Têm presente os
baloiços de jardim com uma prancha de madeira comprida, onde se senta uma
pessoa numa ponta e outra no outro extremo e, balançam-se para cima e para
baixo?
Se quem está em baixo
não se levantar do chão, a que está em cima, lá fica, refém das alturas.
Voltei a ver o filme
Hair e a chorar. Depois consumi a banda sonora com deleite, como milhares de
outras vezes.
Que têm vocês com
isto? Nada. E tudo. Mas só para quem estiver interessado.
Que tem isto a ver com
o dia de ontem? Tudo. E porque gosto de partilhar através da escrita, deixo
aqui em imagens e palavras um pequeno retrato do dia de ontem, que me encheu a
alma. Com pequenas coisas, simples e gente linda. Como a vida pode ser plena só
assim.
Foi dia de grande
manifestação no país e foi dia de festa no quintal - na praia, em jeito de
despedida do Verão. No quintal- na praia surpresa! o dia foi abençoado por sol,
calor e apenas uma brisa soprada por anjos que diziam: venham, juntem-se, partilhem
o que sabem, o que fazem, estejam em paz. Sejam.
A noite foi tão serena
que até os anjos pararam de soprar a brisa para ouvirem a musica dos anjos que
passaram pelo palco. Muitos e bons.
De mulheres grávidas
de luz, a bébés já a irradiarem luz, com Adão(s) e Eva(s) lindos, se compôs o
quintal/praia mais lindo do mundo.
Com trabalhos
artesanais plenos de criatividade e feitos com amor, muita musica entregue com
alma e, o coração colocado na partilha de saberes, de conversas sobre política,
amor, novas formas de relacionamentos e novas formas comunitárias e
democráticas de estarmos na vida e na sociedade, o quintal vem dando à luz um
projecto cheio de sentido.
De ruptura com o
sistema: com as crenças politicas, religiosas, emocionais, sentimentais,
intelectuais, materiais. Ligadas ao ser espiritual que somos todos. Sem medo de
ser.
Levou-me ao
filme/musical Hair que tanto me influenciou quando tinha 17 anos e para sempre.
Aquela geração teve fibra, teve graça, teve garra, teve alma, teve coração.
Despiu-se de preconceitos, de género, de lixo e tornou-se uma referência sobre
o que pode ser uma sociedade livre.
Que não precisa de
governos, de trokas de soberanias, de economias baseadas em dinheiro e consumo.
A troco da venda das almas. Em nome do lucro, da ganância e com eles a miséria
de milhões.
Quem partilha a festa
no quintal/praia é gente neta desta geração. Sem guerra no Vietnam mas em guerra
por todos os cantos do mundo. Esta bonita gente desprendeu-se como pode e sabe,
com convicção de querem uma alternativa. Perderam o medo, deixaram de obedecer
e tentam ser felizes.
Através da união
simples, das trocas, entreajuda, do respeito e da partilha dos afectos. Com
garra e orgulho por serem quem são. Como a geração Hair/hippie.
Ontem preferi ficar a
experimentar e a partilhar esta vivência. Positiva e de metamorfose. De muita
conversa e interacção.
Estive no centro da
esperança, de uma experiência de vida que já nasceu. Com garra.
Na praia houve uma
manifestação anti troika e sobretudo anti-sistema. Anti políticos e governantes
que roubam. Roubam-nos dinheiro, não nos roubam sonhos. E ontem sonhei muito. E
dancei mais.
De trocas fez-se o
dia. De noite se fez música e dança. Muita, vinda de musicos excelentes.
Ninguém queria deixar aquela manifestação.
É garra de mudança que
falta, aos portugueses, em massa. Para se levantarem do assento do baloiço onde
estão sentados e fazerem cair quem se julga lá em cima, sem tempo, para sair do
poder. Há alternativas, sim!
Ontem na praia, aconteceu
uma jam session sobre o mundo que gostaríamos e, que pedimos nas manifestações.
Este pode vir a ser melhor.
Levantámo-nos do
baloiço no chão e começamos a deixar os “outros” cair.
Venham daí mais quintais
de amor. Parabéns à organização e aos voluntários que são todos os
participantes.
O “Hair” power voltou
a ser uma vaga. De uma altura enorme. Do tamanho das vagas no mar de ontem na
Cova do vapor.
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