quarta-feira, 30 de abril de 2014

07 Junho, Biblioteca Manuel da Fonseca às 16:30, Apresentação do meu livro Traços de Momentos e Viagens



Na Biblioteca de Santiago do Cacém, na terra onde estudei...pouco. Onde consegui com sacrifício(uff...uma canseira) chegar à viagem de finalistas do 11º e do 12º (sim, 2 viagens!!). No AlenTejo é assim. Era engraçado juntar a malta que esteve na viagem...Fica aqui o repto à
TriBU dE Além Tejo em especial. E todos os que se queiram juntar.
Aqui vou eu de livro debaixo do braço. Vamos deixar que uma amena tarde alentejana aconteça entre amigos com risos, musica, poesia e palavras nesta apresentação do meu Livro Traços de Momentos e Viagens.
Com o amor que nos une e a alegria que partilhamos sempre que estamos juntos.

Em especial à tribU com talentos para as artes. Quem tiver um instrumento musical ou/e voz que se queira juntar, é bem-vindo. A tarde será das artes e para as artes.

Conversas de morte “Porém eu não sei viver sem. Fim” (Chico Buarque na canção: “ela faz cinema”)



Hoje encontrei-me de novo com a morte. De um jovem, de um velho. E ontem também de alguém mais velho e no dia anterior de um amigo com meio século de vida. Ela é assim. Apanha-nos de surpresa. Mas não falha. Faz doer. Nuns dias vem vestida de cores jovens, noutros é uma crisálida que acabou de se transformar, noutras uma pomba.
Que sei eu sobre a morte? E sobre a vida? A resposta é…nada. Cada dia que passa, menos ainda. E quando me cruzo com ela morro pasmada. E de entorpecimento. Porque nada sei sobre ela. É uma desvantagem minha. Sei que vai chegar para mim e para os outros mas não quero. Dói-me quando chega. Quando nos cruzámos ela compôs um ar desdenhoso e arregalou a sobrancelha. Só uma. A outra ficou preguiçosamente deitada no seu canto arredondado. Sabe que não terá problemas. Vai sempre ficar por ali, no seu canto. Arredondadinho. É que é assim que também vamos ficar! Arredondados na volta com fim, da vida.
Sentei-me e esperei que ela se sentasse. Começamos a conversar a contragosto da morte, claro. Ela estava ali a cumprir a sua missão, levar gente para casa, seja lá onde for. Como um táxi mas sem contador. Todos lhe devemos pagar a devida corrida.
Achas que é no céu questionou-me? Foi a minha vez de levantar as duas sobrancelhas em sinal de espanto. Que sei eu? Ando aqui como num carrocel, sem saber o destino das voltas que dou, ou porque razão as dou. Nem sequer entendo porque por vezes desce a cantos escuros e sombrios, noutras faz-me ficar no ponto mais alto e luminoso. E de repente dá uma cambalhota que só com sorte não perco o equilíbrio. Para quê, podes-me responder? Sempre com o ar desdenhoso, retorquiu-me, não precisas saber. Vais saber. Mas…e se te disser que continuas no carrocel? Gostas da ideia? Já olhaste para as árvores? Nas várias estações elas ganham o sorriso das folhas e das flores e noutras estações deixam-nas cair para se renovarem. Gostas tanto de teatro então ouve cá… gostavas que te dissesse que a peça se vai escrevendo eternamente? Chegas à plateia, ou com sorte tens lugares no balcão ou ainda como alguns privilegiados ficas nos camarotes e ganhas um passaporte. Com ele sais e vais ao cinema, jantar fora num restaurante gourmet com amigos janotas, beber uns copos, casar, ter filhos, fazer um cruzeiro, usar as pessoas para cresceres, ser rejeitado vezes sem conta, rejeitar outras tantas, sofrer por amor, descobrires quem és e o que te dá prazer fazer, experimentar o que te traz alegria, amar muito, chorar e rir, chorar a rir e depois regressas ao teatro para ver a cortina descer com o passaporte devidamente carimbado. A peça não pode continuar sem fim não achas? Ou quem sabe pode…
E então? Já estava a ficar impaciente e continuava sem respostas. Então o quê? Achas que é pouco? Olha se queres saber eu farto-me de trabalhar a toda a hora. Sou muitas e em várias partes do mundo. Mas isto cansa. A morte é eterna e vive sempre a trabalhar. Dá trabalho digo-te eu que sou ela.
Finalmente via-a sem o ar trocista e desdenhoso de superioridade. Olha lá morte, mas tu não precisas de ter esse ar, tu sabes que mandas, quando e como queres. Nós temos medo de ti, por isso tens todas as vantagens. Gostava muito de perceber a razão de fazermos tudo o que disseste e mais algumas coisas como ficarmos doentes, inválidos, incapacitados, dependentes, às vezes deprimidos, vazios, sem sentido, desesperados e sem perceber o porquê de tudo isto e de repente tu chegas e…
Voltou o ar escarninho à sua expressão sem rosto: achas que não significa nada? Está bem, problema teu! encolheu os ombros e nem me olhou. É uma experiência digo-te eu. Como vocês têm a mania de fazer uns com os outros. Usam-se e estão sempre a tentar provar qualquer coisa. A alguns corre bem. São importados para a vida dos outros. Outros escolhem caminhos infelizes e sós. Escuta-me, vocês aqui é que escolhem as mil vias alternativas. Eu só sou avisada para vos servir de acompanhante num sonho do sono, numa esquina na rua, numa onda, numa corda que aperta ou onde tiver de ser. E só ouço choros e lastimações. Sempre a mesma coisa: porquê? Era tão bonzinho, é uma injustiça, ainda tinha tanta vida pela frente, não merecia…Deviam aprender a ser menos aborrecidos. Já sabem desde sempre que vou aparecer…
Aborrecidos? Mas achas tu que é possível não sofrer quando tu vens buscar algum de nós? Como?
Não te posso responder. Só te posso dar umas pistas. Por exemplo tu és uma velha e uma nova também, cheia de carimbos no teu passaporte. Se te vier buscar não vais feliz? Vá lá responde!
Claro que vou, respondi-lhe de forma insolente. Se puder até gostaria de te pedir que não me leves inteira para onde quer que me carregues. Deixa cá o meu corpo para fazerem cinzas e estas que sejam levadas pelo vento e entregues aos mares já que continuo sem saber para que fim sirvo.
Então cuida de teres uma vida que não seja mesquinha, nem sem graça. Não sabes se não vais nascer de novo quando te levo e desconfio que vais continuar assim, sem saber, pelo menos por mim…
És uma verdadeira egoísta, disse-lhe desistindo da conversa. Ganhar-me-ia sempre pensei com a certeza de um pensamento claro.
Não queres saber quando é que te venho buscar? Ou o que deves fazer para nos momentos em que estás no ponto alto e luminoso prolongares a vida e não deixares que te apanhe? ou quando estás na descida deixares de sentir que ela se alonga?
Estás a falar a sério? És capaz de me dizer a tua razão de ser? A razão de vivermos com a morte a interferir nas nossas vidas?
Ahh apanhei-te de novo a fazer as mesmas perguntas. Que cansativa que és…não te vou responder e vou continuar o meu trabalho de ceifadora. Essa é a minha razão de ser. A tua é a de continuar bem viva, de olhos bem abertos para não tornares a tua vida monótona e pequena. E olha que posso demorar a passar pela tua sombra. Faz o que puderes está bem? Assim quando te surpreender não te vou encontrar em lamúrias nem me chamas cínica. Não tenho muita paciência sabes? Bem, eu tenho de vos levar mesmo, por isso mais vale que façam a viagem bem dispostinhos. Agora até já têm costumes sociais novos. Falam com aqueles que eu levo nas páginas das vossas redes. Já não interessa, mas vocês é que sabem e escolhem esses rituais de consolo.
O meu segredo está e estará sempre na surpresa. Talvez o segredo da tua vida esteja em fazeres coisas importantes pelas pessoas que te rodeiam, seres amável e aprenderes outras tantas coisas importantes até eu te vir buscar. Mas podes não fazer nada disto e eu venho na mesma de surpresa.
Virei-lhe as costas zangada, nada conformada, descrente, aborrecida, lamurienta. O amigo tempo visitou-me e confirmou-me: deixa-me passar que eu ajudo a sarar o que for preciso e a encontrar-te com quem és se for essa a tua vontade. Quando te encontrares com a tua surpresa, vais limpa e refrescada. E com muitas matérias aprendidas. Confia em mim. Era amável este tempo que se apresentava num fato catita de ramagens coloridas e primaveris. Sorria benevolente.
A morte já tinha desaparecido no horizonte e levava com ela alguém com todas estas características, jovem, velho, criança.
Hesitei. Pode ser que tenha tempo para confiar no tempo, vou tentar aprender mais, estar atenta, desapegar-me do que puder, pensei eu limpando os meus botões. Tarefa de uma vida inteira onde não posso perder tempo. Para que seja importante talvez. Com sorte pode ser que a peça vá até ao fim da eternidade. Até ser surpreendida.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Amor pela dança - Dia mundial da dança



Disseste que deixaste de estar apaixonado por mim? Li-te quando me olhaste sem ver, que a vida para ti se tornou longa de mais ao meu lado. É o fim da coreografia que criámos juntos. Como é que é possível? Anteontem o nosso amor era puro. Ontem seguíamos à risca as palavras do coreógrafo e nem sabíamos a força que este amor tinha.
Como, porquê? Para onde vais? Não me deixes aqui caída, esvaída em dor. Esqueci-me de te procurar e vieste esbarrar na minha solidão. Fizeste entrar um acorde de uma valsa em sol e aconteceu a dança da vida nas nossas vidas. Esqueci-me que esse ritmo já me tinha feito doer, demais. É o que faz, subjugar-nos à grandeza do amor.
Mas é o poder ilimitado da subjugação à sua torrente que fez de novo a lava da vida sulcar a corrente do meu sangue. E agora partes? Assim? Que posso fazer? Deixar que a torrente de lágrimas me faça prisioneira de ti? Que me paralise a vontade de correr para me salvar? Não pensaste em mim? No que vou fazer sem ti? Não consigo entender nada para além da nossa coreografia. Só ela me faz dançar. Só ela me faz vontade de viver e morrer.
Só ela me faz correr de nota em nota para compor a vénia final. Se com a música demos cor à nossa alma, a nossa dança tornou-se a espiritualização dos corpos. Sempre que nos possuímos. Eu fui e sou pertença tua. Matas-me de dor e deste-me vida sempre que voluptuosamente me carregaste no teu ritmo.
Agora queres que siga sozinha? Vou fazê-lo. Vou encontrar a morte e o renascimento num canto do espelho que me conduz a ser uma força. Quase que te percebo a descrença na minha metamorfose…sorris amargo. Eu sorrio de volta. Se me fizeste perder, saberei encontrar o caminho para voltar ao ritmo com que me embalei antes de te ganhar.
Para onde vais? Não sabes? Fui apenas mais uma a abraçar o teu ritmo. Vais prosseguir por aí a guiar outras não será? Também não quero saber. Vou só saber de mim, depois de morreres no meu coração. Se morreres. Se não morreres, rendo-me, aceito e voo para aprender uma nova dança. Quem sabe um dia, encontro-me de novo, de rosto e corpo com a paz. Na sombra do teu altar.
Psst, mas sempre que sintas que te faço falta, visita-me. Em mim, por ti a saudade e o sonho tornaram-se infinitos.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Uma quinta na imaginação



Construí a minha quinta béville
onde planto personagens,
com as palavras que gosto de semear
cozinho estórias,
parto em viagens
saboreio enredos,
como beijos cereja que gosto de espalhar
desosso finais nem sempre felizes
colho os frutos da minha loucura
nos gritos de dor, de sangue ou de encanto
nos silêncios feitos de cores
e fazer derramar
o que não pode ficar contido nem algemado
na terra grávida da minha imaginação

Obrigada a quem entra no coração do meu celeiro e aproveita as melhores colheitas

Mais uma fornada de contos prontos para avaliação. Este é um momento verdadeiramente importante na minha vida de enamoramento, encantamento e entrelaçamento com a literatura.
Obrigada a esta maravilhosa gente da minha tribo pela paciência, pelo trabalho, pelas correcções, pela inspiração, pela entrega, pela amizade.
Preciso sempre de ajuda e esta gente a um pedido meu...salta para a béville, acarta cestos de frutos maduros e ajuda-me a torná-los em doces receitas.
Que seria de mim e das minhas estórias sem estas extensões da minha vida e da minha imaginação? Eu sou todos vocês na minha loucura. Obrigada

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Tornar a nascer a 25 de Abril






"Não é possível dizer-te sempre coisas novas,
nem te é necessário ouvi-las.
O que importa é que sejas sempre novo,
que te desprendas cada dia do homem-velho,
e que a cada dia tornes a nascer." Santo Agostinho






Prometeram a festa do homem novo. Feita da promessa de uma vida em terra nova.

A a vida na pele de homens e mulheres era sofrida e muitos ofereciam-na como sacrifício pela liberdade.
Em troca da livre expressão e da livre escolha.
Em troca de terra. Em troca de casas com casa de banho e água corrente.
Eu trocava o retrato do Américo Tomás nas costas da professora na sala de aula, as reguadas, os ponteiros na cabeça e as orelhas de burro.
Em troca do progresso e de deixar no passado a filosofia “pobretes e alegretes”. A filosofia de mentes castradas e carregadas de preconceitos conforme fora ensinado, inculcado e moldado.
Sem polícias políticas, sem a morte de filhos em guerras em nome de um império sem sentido. Sem prisões e sem torturas.

Eu não sabia do homem novo que estava para nascer. Estava prestes a celebrar 10 anos mas já tinha sofrido vários tipos de descriminações na escola e na rua. E trocava-as por um homem novo que não descriminasse.

O “povo” vivia com dificuldades sem fim à vista. Oprimido, medroso, sem queixumes nem “pieguices”. Sabemos porquê!
Vivíamos abaixo das possibilidades da liberdade e de uma vida desafogada.
Não sendo este povo constituído na sua essência ou espírito da massa rebelde ou revolucionária, não teve dúvidas em ficar na rectaguarda dos militares e tornar-se a vanguarda ao sair a gritar liberdade, no dia em que acordámos com um homem novo numa terra nova.

Foi o que eu testemunhei quando saí para ver as colunas de Chaimites. Alegria, lágrimas, lenços a abanar. Também silêncio e preocupação. A incerteza do desconhecido gerava temor.
O meu avô falava-me de um homem novo, de uma terra nova. Ria-se de alegria. «Caíu o fascismo minha filha» disse-me. «Vem aí a democracia». Era um homem atento, culto e alimentava o sonho de me ver crescer em liberdade.

Nas minhas terras em África o sonho também era viver em liberdade numa terra nova feita por e com homens novos. 
Vi toda a família refugiar-se e amontoar-se como podia ao ser obrigada a vir para Portugal, na maior aflição que o coração pode viver. Fugidos, sacudidos das suas terras de uma vida inteira.
Ninguém os queria. Nem cá, nem lá. Eram colonizadores, eram exploradores, eram colonizados, eram gente comum que nenhum mal fazia e queriam apenas viver em paz e liberdade nas suas terras.

Num processo de fuga de guerras ainda hoje mal entendidas e mal explicadas. Até hoje, não expurgadas.
Já não entre irmãos tugas e turras, mas entre irmãos locais. Mas sempre irmãos.
Começadas pelos “turras” como eram chamados quando de lá saí muito pequena. Os turras lutavam pela independência dos seus territórios. Dos irmãos da “metrópole”.
Estes últimos odiavam de igual modo ir combater aquelas guerras e deixar que a terra se turvasse com mais sangue do mesmo vermelho. E não ganhavam nada com aquela bestialidade. Nem o dinheiro chegava.

Cá e lá, cada um conseguiu vencer a sua batalha. O Império caíu. O fascismo foi vencido, as batalhas fora de portas terminaram. 

Iniciou-se cá uma guerra interna política, económica, financeira e social. Ainda hoje não vencida.
Lá, os movimentos de libertação venceram as batalhas. Iniciaram lutas internas. De sangue, política, económica, financeira e social.
Numa guerra ainda hoje não vencida.

Hoje cá e lá, voltámos a ser pobres economicamente e eu não estou nada alegrete. Nem sequer tenho a alegria de ter liberdade de escolha.

Continuamos abaixo das possibilidades, porque numa «economia que sendo feita pela comunidade que são os homens» esta foi desbastada, desbaratada e roubada pelos falcões, abutres e chicos-espertos que se preparavam traiçoeiramente para rasgar a bandeira da conquista do homem novo, na terra nova.

A 24 de Abril de 74 rasgava botões da bata da escola quando me insultavam por ser diferente. A 25 de Abril de 2014 continuo a rasgar o que for preciso para me comprometer com a integridade e com a honestidade da promessa. 

Junto daqueles que acreditam que o esforço dos que me antecederam é a vanguarda do homem novo, numa terra que quero nova. Porque esta tornou-se cancerosa e só lhe resta um caminho, a extirpação das células malignas.

Nesta minha terra livre cá de onde o meu tetravô saiu de navio para ir para a minha outra terra lá, casar com a outrora escrava e depois colonizada negra do musseque, e, fez nascer filhos pele açafrão, olhos cacau e sangue vermelho, saúdo o 25 de Abril e os homens e mulheres que o fizeram.

Tenho todas as razões para buscar um novo paradigma. Em liberdade e por conseguimento do 25 de Abril. Para tornar a nascer como um homem/mulher novo. Nem que seja de assalto, num Chaimite, nas escadas da AR.