Na
espuma dos nossos dias,
Peço
uma aclaração…
Experimentar
a infelicidade não é uma tragédia, é experimentar a vida. Mas experimentar infelicidades
permanentes e simultâneas é dar à vida o sinónimo de tragédia.
Um
polícia existe para salvaguardar a lei e os cidadãos. Se um cidadão comete uma
infracção e for multado não lhe diz: escolhi-o mal, não se está a portar bem ou
ainda, o senhor agente é um irresponsável…
Irresponsáveis
somos nós quando escolhemos mal os nossos governantes, os potenciais
governantes que se blindam em estatutos para não largarem as rochas partidárias
como as lapas, os representantes na Europa, na Europa quem manda em nós, e até os
seleccionadores e os jogadores segundo leio.
Não
me podia importar menos com o futebol. Mas se o futebol fosse desporto como já
foi, talvez ficasse mais sensível. Como desporto nada me diz e como prática
pouco honesta de competir quando envolve a organização que conhecemos, perco
ainda mais a sensibilidade. No entanto tem algum reflexo com a vida infeliz no
nosso país. Somos cá dentro (e na selecção) fracos e sem brilho. Lá fora,
irradiamos carisma. Cá somos pisados como uvas. Lá, também.
Não
ligo desporto com a realidade política/social. Mas é inevitável não sentir
desgosto por ter de viver numa realidade infeliz no dia-a-dia, onde a mentira e
a manipulação até à fome são quem nos governa onde o único alívio cómico nesta
tragédia que vivemos se chama futebol. Que apenas alivia um pouco a tinta
borrada da máscara do mundo feio e inóspito em que vivemos.
É
inevitável não sentir desgosto ao ter consciência dessa máscara. Temos pés para
andar na cultura sob as várias expressões de arte, música, letras, teatro, em
várias profissões, na Educação, na Ciência, na tecnologia, mas não temos solas
nem chão para pisar. Nem nunca mais vamos encontrar empregos. A não ser alguns
poucos artistas protegidos. Também os do futebol. E os artistas da política.
Esses é que merecem camas feitas com espigões.
É
inevitável não ver o chão da política, do desporto, da cultura, da vida em
geral manchado de sujidade. É inevitável não querer continuar a querer escolher
entre dois males. Acabamos sempre com um mal. Que nos leva a nova tragédia.
Se
houvesse justiça poética como nas tragédias, a final seria entre duas quase
rainhas, a dona Letizia e a dona Dolores e não entre a Dona Merkel e a Dona
Dilma. Hoje estamos azeitados, mas se não mudamos de guião vou-me refugiar
louca, numa torre na Zarzuela para me esquecer que o mundo gira nos pés da
insanidade.
Somos
mesmo camelos sem aclaração!
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