Todos nascemos
Nasci aqui,
Junto das mulheres
de panos coloridos
Que enterraram o
meu umbigo
Lavado no meu
sangue
Na terra tinta
burmedjo
Voltei a nascer
quando cresci num país distante
Pintado com o
sangue dos meus antepassados
Tornei a nascer
quando o conhecimento do mundo
começou a ganhar
espaço no meu universo
Nasci de novo,
quantas vezes o amor
se encaminhou na
minha direcção
Se acomodou e
preencheu espaços sem fim
até sentir vontade
de partir para outros lugares
Nasço de novo
quando sinto vontade
de escrever um novo
conto,
um poema, um
pensamento,
Nasço de novo
quando um livro me rapta e me liberta
Nasço quando a
necessidade me leva a mudar uma e outra vez,
Nasço quando viajo
sem direcção,
ou para novas
moradas
Nasço quando descubro quem sou
quando a vida se experimenta em mim
Nasço quando descubro quem sou
quando a vida se experimenta em mim
Nasci tantas vezes
quantos os abraços que ofereci
aos filhos de
coração
Renasço quando me
fecho nos braços o meu filho
quando entrego o
meu coração no peito da minha neta
Nasço com cada
amigo novo que entra e fica na minha casa
Nasço a cada nova
descoberta de um arco-íris
que me deixa sem
fôlego
nasci e continuarei
a nascer, mil vezes e mais uma,
enquanto a terra
que o meu umbigo acolheu,
continuar a
sussurar:
vai por aí, vai,
nasce-te
as vezes que forem
necessárias
por cada momento de
encanto
faz-te ser ,
igual aos teus
irmãos
até adormeceres num
sonho
quando o teu umbigo
te chamar
num soluço vindo da
terra burmedjo
para te preparar o
regresso
a um novo
nascimento.
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