Na espuma dos nossos dias,
“Nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão
presente no mundo” Albert Camus
Enquanto um número infinito de factos terríveis acontecem, nós observamos o
jogo nas nossas consolas.
Enquanto estamos sentados nos sofás a ver a troca de cadeiras e promessas
vazias da campanha eleitoral.
Enquanto celebramos as vitórias do clube do coração e que nos traz sorrisos.
Enquanto fazemos contas para chegar a meio do mês com pão na mesa e ficamos
menos saudáveis por comermos mal.
Enquanto não sabemos se podemos tirar 1 semana de prazeres simples na casa
de praia da tia, para nos alienarmos do que nos rasga a alma.
Enquanto…
As guerras acontecem com o intuito de destruir para que posteriormente algumas
corporações se instalem a reconstruir e a fazer lucro.
As eleições acontecem para que uma dúzia beneficie e troque favores, limpando-se
mutuamente como bons irmãos ligados pelo crime. As leis que coloquem o cidadão
no centro das decisões não se fazem, porque somos apenas poeira.
A globalização está prestes a acabar como a conhecemos, porque vai ficar
tudo tão caro, nós ficaremos sem poder de compra e deixará de ser rentável termos
bananas da Venezuela a €0,99 contra as da Madeira a €1,99.
Que fizemos para ter isto? Primeiro fomos escravos dos vampiros que nos
sugaram a alma. Agora mudaram as roupagens aos escravos e os vampiros sugam-nos
o sangue… da alma.
Vejo este jogo brutal!
Coitadinhos que somos. Esta frase tão portuguesa e que serve para tudo…
Em Espanha uma mulher na política que se governava bem, foi assassinada por
uma cidadã para quem a vida se tornou ingovernável. Sem dinheiro, sem apoio,
sem trabalho, sem luz. A única luz vinha de um TGV na sua direcção. E esta
mulher-cidadã, com contas, com filhos, com casa, com vida para se cumprir,
decidiu matar quem representa que lhe matou a vida. E iniciaram uma campanha
publicitária “desculpem, mas tive de matar o ministro”.
Enquanto isto, nós coitados acompanhamos o jogo nas nossas consolas.
Enquanto isto tudo acontece, só me apetece ausentar da minha consciência e enquanto
no mundo, escrever.
Cartas de amor para equilibrar o sofrimento. Rir da inércia colectiva. Chorar
pelo fardo que não posso carregar.
Coloco-me a questão: será que se oferecêssemos mais rede uns aos outros
mudaríamos alguma coisa?...
Escrevo com pena de nós. Coitadinhos que somos como diria o Kalimero.
Mas com uma certeza, desculpem, quando sair vai ser limpinho, desisti de reincarnar.
Sem comentários:
Enviar um comentário