois elementos do movimento, garantiu esta fonte.

A TSF contactou o gabinete da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e aguarda uma resposta.

sábado, 20 de junho de 2015

A tristeza triste dos mitos

Em modo enojado com os mitos urbanos, criados por tolas dementes como a minha!
Que povo
Aprendam a ser comedidos,pacientes e a acreditar nas palavras deles.
Ele não apenas merece a nossa confiança,como a nossa amizade, solidariedade e voto...
tão comezinho a queixar-se sempre do que não vê, não sabe, não sente...
O homem tem um pacto com a santidade,senão vejamos:
O IVA não aumentou, a dívida pública não aumentou, Portugal não é um dos países com maior carga fiscal, o país não tem um nível de vida baixo, não se liberalizaram os despedimentos, os portugueses não fazem sacrifícios, não se vendem os anéis, os poucos que saíram querem voltar, não houve redução no investimento na saúde e na educação...resumindo:
-os portugueses não são "tratados à bruta" !
"Não dizemos hoje uma coisa e fazemos amanhã outra"."Precisamos valorizar a palavra para no futuro podermos acreditar nela". PPC
Prémio: O mentiroso compulsivo: PPC
Os cofres deles estão cheios como os cérebros das antas: de correntes de ar.
(contém mensagem subliminar aos credores, não é para nós!).
Para os portugueses os cofres estão cheios...de promessas eleitorais.
Se a coligação ganhar serão tratados de novo... "à bruta".Isto sim é irrevogável.
Continuem a "fazer óó"...e a embalar-se no canto do lobo vestido de cordeiro.
PS, resta-me a consolação de que Saturno esse planeta da mitologia grega baptizado "Chronos" ou Deus do tempo, em tempo de eleições, lhe prescreva uma lição pouco mitológica sobre a verdade e o seu prazo de validade.
Nunca como hoje precisamos de ser aliados do "empreendedorismo" do qual os portugueses já deram mostras noutros tempos, e, bater com o punho na mesa. Toda a "narrativa" seria cómica se o que nos espera não fosse trágico.
Neste planeta pequeno, com a vida humana dotada de tempo limitado Syrizemo-nos: façamos o medo despertar noutro lugar.
Somos todos cidadãos deste planeta e temos o direito de estar cá,ali,em qualquer lugar, condignamente. 
Qualquer "narrativa" contrária é pura mentira. Coloquem palas nos olhos para não os verem, coloquem algodão nos ouvidos para não os ouvirem, e não fiquem mudos a responder a esta gente contra a austeridade e a matança autorizada por esta autoridade dos mercados marcada no rosto de quem a pratica.
Sejamos os heróis das histórias que contaremos ao tempo futuro.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Grécia e o resultado da auditoria à divida pública

Sentemo-nos e pensemos:
enquanto a UE pensa na saída da Grécia debaixo do Euro os cidadãos europeus, deveriam estar a pensar em saírem debaixo do Schauble/Merkel/Draghi e quejandos. Só assim dignificamos a essência da democracia. 
Porque para já a que existe está sentada apenas na wikipédia.
Claro que é possível mudar. Sempre foi e sempre será. 
Não estão cansados de ter imbecis mentirosos a mandar em vocês?
Como nas histórias com pais tiranos insuportáveis,para se libertarem deles. as filhas arranjam o primeiro camionista que aparece e engravidam,só para sair de casa e se libertarem?
Os gregos sabem-no e tentam,os espanhóis fazem a experiência, os Islandeses conseguiram.
Nós por cá? Somos uns coninhas! Nem tentamos fugir com o camionista,nem engravidamos, nem batemos no pai. Assistimos à novela.
Deglutimos jacarés e hibernamos. De seguida vamos às feiras de verão para degustação das escamas.
Gosto do meu país, não gosto é das muitas aberrações que pariu.
Eu, já elegi o meu camionista e já estou grávida. De democracia grega: a que suportou o império otomano e resistiu, a que suportou os nazis e resistiu, a que suportou os militares e resistiu, a que bateu no fundo com a austeridade imposta pela UE e se levanta resistindo.



"Ao disponibilizar este relatório preliminar às autoridades gregas e ao povo grego, a Comissão considera ter cumprido a primeira parte da sua missão, definida pela decisão da Presidente do Parlamento a 4 de abril de 2015. A Comissão espera que o relatório seja uma ferramenta útil para os que querem sair da lógica destrutiva da austeridade e erguer-se em nome do que hoje está sob ameaça: direitos humanos, democracia, dignidade do povo e o futuro das próximas gerações.
Em resposta aos que impõem medidas injustas, o povo grego pode invocar o que disse Tucídides sobre a Constituição do povo de Atenas: “Quanto ao nome, chama-se democracia, porque a administração serve os interesses da maioria e não de uma minoria” (Oração fúnebre aos mortos do primeiro ano da Guerra, de Péricles)."

Seria bom ver levantar os braços em massa para assinar a petição para uma auditoria à dívida pública Portuguesa que circula nas redes sociais.

http://www.infogrecia.net/2015/06/leia-aqui-as-conclusoes-da-auditoria-a-divida-grega/




Excessos

Sonho em excesso,
mas sem os excessos...
não consigo o equilíbrio de ser 
excessivamente completa

Serei excesso
para equilíbrio ter?

Quero em excesso, amo em excesso, desejo em excesso
sinto em excesso, dou em excesso, recebo excessivamente

Sonho em excesso
com uma colorida máquina de escrever
e nela contos sussurrar
com uma casa pequena com um jardim pequeno
um riacho a correr
no murmúrio de uma onda do mar adormecer
no jardim magnólias brancas em flor 
deixando as suas olhas cair 
no meu regaço
quando chegar o tempo de renascer
e ervilhas de cheiro pendurar
com beijos de luz do sol 
e nuvens de cor
me aconchegar
uma cadeira de baloiço 
onde me deixe ficar
deixar nos dedos do mar 
me embalar
sem nada pensar
nem deixar 
nenhum equilíbrio em excesso 
de mim se apossar

e na minha casa com um jardim pequeno
perder o equilíbrio 
para ganhar a verdade do excesso
da alegria de viver 
na casa do universo

e em equilíbrio 
graças aos meus excessivos desejos 
como o de um amor que não se mede
e de excessos se excede 
sem equilíbrio 
na minha casa com um jardim pequeno
ser excesso, 
ser equilíbrio
ser barco afundado
a desaguar numa alma sem tamanho 


Numa praia em Inhambane onde fui excessivamente feliz sem esforço excessivo apenas um excessivo equilíbrio de felicidade.



Riscos

"Não viajo como um escape da vida,viajo para que a vida não me escape" autor desconhecido


Arriscaria eu aventurar-me na principal viagem, sem correr riscos?
arriscaria eu uma vida sem ir no caudal do rio da minha imaginação?
arriscaria eu não confiar no prazer das experiências que me oferecem as viagens?
arriscaria eu não viver sem lógica nem razão comum aos comuns?
arriscaria eu viver sem confiar na razão da minha intuição?
arriscaria eu viver sem saber para onde vou para descobrir o quão longe posso ir?
arriscaria eu viver sem consciência de quem sou nos outros?
arriscaria eu viver sem mergulhar em abismos?
arriscaria eu viver sem ser para abrir ao vento a vela que me faz na vida deslizar para fora de portos seguros?
arriscaria eu viver sem explorar,sem aceitar a maré, sem sonhar,sem descobrir por mim as histórias que me fazem encantar?
arriscaria eu viver sem me desapontar?
arriscaria eu viver sem mergulhar nas grutas mais profundas das emoções que habitam o meu ser?
arriscaria eu viver sem viajar para me curar?
arriscaria não me conhecer para me curar?
A única vida que conheço, cada amanhecer,cada entardecer, cada abismo,cada recomeço são os meus riscos
sem me distrair entrego-me aos riscos e não me rendo perante os perigos
porque quereria usar o único sonho que me foi dado-a vida- sem o arriscar? sem o expor a riscos?
Arriscaria não fazer dela uma pequena obra d´arte?
a minha obra d´arte?
arriscaria eu não a querer como se quer o amor?
arriscaria eu não ter consciência da grandiosidade que ela me promete?
arriscaria eu não ser a voz intima das pétalas que me oferece?
arriscaria eu não permitir que os seus espinhos sejam a minha libertação?
arriscaria não lhe conhecer cada momento de opressão?
arriscaria não ter o poder de me transformar no seu poema?
arriscaria viver sem lhe conhecer o prazer?
arriscaria viver sem por ela me equilibrar nas suas pontes?
arriscaria viver sem lhe permitir que me descontrole os planos?
Cada ruga,cada sorriso,cada viagem, cada risco, cada queda,cada mistério, cada milagre, cada desgosto, cada pétala de felicidade, cada grito,cada silêncio,
são capítulos de uma história, a minha história,
pedaços de uma história universal
sempre que arrisco
não terminar no último e fazer nascer um novo.
E arrisco um recomeço.









quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ser e Estar

Sabemos quais são os nossos pesadelos porque os vivemos
mas os nossos sonhos quais são?
expressemo-los!
Vou por aí dando passadas largas
tendo como arma
a minha arte de dançar
o tempo corre à minha frente
apressando-me
não me dando tempo
de o apanhar
e graciosa e desvairadamente
ser e estar

ser mais silêncio
estar mais tempo a conversar
ser mais solidária e feliz
estar mais sorridente
ser mais operário
estar mais perto de ser melhor construtor
ser mais ouvinte
estar mais tempo a compreender o meu lado lunar
ser mais raiz
estar mais tempo nas asas dos sonhos
ser mais solar
estar mais feliz a destapar-me
ser mais todo que parte
estar cada dia mais próxima de me descobrir
ser cronicamente amiga da arte
estar em sintonia com o meu ser inteiro
ser mais imaginação
estar mais preocupada com a minha força para usar em tempos duros
ser menos preocupada com os tempos duros onde me faltam forças
ser mais coragem e impulso que originam a criação
estar com menos falta de coragem e de impulso que impeça a minha evolução
ser sentimento e distracções
estar ancorado no delírio da ilusão
ser mais leve e sensível
estar mergulhado no caos da intensidade das emoções
ser mais e mais loucamente sã
estar eterna e saudavelmente louca

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Na esperança de um novo 10 de Junho

“Precisamos de poesia na vida “, deve ter sido uma frase (sem qualquer originalidade) que o jovem aprendeu num workshop de escrita criativa para convencer futuros escritores/poetas a criar mitos inéditos.
A imaginação deste novo poeta faz o meu coração ribombar de poemas. Em sonoras gargalhadas.
Que ninguém vos ouça hoje nem nunca.
Leiam antes poesia.
Hoje 10 de Junho apetece-me lembrar o poeta Camões adaptando-o e dedicando a minha poesia aos homens no comando da jangada que hoje vão discursar “tretas” sobre o dia da Língua e do poeta:
Devolvam-me a Língua Portuguesa para que evolua e mude não por interesses, mas porque essa é a condição natural do ser vivo.
Esta Língua , de um ser vivo se trata, falada por tantos que à sua maneira a mudam e fazem evoluir.
Não mais me constranjam,
busquem vocês novas paragens, novos rumos
novas artes, novos engenhos
Que não podem tirar-me as esperanças
mal me tirarão o que eu já tenho
de outros destinos, outros mundos
Olhem que é de esperanças que me mantenho
até a de vos ver todos numa nau zarparem
e deste maravilhoso país se afastarem
Olhem que é de esperanças que me mantenho
E poesia para cada dia
vejam bem as minhas perigosas seguranças
pois não temo contrastes nem mudanças
andando que estou em bravo mar, perdido o sustento
não perco o alento
Sei bem de onde me vem o desgosto
que vocês na alma me têm posto
Este sei o quê,que nasce sei onde
que vem sei eu como, e dói sei bem porquê
são vocês que me tentam acabar com a esperança
com a arma do fingimento
que mata mas não se vê
mas o que me acalenta
é a inevitável mudança.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

"All creativity is a break in logic." Mini conto

Era um fim de tarde ameno. Docemente ameno. Sentado na almofada de algodão que atirava raios doirados como beijos serenos pelos prados cobertos de gira-sóis, enquanto trincada uma azedinha,Deus dormitava. Ou meditava. Era esse o seu estado depois de ter passado um tempo sem tempo,a criar o mundo. Não eram os 7 dias que os homens, essa espécie pouco sabedoura das coisas de Deus proclamava. Cansava-se a ouvi-los cheios de verdades. 
Tinha acabado o último molde e estava serenamente pensativo. Ou docemente melancólico. Já tinha conseguido tanta quase perfeição,que restava-lhe a obra de arte que todos os artistas um dia esperam criar.
O canto das sereias embalava-o. Era um bocadinho sem melodia, mas elas eram felizes assim. Não se tinha preocupado muito a fazer aquele molde, foi quase numa aposta consigo próprio. A brincadeira tinha dado um resultado bonito. E cativava o imaginário dos poetas e dos contadores de histórias. Afinal, ele próprio tinha-se como um poeta mas também com sentido de humor.
Não sabia o que o esperava quando o molde saísse do forno. Esperava ter aquele momento que um dia iria inspirar Einstein, o momento " humm que engraçado...". Esse seria o ponto certo da cozedura.
A languidez do momento arrastava-o para sonhos quase impossíveis. Queria que o coração conduzisse o cérebro naquela que considerava a sua maior inspiração. Fez com que isso acontecesse e deixou-se levar. O cérebro nada teria a ver com a sua obra de arte absoluta. Encantado com o seu sonho, adormeceu.
Bip,bip,bip soou a máquina da criação. Três vezes era o sinal de conclusão de uma peça.
Deus despertou e sentiu-se nervoso. Percebeu que estava emocionalmente afectado pelo seu sonho de criação. O coração era dono de si. E aquele, ah aquele momento, era o momento que tanto ansiava.
Abriu a porta e sentiu a invasão de emoções. Foi tomado pelo júbilo. Deixou-se possuir pela cor, pela alegria, pelos gestos, pelo doce andar,pelo sereno encantar. Estava ali a sua maior realização: acabava de conceber a maior obra de arte da história da criação.
E Deus descansou.
Tinha acabado de nascer a mulata.
Docemente amena era o entardecer feito da cor cobre oferecida do mel de rosmaninho que cobre e adoça a mulata.
O universo tornou-se perfeito com o sonho que Deus lhe ofereceu.
Dedicada às mulatas, todas. Em especial as minhas, da minha tribo.
Em especial as minhas neta Alice e sobrinha Amali.

Homo broncos bronco 2.0: o tuga


Desconsigo entender a versão homo bronco 2.0...

-Não vê que estou com um carrinho com uma criança e como tal tenho prioridade no lugar (ou na bicha)?
(há mulheres ou velhos que nem se atrevem por medo, a pedir o lugar que lhes pertence por direito, mas eu não pertenço a essa classe).
-Não tenho espelho retrovisor! Resposta que recebi de alguém que me viu subir com esforço com um carrinho e uma criança para um autocarro.
-Então feche-se em casa e atire fora a chave. Peça para sair quando aprender a ser bem educado. Respondi eu.
Mais respostas do género recebi de alguém num supermercado onde estava com a mesma criança e o mesmo carrinho a quem mandei educadamente ir aprender regras de como viver fora da selva onde este homo broncos, muito bronco, se sub-desenvolveu.

Uma forma de perceber o desenvolvimento de um país é por exemplo, andar num transporte público, ou ir a um lugar comprar papas de aveia para uma criança e observar o comportamento da espécie como qualquer antropólogo social.
Por cá está-se a tornar uma odisseia vergonhosa para qualquer cidadão da espécie, quando se confronta com a sub-espécie (os politicamente correctos e que acham que comi azedinhas podem-se já apagar da lista de leitores).

Os transportes: são quase inexistentes ao final de semana, sobretudo fora da capital, não têm acesso para quem ande de cadeiras de rodas ou carrinhos de bébés, não existem horários nas paragens, as paragens são sujas e as pessoas nestes lugares...essas... são a face visível da depredação: a inexistência quase absoluta de cortesia, educação, simpatia e respeito.
Não são culpados? São são! E muito!

Que problema temos em implementar o tal Acordo Ortográfico? Como diz o povo “assim como assim” o português já pobremente se fala e escreve. Nem se cultiva. Lêem-se pasquins e os escritores famosos escrevem romances de cordel. E o enredo continua por este caminho…por aqui se mede também o desenvolvimento e para tanto basta ver e ouvir as pessoas a falar e escrever.

As empresas contratam apenas a recibos da falsa cor da esperança, pagam despudoradamente abaixo de qualquer valor capaz de dignificar a vida humana e o ambiente nos locais de trabalho são lâminas onde nem faquires gostariam de treinar números de circo.
Proliferam as ofertas de “workshops” e conferências de gente que engana meio mundo vendendo ideias e sonhos falsos:
- “vais ser feliz a fazer uma coisa qualquer que nunca fizeste porque te fizeste de vítima no passado e não estás presente no agora”.
Recomendação final destes seminários: recicla-te e descobre que és a “última bolacha do pacote” em dia de fome.
E quem busca um pouco de alegria e felicidade não a encontra aqui (quase que podia jurar)!
Por aqui também se mede o desenvolvimento do país...

Quarenta e um anos se passaram e estamos no ponto de não retorno. Os que saem jovens do país não voltarão. Receberam formação cá, fruto do investimento de todos, vão ter filhos onde quer que sejam bem acolhidos e, vão dar os seus melhores anos produtivos como profissionais e como seres humanos por terras além desta jangada à deriva. E fazem bem. Além do mais não têm mesmo alternativas.
Os mais velhos como eu também obrigados a sair além da Taprobana ficam-se para morrer pela Ilha dos Amores, como recompensa pelo muito que deram e nada receberam da sua Ítaca.
Voltar? Só por motivos maiores.

Pelo que sei os que não voltam já nem saudades têm a não ser da família,dos amigos e do clima. Se vingam fora de portas podem comprar o vinho alentejano e o queijo que é exportado.
Não sinto saudades dos cenários com que me confronto de cada vez que regresso.
Os ciclopes e os lestrigões ficaram todos pela Ítaca.
As alternadeiras de serviços conseguiram o que queriam e sabiam o que faziam:
-deixar Ítaca mais pobre para que nada tenha que dar. E é perante este mal que quase me torno Poseídon em ira.

O que nos sobra é gente mal educada, sem princípios e sem vergonha, de ser gente medíocre, pedinte e pequena igual aos seus governantes? Como Camões nos conhecia bem...

São os mercadores de Veneza que proliferam, são os vendedores de banha da cobra que vingam, são os vendilhões do empreendedorismo (como detesto a palavra) que singram.
São todos aqueles que se escondem atrás da máscara do chefe possidónio que nada sabe sobre pessoas e sobre a vida. Sabe de rácios e de excel. E às vezes pouco sabe do trabalho que executa.

Em todos as áreas as pessoas entregaram-se ao “deixa andar”.
Pensar para quê?
Este é o terreno fértil para o domínio dos cíclopes. A terra é de cegos.

Não podíamos estar pior. Somos todos adultos sofredores dos piores síndromas: de défice de atenção (superior à dívida pública) e de Estocolmo (adoramos os nossos carrascos).
Neste mercado de prostitutas e chulos naturalmente que há “nichos” de gente séria e boa e, para esses, vai a minha total admiração.
Ou são tontos e deles será o reino dos céus junto dos anjos a tocar harpa, o que pode ser um final do mais aborrecido que há, ou são quase crentes num segredo escondido. E vão ter um desilusão.
Sinto-me miserável com as alternativas e nem sei em qual dos grupos me insiro.

Souberam fazer tão bem as coisas que aos poucos, durante quarenta e um anos, empurraram um povo inteiro para dormitórios/guetos e bairros de cimento, feios, envelhecidos e descaracterizados, sem árvores, sem beleza, com poucos transportes e degradados (como se estivéssemos nos anos 60).
Este, subjugado por horas de trabalho a mais, perda de horas de vida em bichas de trânsito infernais e horas de lazer a menos, por meia dúzia de tostões e muitas dívidas, com poucos estudos, pouco acesso a livros, a cultura, a música, às artes em geral, perdeu-se e os que mandam conseguiram actualizar o embrutecimento de um povo envelhecido, triste e hoje totalmente desamparado.
Que gosta de si assim mesmo. Porque nem pensa, nem quer, nem sonha em mudar.

A espécie homo broncos, incluindo o exemplar que “não tem espelho retrovisor” deveria estar em extinção, mas é afinal o contrário do rinoceronte branco. O primeiro existe como capim na Gorongosa. O segundo está extinto.

Sinto-o andando nas ruas fora da capital, linda, com os escaparates cheios de prémios de turismo e, turistas a tropeçarem nos sem abrigo, nas obras, na sujidade e no ar desiludido, vencido, deprimido e deseducado deste povo que aguenta, passivo e submisso sem possibilidades de sair desta roda maldita com 1001 sombras de cinzento. Muito cinzento.

Ítaca torna-me sempre mais rica porque me dá viagens. Mas ela própria se vai empobrecendo.
No fim ainda não a entendo. Talvez Kavafis não tenha razão e nunca a venha a entender por mais viagens que cumpra.

Ainda agora regressei e já tenho vontade de me juntar ao IS como kamikaze. A minha intolerância à estupidez mantém-me ferrenha adepta do estalo e da contestação.

A proliferação da semente maligna e com patente, que não cede lugar ao desenvolvimento e, tem no seu programa apenas a actualização da versão do tuga broncos 2.0.

Que começa por quem os quer assim, para mais fácil reinar. Porque essa versão da espécie permite o seu próprio “downgrade”.