quinta-feira, 31 de julho de 2014

Quo Vadis Nobel da Paz?

Crimes contra a humanidade, Pita Shoarma, Falafel (judeu), Hummus, Couscous (muçulmano) carneiro assado com batatas e vinho tinto (sangue de Cristo)

2014 calendário gregoriano, Cristão, para facilitar o relacionamento e a comunicação entre as nações.
1435 calendário Islâmico, 5775 calendário Hebraico, 2557 calendário Budista, 2070 calendário Hindú.

O mundo global, religioso, envolvido em guerras religiosas. A cometer crimes atrozes, semelhante contra semelhante.
Em nome de Deus. Ou de interesses. Ou no interesse que interessa colocar Deus no meio das guerras.
Ou tudo estaria resolvido há muito tempo. Desde sempre. É esta a História da Humanidade.
Fim da História.
  
Só vou escrever porque me apetece mas não há mais nada a acrescentar à História.

Como ser social respeito as ideias e as religiões dos outros. Respeito igualmente ideias políticas. Mas não respeito as ideias contidas nas religiões.

Excepto a que respeita os seres vivos. Que é uma filosofia de vida e tem 2557 anos mais coisa menos coisa.

As religiões são por inerência de ideias, políticas, logo não existe a dicotomia política versus religião.

Respeito os que têm fé e nessas ideias querem ficar, mas tenho o direito de nas ideias não acreditar.

Defendo o direito de cada um acreditar e professar as que entender.
Ou acreditar em qualquer sistema político para encontrar a sobrevivência como seres individuais com necessidades colectivas.

O que as religiões professam são ideias e ideais políticos. E são manipuladoras por isso mesmo.
E também alienam por essa razão.

A fé?
Ah a fé serve para os seguidores cegos como carneiros, com um pedaço de lã a cobrir-lhes os olhos e a bloquear o lugar onde o cérebro deixa de produzir efeito sobre o pensamento.

Os direitos pertencem apenas aos seres com vida. Às ideias não!

Nem nunca os sistemas políticos e religiosos com as ideias subjacentes religiosas, poder-se-ão nos dias de hoje com tudo o que já experimentamos conhecemos e sabemos existir, ao longa da nossa História comum, sobrepor-se ao direito de existência da Humanidade.

Seja em que lado for do muro.

O Hamas, no Estado Palestiniano que eu defendo, é um grupo religioso/com ideias políticas num Estado, apoiado por interesses, não tem o menor respeito pelos direitos humanos. Nem dos seus concidadãos nem dos outros. Sim, usa o terrorismo como arma, usa os seus cidadãos como carne para canhão. Como a Al-Qaeda. Não defende os seus cidadãos que não querem a guerra. Mas que morrem diariamente por causa da absurda guerra religiosa.

Tal como desrespeitam os direitos humanos os Estados da Síria, do Irão, da Arábia Saudita, do Afeganistão, do Paquistão, do Iraque. Por interesses religiosos.  

O Estado de Israel, que eu defendo, ontem um grupo que precisava de se defender de inimigos ardilosos e cruéis que sempre quiseram aniquilar judeus, é hoje um Estado político com um território por causa de uma religião, e, que celebra o regresso aos tempos tribais com o atear do ódio e da xenofobia. Sem respeito pelos direitos humanos.

Em 2014, Estados políticos, compostos por gente irracional, perigosa, xenófoba, com ideias e convicções religiosas irracionais baseadas em Escrituras, vindas não se sabe bem de onde, trazem como consequência agressões, violações, repressão, ódios, racismo e várias formas de violência que tornam a terra um lugar inóspito. De regresso à barbárie.

Com uma programação insustentável em ódio mútuo. Em nome da religião. A tornar a paz e as negociações impossíveis.

Por esta razão nunca aceitarei que religiões sejam a base para construir ideias políticas para os Estados.

Chega de barulho. Chega de guerras e morte em nome de religiões.
Ou em nome da apropriação de recursos naturais. Ou de outros interesses.
Chega de extremismos religiosos. De terrorismo religioso, da xenofobia religiosa que nos querem impor. Represento o infiel para os extremistas muçulmanos. A abater.
Do lado xenófobo israelita têm que atacar para se defender em nome de um Deus que os escolheu.
Como ser humano represento todos.

De que lado estou? Do lado da vida. Não quero religiões obscurantistas a roubar-me o meu bem mais precioso.
A vida em paz, num mundo plural, diverso e de direitos humanos conquistados após largos períodos de guerras e xenofobias e Santas Inquisições.
Se é ideia do mundo muçulmano, religioso, o de me retirar direitos impondo o seu véu, de me chamar infiel e por isso ser aniquilada, irei parar à fogueira.
Se Israel se defende atacando desproporcionalmente em nome de uma religião que fala em povo escolhido, eu faço parte desse povo e, prefiro a fogueira a acicatar o ódio.

Esta guerra é uma guerra com interesses obscuros mas que nos envolve a todos.

Estou do lado onde não estejam religiões a dividir. O meu Deus não precisa que o temam.
Se existe. E esses que não acreditam, também têm direito a existir.
O mundo não precisa de ideias políticas/religiosas que ataquem os direitos humanos.
Utopia?
É uma ideia! Que acarinho com fé.
Nos homens de paz. Religados apenas à vida. Com direitos.
Enquanto me massacram e eu nada posso fazer vou ali sentar-me à mesa das negociações num templo budista, com os meus amigos muçulmanos, animistas, cristãos, judeus, hindus. Somos todos servidos da mesma ementa. A da paz entre os homens.



domingo, 27 de julho de 2014

AXé Mama África

Aqui mergulhei de pé e o rio fez-se abundante na minha alma dizendo-me que esta
é a minha terra prometida. Para nascer e ser feliz.
Para onde quer que vá, levo-te no pulsar do coração. Escuto-te o respirar mesmo quando me és distante.
Vento peço-te por favor, leva mantenhas minhas à mãe me fez prometer nunca deixar de ser uma filha presente na sua alma.
O teu nome é feminino e as mulheres que nascem do teu útero um dia deixarão de ser vistas como feias larvas. Ver-se-ão metamorfoseadas em borboletas de mil cores.
Connosco as conversas nunca terão fim.
«Meu verbo, meu sujeito» e eu teu directo complemento.

És poder, energia, força.
És Axé Mama África!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dia do Escritor, 25 de Julho.


Parabéns em particular aos meus amigos que escrevem. 
Com magia. Aos escritores
que me fazem acreditar em magia. 
E com as palavras transformam o meu mundo 
num mundo mágico

Quem escreve acredita em magia.
Faz da magia a sua vida.
Transforma a vida em magia.
Dá vida mágica às palavras.
Sem magia as palavras não cabem na vida.
Sem a magia das palavras a vida não cabe em si

Obrigada escritores


Leitores ofereçam vida longa aos escritores. Leiam. 
Recebem uma porta aberta para uma vida sã. 

Aberta para sonhos, utopias e jardins. Para a magia.

Resgate- Mini conto

Mini conto dedicado aos amores profundos que dão sementes em particular. Aos que entendem a linguagem do amor em geral.

Pintura do meu sobrinho Sidney Cerqueira


Resgate

Violentado no coração? Raptado e prisioneiro em paredes sem limites. Sem chão nem tecto, surdo e cego.
Da voz que sai, chegam ecos de murmúrios perdidos. Emotivos. Sem nexo. Sem razões.
Desconhecido passado, presente e futuro e no entanto prisioneiro. Sem amarras. Amarrado sem ilusão quanto ao dia da libertação. Que pode ser nunca. Quero que seja…nunca.

Afrodite movimentava-se pela sala e dançava. Eu hipnotizava-me pelo movimento das ancas redondas e generosas. Voltava aquele lugar para lhe confessar a minha cegueira. E ficava mudo. Apenas a sabia ouvir e ver.

Como se pode ficar assim? Começa com um pensamento macio. Tornou-se insidioso. A deusa do amor a essência da beleza feminina derramava-se para mim.

Bebia por um copo redondo um líquido escuro. O copo era o símbolo da fertilidade que transmitia. Queria ser o útero onde ela derramaria o seu ser divino.

Tudo o que sabia era que tinha sido atingido por uma seta, no meio do peito. O coração começou por bater acelerado, depois passou ao descompasso, continuando selvático, prosseguindo desordenado, sem padrão.

Percebi a pureza e o poder de não ter fronteiras. Uma explosão pura de energia natural. Era amor.
A mais poderosa, natural e ilimitada fonte de energia.
Acabava de ficar preso, enclausurado, sequestrado, atirado contra as paredes de uma prisão que me iria fazer sangrar. Eu bem lhe conhecia as feridas.
Sabia que voltariam um dia. Em pouco tempo sabia que tinha sido sequestrado.

Sei que quando acontece a explosão, entramos numa piscina profunda. A água vai-nos cobrir até começarmos a engolir demasiada, descontroladamente até ao afogamento.
Lutamos mas depois surge a rendição. Tenho medo, porque sei que vou amar voltar a amar.
Ela. Porquê ela?
Não tenho razões. Tenho todas as razões. Uma estranha que se entranhou. Conheço-a bem.
De sempre. Sem pensar.
A explosão desta energia invadiu e não me dá espaço para ter um único pensamento.

Estou preso na mente, no coração, no espírito, na alma, no corpo.
Vou querer deixar-me afogar sabendo que afogar-me no seu colo é o maior prazer da vida. Porque sei que a prisão vai ser o meu fim.
No final nunca irá haver resgate.

Os meus sonhos começaram por ser poesia em imagens.
Ela sabe o que é amar antes de mim e provavelmente vai amar outro para além de mim, se me amar alguma vez. E que me importa?

Na imperfeição que é como ser, deixa-me mudo perante a perfeição com que me enche a mente, o coração, o espírito, a alma.
Será imperfeita como eu?
Só quero assegurá-la que se me dedicar um olhar, abraçá-la- ei nos meus braços imperfeitos para que não tenha medo.
Não a deixarei como um homem vulgar e imperfeito pelas suas imperfeições. Serei eu perfeito a amá-la.

Nem sei se me dedica algum pensamento dos seus momentos, mas eu ocupo o meu dia pelos dois, a pensar em mil imagens e palavras que a façam sorrir e olhar para mim. Se só um sorriso lhe conseguir arrancar, sei que na prisão ficarei para sempre.
Sei que ficará a saber que a felicidade é estar nela, na loucura do seu sorriso que me faz ficar louco.

Ela deusa, olhou-me, sorriu-me um dia, pensou-me por segundos talvez.
Ó deusa bendita porque sou digno do teu olhar?

Derrama o teu segredo sobre a forma de amor no meu coração aprisionado. E não me deixes ser resgatado. Viverei para dar vida ao mar morto que é a água da minha vida. Através da tua vida. Viverei para a tua. Para a vida que de ti vem.

O meu sonho, a minha utopia, o meu jardim derramou nova vida em mim. A semente do amor. Viverei para ambos sem querer ser resgatado.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Vida Limpa

Amo a vida. Embora seja curta, não a quero pequena.
Não sei quanto do tempo dela se demorará em mim.

Tenho obrigações e responsabilidades para com ela.
Não me autorizaram a vir cá apenas a passeio. Numa reunião sem power points explicaram-me «vai, demora-te no que te fizer feliz, torna curtos os momentos difíceis, encerra-te nos teus sonhos, liberta-os, liberta-te dos constrangimentos, passeia-te, viaja-te, encanta-te, ama, experimenta-te».
Deixaram-me porém um proibimento, no momento das recomendações finais, «Não podes em circunstâncias de risco navegar à vista».

Eu e a vida, por sermos amantes vítimas de amor inexplicável, intangível, tenho a responsabilidade e o compromisso de honra para com quem me deixou um legado e para com quem vou legar a minha passagem.
Pende uma pena de castigos forçados se incumprir o delito de cuidar.

Uma das minhas responsabilidades é de perturbar o sono, o descanso de quem estiver ainda a deixar que a vida “se navegue à vista” nos dias que passam, com um mar cheio de tormentas. O leme tem de ser resgatado por cada um de nós. A bússola tem de ser descoberta no meio do sal trazido pela espuma, limpa e colocada no centro do convés da jangada. Para orientação de todos.
Mesmo que haja quem bata palmas quando vê homens seus serem tragados por uma atormentada e inesperada onda.

Tudo e o que quer que seja que afecte este local comum, afecta cada um de nós, as pessoas que amamos, a vida que queremos e que amamos.
Diz-me intimamente respeito. E a cada um de nós. Sim, e a ti que estás a ler, também.

Vivemos circunstâncias que tanto nos podem descontinuar como raça, como criar saídas com as maravilhosas potencialidades da evolução na mão, para transformarmos o nosso mundo e a nossa vida.

Qual foi afinal a parte que ainda não entendemos sobre estarmos perdidos, desorientados, desregrados e em profundo desvario?

Cada dia sou sacudida e atordoada pelas ondas que sacodem e varrem o convés da jangada, através das guerras instaladas em todos os cantos, dos ódios, das mentiras, das manipulações e desinformações.

Em particular neste canto da jangada, neste país em puro estado de abandono, enjeitado como um filho de uma mãe sem sentimentos, os políticos e os “banksters” desregulados, atingem os píncaros com os desvarios e dislates.

Até já nem os “sensuro”. “Bloquiarei” esta gente da minha vida. Já não os “tulero” mais. Entraram em modo “fodidos para sempre” e em descontinuação.

Acabo de receber um sinal vermelho para desinstalar o programa no meu chip «erro no programa» e
«espécie em descontinuação».

Ultimamente e com frequência recebo no meu cpu a mensagem «foda-se, mas que merda é esta? Evoluíram até aqui e agora estão a foder tudo? Foda-se!! Criem uma solução e já. O tempo está-vos a ultrapassar…»

Já comecei a fazer a minha parte, conforme as instruções que recebi. Cada um de nós tem essa obrigação.

Porque a vida é a arte permanente de criar soluções. E eu não me vou deixar afundar sem fazer aquilo a que me propus no meu contrato com a vida. Sair daqui pela porta principal.

E desculpem qualquer dislexia.

Prometo voltar à escola, quando ela existir, para receber um subsídio qualquer, que me segure, e, conserte os erros de fabrico.

John Hunter professor e uma lição sobre a Paz. Feita com alunos, pelos alunos. Os que vão herdar o mal que estamos a deixar. E eles estão a criar as soluções. Obrigada. Desculpem a nossa irresponsabilidade, a nossa incapacidade de encontrar soluções.
De vermos o caminho comum, feito de bondade e de solidariedade.

http://www.ted.com/talks/john_hunter_on_the_world_peace_game










segunda-feira, 14 de julho de 2014

“O amor tem todos os direitos e nós todos os deveres”

“O amor tem todos os direitos e nós todos os deveres”
Hoje cruzei-me com a lua. Tinha-se pintado de vermelho para se ir encontrar com o sol às escondidas.
Disse-me ela antes de se anunciar ao seu amor, «Deixamos que a estrada nos leve. Começamos no beco do nada a acabamos na rua lajeada de amor.
Escolhemos viver na luz que emprestamos um ao outro porque encontramos o que de nós resta e tornamo-nos maiores do que imaginamos.
As nossas almas não se encontram a percorrer nenhuma estrada para lugar nenhum. Nós é que percorremos uma estrada na sua direcção. Um dia cruzar-nos-emos. Connosco próprios.
Nenhum caminho deveria ser proibido nem ter limites. Nem planos. Para partirmos melhor do que chegamos. É esse o nosso dever.
A cada novo caminho descoberto esculpo um raio que espreita entre as nuvens para renascer amanhã. Junto do meu sol. Assim me transformo eternamente.
Imaginei, criei, senti no coração antes do novo raiar. Apaixonadamente. Para este meu ser, fiz-me nascer forte»

Hoje a lua pintou os lábios de vermelho para se ir derramar sobre o sol.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Rapidinhas da espuma dos nossos dias

Factos e Conselhos,


Somos uns pobres escravos e os pobres escravos não devem querer estar em guerra contra os outros pobres escravos.

Porém os nossos donos que fazem o dinheiro querem de nós ATENÇÃO para vender o que precisam, como forma de nos controlarem:

-vender produtos que não precisamos e cujos prazos de validades são curtos
-vender o dinheiro através de empréstimos

E chegámos aos conselhos para reverter os factos a nosso favor:

Desliguem-se as tv´s
Desliguem-se os telemóveis,
Deixe-se de comprar o que não for essencial,
Guarde-se o dinheiro debaixo do colchão,
Não prestem atenção ao que vos estão a vender as grandes empresas
Saiam do sistema sempre e dentro do que a cada um é possível
Fiquem em estado zen
Comprem nos mercados locais, directamente aos pequenos empresários fora das grandes marcas
Ou agricultores,
Ou nos mercados de trocas

Agradeçam às marionetas chamadas pelas grandes corporações para se tornarem políticos (e nós também os temos por cá num rácio per capita bem elevado) porque afinal
estão eles a fazer o papel sujo por nós,
Mas não lhes dêem atenção já que eles não a devolvem. É-lhes indiferente que reclamemos ou não, que tenhamos condições de vida ou não.
Paguemos-lhe com a mesma moeda amorosa:
não lhes dêem atenção nas eleições. Não votando.

Apoiem-se aqueles que fazem trabalhos para divulgar as suas ideias, os que trabalham em acções concretas para melhorar, mudar e transformar esta sociedade,
os “underdogs” fora da corrente.
E denunciem, acordem, divulguem ideias, fujam do controlo desta sociedade onde os psicopatas reinam.

Se eu podia viver sem estes conselhos?
Poder podia, mas não seria certamente uma underdog de rabo a abanar porque lhes dou algum trabalho.
Aos torturadores da Santíssima Inquisição das Corporações informo que já durmo com algemas, açoito-me diariamente e uso um cilício.


Futebol e circo

A História ensina: duas grandes Nações com tanto em comum a começar pela enorme Língua Portuguesa. 

Chegamos e humilhamos há 500 anos. Deixamos um sistema operativo cheio de vírus. Fomos corridos e o Brasil começou a auto humilhar-se. 

Hoje a "maioria pacífica irrelevante" (palavras de Brigitte Gabriel activista libanesa) continua cá e do outro lado do Atlântico a se auto-destruir. 
A deixarmos que nos alienem a vida, o pensamento, a educação, a saúde, a liberdade.

Que seja pela derrota num relvado por um povo que já foi em tempos uma "maioria pacífica irrelevante" e alienada pelo nazismo, a mostrar a força do valor do trabalho dos mosqueteiros de Alexandre Dumas: " Um por todos e todos por um". 

No desporto ou nas mais diversas áreas da vida, uma civilização só vence com um colectivo livre, coeso e forte. 
A começar pelo pensamento individual.

Precisamos como de pão, de existir como seres que pensam. 
Para não deixar existir quem nos quer alienar com futebol e circo. 
Cá e do outro lado do Atlântico.
Está na hora de reconstruir com a sabedoria que vem da destruição.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Continuação do Mini-conto Amêndoas doces de travo amargo

Entrelaçado,

«Vai que eu sigo-te. De olhos fechados».

Entrelaçado em ti pensei eu sem dizer, num nó que nos enlaça, sem a esperança de ser quebrado. Nunca.
Segui-a. Era esse o destino.

Íris de olhos cor de girassol a nascer, doce como uma manga madura, semente da terra que a plantou na minha vida, tinha sido adoptada por uma família europeia.
Filha de um militar na guerra Ultramarina, o pai tombou ferido de morte num ataque a uma aldeia. O seu colega de pelotão, sabendo da estória de amor do pai com uma mulher de uma aldeia vizinha, morta no parto de Íris, prometeu tomar-lhe conta da filha até que a morte o viesse acompanhar para outro nascimento.

Íris sentia-se reconhecida pelo gesto do seu pai adoptivo que lhe oferecera uma vida tranquila. E um retrato dos seus pais.
Guardava o retrato dos seus pais sentados encostados a um imbondeiro. A mãe de chapéu largo que deixava entrever o rosto negro de feições suaves onde os olhos se destacavam. Mel como os dela.

O pai deitava a cabeça no colo desta mulher e percebia-se a expressão de amor rendido. Um soldado em paz pelo amor daquela mulher. Um rosto delicado, olhos verdes, e cabelo quase branco. Não se surpreendia pelo que unira aqueles dois seres protegidos pela imensa árvore que os acolhia.
Se um dia tivesse um encontro com o amor, pedir-lhe-ia que fosse para si o tinha sido e, por ela intuído, através daquela fotografia o dos seus pais.

Era o que Íris lhe dissera desde que se descobriram naquele laço onde as suas vidas se uniram, no dia em que os seus corpos se chocaram. Naquele choque as almas entrelaçaram-se.

Agora velava-lhe a leveza das cinzas antes de se despedir dela. Antes de a entregar à terra junto do imbondeiro onde os seus pais tiraram o único retrato da sua vida. Na caixa com a máscara embutida.

A máscara que era agora o meu destino, embutida na minha alma. O resto da minha vida seria coberto por uma máscara sem alma.

Ali naquele silêncio, ao abrigo daquele imbondeiro, junto da sua protecção, recordava os últimos dias da minha vida acabada, quando Íris partiu.

Ao chegarmos ao destino da nossa viagem, a minha família ansiosa por finalmente a conhecerem, estava na estação de comboios.
Descemos e uma onda de abraços invadiu-nos. Percebi que Íris tinha todos conquistado.
Conquistava mais do que eu sonharia num pesadelo.

Os dias corriam suaves como os olhos de Íris. A barriga com um novo ser crescia como os troncos de uma buganvília. Seguros, majestosos, vivos e oferecendo-se ao vento para lhes embalar as folhas.

Íris insistia em irmos embora. Via-a cansada, pouco participativa nas conversas e quando lhe perguntava como se sentia respondia-me que eram coisas da gravidez.
Agora agarrado ao seu diário conhecia também o que de mais íntimo sentia e abandonava-me às lágrimas que me sacudiam o peito morto.

Senti sem que me dissesse, que estava muito incomodada mas não percebia as razões.
Decidi que era hora de regressarmos a nossa casa. Talvez precisasse de recolhimento no nosso ninho e não de estar com a família que agora também era a dela, mas não deixava de lhe ser estranha. Parecia ser essa a sua vontade.

Sentíamos que as nossas mãos dadas comunicavam tanto quanto as nossas vozes. Por isso nos seguíamos de olhos fechados e mãos dadas.
Nessa tarde ao regressar a casa do meu irmão onde estávamos, encontrei um silêncio pouco normal. A música estava sempre presente. Não nessa tarde.

Entrei chamando Íris. Nenhuma resposta. Sentia-me nervoso e com uma angústia que me fazia sentir abandonado. Entrei no nosso quarto e vi Íris na posição fetal, abraçada ao ventre, e um rasto de sangue a envolvê-la. Não respirava.

Caí ao seu lado abraçando-a e gritando o seu nome. Não dei pela entrada do meu irmão. Abanou-me e gritou o meu nome. Olhei-o sem o ver e o seu olhar fez-me despertar de horror. Apontava-me uma arma. Ergui-me perante o horror dos seus olhos injectados de sangue.

Sem entender, sem consciência do vazio que se abria nas nossas vidas avancei para ele. «Mataste-a? o que se passou, o que se passa contigo?» quis saber louco de raiva.
«Rejeitou-me a mulher mais linda que vi, a mulher que mais desejei na vida! Essa cabra só te queria a ti» soltou num urro selvagem.

Não me lembro de nada mais para além de me ter atirado a ele sem medo da arma que me apontava. Cego de dor, de raiva.
A luta durou pouco. A arma disparou-se. Ou disparei-a eu. Ou ele virou-a para si. Preferia que o tiro tivesse vindo na minha direcção.

Como numa das muitas tragédias que representei, o fim era desgraçado para todas as vidas que nela participavam.

O diário de Íris ajudou a minha absolvição em tribunal. Contava os avanços que meu irmão lhe impôs. De como ela o odiava, rejeitava e sem medo o enfrentava. E de como por amor a mim silenciava o seu tormento.
Sabia que eu tentava dar-lhe a família que tinha perdido e via-me feliz. Foi resistindo às suas tentativas de aproximação até ao dia infeliz em que o meu irmão, ousando tocar-lhe a fez levantar a mão e bater-lhe.

Na manhã seguinte, quando saí para ir comprar os bilhetes de comboio para regressarmos a casa e fazer-lhe a surpresa, aconteceu o intolerável.
A catástrofe do fim da sua vida. E da minha.

Como um dia Shakespeare tinha imaginado e expressado um mundo intrincado de emoções na natureza humana, a minha vida representava a arte, ou quem sabe a arte apenas reflectia sabiamente a natureza dos humanos. Não voltaria a representar. Nem a viver.

Acabei de escrever o nó que me estrangulava a garganta e a alma.
No silêncio junto do imbondeiro a brisa que me secava as lágrimas trazia-me a voz de Íris. Trazia-me o seu cheiro. Devolvia-me o seu olhar. Emprestava-me a carícia da sua mão na minha. Num laço que nunca se desprenderia de mim.

Jules e Íris viveram na vida entrelaçados para a eternidade.


Link da entrevista na RTP/África

claro que espero fazer chegar os meus traços a muita gente :)
deixo o link da entrevista que dizem que é "melhor do que falecer" :P

Obrigada TriBU pelas reacções de carinho que vou tendo.
Sem apoio de quem nos lê, ouve, partilha, vê, gosta e torna a partilhar,
as gentes das artes valem pouco.
Existimos para sermos nos outros a nossa melhor expressão.
Obrigada também por me irem lendo nos blogs e na página de contos.

http://www.rtp.pt/play/p1441/e159640/bem-vindos-2014

domingo, 6 de julho de 2014

Reciprocamente aos 50,

Nestes 50 passos por caminhos de pedras, areia fina, socalcos
e tantas, tantas pétalas
que a terra me vem oferecendo,
a minha vida em traços vincados cumpre-se suavemente

quando
em momentos de escuridão,
a luz vem sob a forma de gente
que me oferece gestos e palavras de amor e mais amor,

quando,
em momentos de sol,
gente faz-se acompanhar de batuques
com sons de alegria para acompanhar a minha dança.

Reciprocamente
quero continuar a ser
quando em momentos
que a lua desce na vida de gente que cuido,
o sol que chama para brincar
e iluminar com sorrisos.
A sombra que protege,
o vento que acaricia,
o agasalho que cobre,
o alimento que dá alento
a brisa que refresca
o amor que irradia

Amor e mais amor
me é dado,
Amor e mais amor,
continuarei a oferecer
com esta simples forma
vou cumprindo
a vida multiplicada por mil vidas
nesta vida que recebi emprestada
conquistando dela
o melhor de tudo.

Reciprocamente a morte que me aguarda,
emprestou-me
para viver uma vida real.

No dia que com ela me confrontar
agradeço-lhe na cara, rindo e dizendo sem medo,
existi sem que a tua sombra
me impedisse
de questionar tudo o que puder
e se puder, alguma coisa perceber,
de me fazer usar na reciprocidade
de me fazer viajar,

Aprendi a ganhar-te o sentido,
O único sentido que a vida tem: ser.

O meu coração pula
incontinente de júbilo,
agradecendo ao ritmo de cada um
da triBU,
nas tribUs que amo

Foi fácil chegar à leveza e doçura dos 50:
Numa forma de formas generosas com várias imperfeições e curvas que sorriem,
Barrou-se a forma com chocolate mulato misturado com pimenta das Índias,
Colocou-se em banho-maria uma taça em forma de coração e verteu-se a olho crú,
doses de imperfeições, lucidez, insanidades, ingenuidades, curiosidades sem peso, prazeres sem medida, intolerâncias, dores e preconceitos quanto baste,
Levou-se a lume brando, durante 50 anos
O bolo rico naquilo que quisermos que seja,
usado para realizar o propósito da existência,
tornou-se um bolo de prazer fácil e leve
para entreter o paladar.
Grata por me escolherem como parte da vossa passagem,

na sobremesa gourmet cheia de cores que é a vida convosco.